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CAPÍTULO II – O PJe E A DISCURSIVIDADE NO ÂMBITO PROCESSUAL

2 COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS

Os preceitos básicos orientadores da comunicação dos atos processuais não são rechaçados no sistema virtual582 do PJe. Cria-se, contudo, no âmbito de todos os modelos de

software, uma ficção quanto à intimação das partes. Com efeito, o artigo 5º, §3º da Lei

11.419/06 prevê o seguinte: “A consulta referida nos parágrafos anteriores deverá ser feita em até dez dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse prazo”.

O PJe não adota o sistema de enviar a comunicação da existência de uma intimação no sistema virtual – fato problematizado no tópico subsequente. Contudo, esse é um dos fundamentos essenciais da informatização do processo judicial, haja vista que o caput do artigo 5º prevê a dispensa da publicação das intimações em órgão oficial (diário de justiça eletrônico). Ademais, a contagem do prazo, de dez (10) dias, para acesso ao sistema virtual do PJe é realizada conforme os parâmetros da norma transcrita alhures. Considera-se efetivada a intimação das partes no momento em que o advogado (ou procurador) acessa o ato judicial no sistema, gerando-se, automaticamente, a certidão de intimação com fé pública, conforme demonstra o Anexo H.

Inobstante o Código de Processo Civil estabeleça que a intimação da Fazenda Pública deve ser pessoal, com a informatização do processo judicial, as intimações realizadas eletronicamente serão consideradas plenamente válidas e pessoais583 para todos os efeitos legais. Essa medida produz efeitos no âmbito da duração do processo, visto que se evita a remessa dos autos do órgão jurisdicional para o ente público, reduzindo-se, com isso, o tempo para o deslinde da causa, sem prejudicar a efetivação da ciência do ato processual.

Conforme leciona Marcelo Mesquita Silva584, a amplitude da publicidade interna viabilizada pelo PJe satisfaz ao objetivo da norma que prevê a pessoalidade da intimação dos entes que compõem a Fazenda Pública, visto que a integralidade dos documentos arquivados digitalmente poderá ser acessada de modo ininterrupto por seus respetivos representantes (ou procuradores).

582 ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Processo eletrônico e teoria geral do processo eletrônico: a

informatização judicial no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011.

583 SILVA, Marcelo Mesquita. Processo judicial eletrônico nacional – Uma visão prática sobre o processo

judicial eletrônico e seu fundamento tecnológico e legal (a certificação digital e a Lei nº 11.419/2006). Campinas: Millennium Editora, 2012.

2.1 A EXCEPCIONALIDADE DO SOFTWARE NO TRF DA 5ª REGIÃO

Com a informatização do processos judiciais, viabiliza-se que as intimações sejam expedidas pelo próprio sistema, dispensando a necessidade de publicação no diário oficial eletrônico do tribunal585.

Há duas maneiras de dar ciência às partes pelo PJe: (a) quando o advogado ou procurador acessa os autos digitais, será informada a existência de uma intimação pendente; (b) quando o advogado ou procurador acessa, no seu painel, o ícone intimações pendentes (Anexo G), ele toma ciência dos atos judiciais proferidos, conforme registra o Anexo I.

A Lei nº. 11.419/06 faz expressa menção ao uso do diário da justiça eletrônico, em seu artigo 4º, bem como dispensa a utilização deste quando há um sistema virtual que permita que a intimações sejam feitas por meio eletrônico586. Inobstante o PJe disponibilize o ícone “Intimações”, não há, ainda, o envio de qualquer comunicação do registro (e não do teor) da intimação no sistema virtual para o advogado (procurador), cabendo a este a responsabilidade de acessar continuamente o sistema virtual.

Considerando-se que, paralelamente ao PJe, existem outros modelos de sistema virtual vigentes no país, a ausência de encaminhamento do registro da intimação para o e-mail do advogado (ou procurador) – como é feito no sistema Creta, software utilizado para o processo eletrônico no âmbito do Tribunal Regional da 5ª Região – é um ponto vulnerável a ser retificado.

Sem a intimação no diário oficial e sem o encaminhamento de registro da intimação por e-mail (ou outro meio), não se privilegia a efetiva ciência das partes acerca dos atos processuais. Considerando-se a potencialidade do PJe em garantir o amplo acesso aos documentos anexados digitalmente, tal constatação pode ser facilmente sanada, para adequar esse software à efetiva garantia dos princípios constitucionais.

Cabe destacar, nas lições de Marcelo Mesquita Silva587, que a comunicação da existência de uma intimação no sistema virtual por e-mail possui caráter meramente informativo e não pode ser considerada como efetivação da ciência da parte sobre o ato judicial publicado, em consonância com o disposto no parágrafo 4º do artigo 5º da Lei nº. 11.419/06. Assim, apenas se efetiva a intimação das partes quando o advogado (ou procurador) consulta o inteiro teor do

585 SILVA, Marcelo Mesquita. Processo judicial eletrônico nacional – Uma visão prática sobre o processo

judicial eletrônico e seu fundamento tecnológico e legal (a certificação digital e a Lei nº 11.419/2006). Campinas: Millennium Editora, 2012.

586 ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Processo eletrônico e teoria geral do processo eletrônico: a

informatização judicial no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011.

ato judicial no sistema virtual, momento em que se aplicam as normas dos parágrafos 1º e 2º do artigo mencionado.

Esclareça-se, portanto, que a ausência de publicação dos atos judiciais no diário eletrônico da justiça e o não envio de comunicação do cadastro de intimação no sistema virtual do PJe dificulta, mas não inviabiliza, a fiscalização continuada588 necessária para a efetiva participação das partes processuais e o controle do processo de elaboração da norma de decisão, mormente diante do caráter eminentemente informativo da comunicação por e-mail.

Ademais, o parágrafo 5º do artigo 5º da Lei 11.419/06589 prevê a possibilidade da utilização de outros meios para a comunicação dos atos processuais, diante da urgência da medida ou da evidência de tentativa de fraude no sistema virtual. Embora excepcional, tal previsão demonstra a preocupação com a finalidade da comunicação processual, qual seja, dar ciência às partes do ato judicial praticado.

No âmbito do PJe, portanto, ainda se utiliza de recursos tradicionais para a citação das partes (demandadas) ainda não cadastradas nesse sistema virtual. O Anexo J demonstra a prática de expedientes (de intimação) por intermédio do software, bem como por envio de mandado de citação à central de mandados (inclusive com um cd contendo cópia da exordial e documentos), para viabilizar a efetivação da ciência da existência do processo.

A ausência de comunicação (por qualquer meio hábil) da existência de uma intimação para as partes processuais não se demonstra adequada com o princípio democrático e a consequente necessidade de se viabilizar o discurso no âmbito processual. Certamente, será preciso sanar tal vulnerabilidade no software atualmente utilizado no âmbito do TRF da 5ª Região.

Superado tal ponto, não remanesce qualquer óbice à garantia do princípio democrático590 no âmbito do exercício da função jurisdicional, razão pela qual se posiciona no sentido de que, também591 em relação à comunicação dos autos processuais, o PJe não macula a discursividade no âmbito judicial.

588 ALMEIDA, Andréa Alves de. Processualidade jurídica e legitimidade normativa. Belo Horizonte: Fórum,

2005.

589 ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Processo eletrônico e teoria geral do processo eletrônico: a

informatização judicial no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011.

590 LEAL, André Cordeiro. Instrumentalidade do processo em crise. Belo Horizonte: Mandamentos, Faculdade

de Ciências Humanas/FUMEC, 2008.