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2.2 Comunicação

2.2.4 Comunicação Interpessoal

A comunicação interpessoal ocorre no diálogo entre duas ou mais pessoas. Conforme afirmado anteriormente por Thayer (1973), a comunicação interpessoal envolve o âmbito físico, psicológico e sociológico do indivíduo. Esta definição é muito importante para o entendimento deste subitem, pois através do levantamento bibliográfico será possível reconhecer informações sobre estes três âmbitos relacionados com o estudo da comunicação interpessoal.

Para Kreps (1990), na comunicação interpessoal os indivíduos utilizam a comunicação intrapessoal para codificar e decodificar as mensagens. A comunicação intrapessoal é a parte obscura do processo, que ocorre internamente no indivíduo quando o mesmo está decodificando a mensagem e codificando a resposta, a qual não pode ser analisada plenamente. O que pode ser analisado é o resultado deste processo de comunicação intrapessoal, que é perceptível, em parte, na mensagem transmitida na comunicação interpessoal. É válido ressaltar que, como mostra Thayer (1973), o contexto da comunicação intrapessoal é um contexto organizado, ou seja, o sistema neurológico individual. A única organização capaz de afetar o comportamento do indivíduo é a organização do sistema psicológico. Com isto, o autor pretende alertar que a comunicação interpessoal pode sim afetar o comportamento do indivíduo, mas não diretamente. O que realmente afetará o comportamento do indivíduo é sua reorganização psicológica, sua comunicação intrapessoal. É neste sentido que Berlo (1999) comenta que o objetivo da comunicação interpessoal é influenciar o comportamento do outro, mas que ela pode produzir tanto respostas que interessam a quem produziu a mensagem, quanto respostas que interessam a quem recebeu a mensagem.

Neste ponto é importante resgatar a seguinte questão: diante destes conhecimentos, pode então o líder, por meio da comunicação interpessoal influenciar seus colaboradores a reavaliarem suas idéias, valores e crenças? De acordo com o conhecimento até aqui levantado, sim e não. Isso dependerá muito das habilidades de comunicação e atitudes comportamentais do líder. E dependerá também da abertura e importância que o colaborador dá às palavras do líder e como ele deixa que elas afetem seu comportamento. Isso coincide com o que foi levantado na teoria sobre liderança, onde se constatou que as habilidades de comunicação, o caráter e a empatia do líder são fundamentais para que ele consiga influenciar seus seguidores. Por isso que Watzlawick, Beavin e Jackson (2001, p. 48) alegaram algo fundamental para o exercício da liderança, quando afirmam que “temos que nos lembrar que toda a

comunicação tem um conteúdo e uma relação”. Com isso, os autores querem destacar que a comunicação interpessoal, além de tratar da troca de mensagens, trata da manutenção de relacionamentos. A comunicação abrange compartilhamento de informações e emoções. Segundo Meerloo (1973, p. 169), “o homo sapiens apercebeu-se cedo, no decurso de seu desenvolvimento, de que os sentimentos e desejos podem ser comunicados aos semelhantes”. Este autor, inclusive, explica como ocorre a relação comunicativa entre psiquiatra e paciente, a qual pode servir como fonte de referência para o líder ao tratar com seus seguidores, e destaca o que permite ao psiquiatra influenciar o comportamento do paciente. De acordo com ele, três fatores principais auxiliam na construção de uma boa relação entre paciente e terapeuta: primeiro, o contato inicial que determina como será o clima emocional das sessões seguintes; segundo, o que ele chama a ação do espelho, que nada mais é que a empatia constata pelo paciente; e, terceiro, a percepção por parte do paciente das potencialidades e capacidades do terapeuta. Por isso, Berlo (1999, p. 63) salienta que “quando decodificamos mensagens, fazemos inferências quanto ao objeto da fonte, suas habilidades de comunicação, suas atitudes conosco, seu conhecimento, sua condição”. Desta forma, a comunicação acaba envolvendo muito mais que somente o ato da transmissão da mensagem.

De acordo com Berlo (1999), quando uma fonte envia uma mensagem, que sempre tem uma intenção, ela pretende provocar alguma resposta no outro, no receptor. Em termos psicológicos, ela produz um estímulo a fim de provocar uma reação. Se o receptor reage ao estímulo, seja de forma pretendida ou não, a comunicação aconteceu; se ele não reagir, a comunicação não ocorreu. Conforme este autor; a comunicação pode estar associada com a mudança de comportamento ou mesmo aprendizado através do seguinte processo: o estímulo é dado (mensagem), o receptor percebe o estímulo e o interpreta (decodifica), o receptor elabora uma resposta experimental a este estímulo (analisa a relação receptor-fonte), reflete sobre as consequências desta resposta e prepara novas respostas (codifica); se o estímulo é aceito cria-se uma reação (feedback). Para que esta reação vire um hábito ou um comportamento, o receptor precisa perceber os benefícios desta mudança. Assim, o autor explica que o ser humano busca reduzir sua tensão interna, ou seja, aumentar a certeza de que suas ideias e convicções são compatíveis com o ambiente em que opera. Por este motivo, uma mudança de comportamento só será adota se ele perceber que esta mudança pode lhe trazer mais benefícios que o atual comportamento. Como também, se ele perceber que a recompensa esperada é maior que a energia necessária para realizar a mudança.

Assim como Berlo (1999), Monge (1982) também analisava a comunicação através dos processos de codificação e decodificação. Este autor se dedicou a estudar o que ele

chamava de competência comunicativa. Para ele, competência podia ser definida como a capacidade para formular e alcançar objetivos. De acordo com suas pesquisas os comunicadores competentes eram aqueles que tinham habilidade para maximizar o alcance de suas metas através da comunicação. Estas habilidades podiam ser traduzidas em habilidades para codificar, como falar e negociar, e habilidades para decodificar, como escutar e interpretar. A partir deste conceito, Monge (1982) construiu um instrumento de avaliação de competência comunicativa que tem sido intensamente usado, especialmente na avaliação da comunicação de líderes. Isto porque o conhecimento do processo da comunicação tem sido visto como instrumento que o líder possui para gerar maior influência em seus seguidores e assim ser mais eficiente no alcance de suas metas. Portanto, McKenna (2002, p. 18) salienta que o indivíduo “pode mudar significativamente a qualidade de seus relacionamentos interpessoais aperfeiçoando a comunicação”. É por isso que Mariotti (1999) afirma que o grande poder da comunicação para o desenvolvimento de uma organização está na sua possibilidade de causar reações e mudanças nos indivíduos. Alternando, assim, seus estados de neg-entropia (estado de ordem) e entropia (estado de desordem) e, assim, possibilitando a mudança.

Desta forma, gerando estímulos para a mudança interna de comportamentos, crenças e hábitos, é que a comunicação se torna uma fonte de transformação cultural. Para Sanchez (2006), o verdadeiro poder da comunicação como uma força implementadora e sustentadora de uma mudança cultural é sua capacidade de estimular e influenciar a mente e as emoções do indivíduo. Diante disto, antes de explorar mais a fundo a relação entre comunicação e cultura, faz-se necessário compreender o que é a cultura e como ocorre sua dinâmica de formação e transformação. Assim, abre-se caminho para o próximo item sobre cultura.