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2.2 Comunicação

2.2.1 Definição de comunicação

O termo comunicação é derivado da palavra latim communis, que significa comum. Outras derivações, em latim, da palavra communis sugerem o seguinte conceito: “pertencente a muitos, comungar, tornar comum, estar em relação a” (DUARTE, 2003, p. 42). Com base neste significado, Merleau-Ponty (1945) define a comunicação através da ação de partilha, de construir com o outro um entendimento comum sobre algo. Isso não significa somente o consenso sobre as opiniões, pode significar também o entendimento de que existe uma discordância sobre os sentidos. Para este autor, a comunicação é a criação de um terceiro plano cognitivo quando duas consciências se encontram e realizam uma troca. Algo se torna comum entre as consciências participantes da relação, mas cada uma carrega sua versão desse entendimento.

De acordo com Gerbner (1973), a comunicação pode ser definida como a interação social através da mensagem. Para ele, a mensagem é uma ocorrência simbólica e representacional, que possui um significado numa dada cultura e que tem por finalidade evocar significações conjuntas. Devido a isso, este autor reconhece a comunicação como um elemento singularmente humanizador, pois através dela os indivíduos utilizam as mensagens para compartilhar e obter ou construir conhecimentos sobre aspectos de sua condição humana.

Ao analisar o aspecto histórico do papel da comunicação na sociedade, é possível constatar o sentido de tornar comum destacado por estes autores. Por exemplo, para os primeiros grupos tribais, a comunicação era uma questão de sobrevivência, pois através dela os membros das tribos compartilhavam suas dificuldades ambientais e criavam maneiras de cooperação para superá-la (SOUZA, 2006). Outro exemplo é o surgimento da linguagem escrita, com ela o homem conseguiu superar o tempo e “tornar comum” informações e conhecimentos de gerações a gerações. “Foi esta transmissão de dados por meios externos, não biológicos, que permitiu à espécie humana dominar o mundo e ser uma população em aumento exponencial” (HAWKING, 2002, p. 165). Da mesma forma, a criação dos primeiros meios de comunicação de massa deu início a um processo de comunicação em sociedade,

onde instrumentos tornaram possível partilhar informações simultaneamente a um número cada vez maior de pessoas Na década de 90, surge uma das mais inovadoras tecnologias de informação e comunicação: a web, a rede. A internet permitiu que milhares de pessoas se conectassem umas às outras em tempo real, sem um centro dominante. Isso gerou a criação de diversas “tribos virtuais”, onde os indivíduos passaram a se encontrar para compartilhar ideias e dividir conhecimentos. Isso dá vida ao que Lévy (2001) chama de inteligência coletiva. O autor utiliza esse termo para se referir a um grupo de humanos, ou seja, inteligências, que, catalisadas pela interconexão do ciberespaço, tornam-se mais híbridas e se enriquecem mutuamente, criando uma base de conhecimentos comum muito mais ampla que a inicial.

Estes acontecimentos históricos da sociedade demonstram que tornar comum tem sido um dos grandes papéis da comunicação dentro do contexto social. É neste sentido de partilha que Gortari e Guitérrez (2002) argumentam que a comunicação constitui um elemento básico da sociabilidade. De acordo com Capra (2002), as redes sociais são, antes de mais nada, redes de comunicações, pois é através da comunicação que os indivíduos estabelecem os elos entre si e criam e recriam crenças e valores comuns. Para Costa (1995), a comunicação é a ligação entre os homens e, por isso, é o fator socializador do ser humano e articulador da sociedade. Já García (2004) defende que se deve partir de uma definição geral que define a comunicação como um processo básico para a construção da vida em sociedade, como mecanismo ativador do diálogo e da convivência entre sujeitos sociais.

Complementando esta abordagem, muitos autores defendem que, para conseguir a construção de uma base comum de valores e conhecimentos, a comunicação envolve um intenso processo de influência na construção de significados e de comportamentos. Dentro desta perspectiva de pensamento, Aristóteles, ao argumentar sobre a retórica, defendeu que a comunicação é, antes de tudo, um processo de persuasão. Este conceito de influência no comportamento está incluso em diversas definições sobre comunicação. Thayer (1973), por exemplo, define comunicação como o processo no qual os símbolos e sinais são convertidos em informação para determinar o comportamento explícito ou implícito do outro. Já Weiss (1969) define comunicação como o intercâmbio de informação com o objetivo de influenciar o comportamento dos outros. Para Berlo (1999), comunicação é explicitamente influência; o objetivo de comunicar é sempre produzir uma reação, é influenciar os outros, nosso ambiente físico ou nós próprios. De acordo com Maturana (2001), a comunicação é uma coordenação de comportamento entre organismos vivos. Oliver (1973) definiu comunicação como um processo que envolve dois ou mais indivíduos que afetam mutuamente suas respostas, num processo dinâmico de contínua modificação. Garcia (2006), semelhantemente, defende que a

interação comunicativa é um processo de organização discursiva onde os sujeitos, mediante a linguagem, produzem uma influência recíproca um no outro. Já Bateson e Ruesch (1984), generalizando, afirmam que comunicação inclui todos os processos através dos quais os homens se influenciam mutuamente. Baldiserra (2008), por sua vez, argumenta que a comunicação é um processo de construção e disputa de sentido no âmbito das relações.

Estes conceitos citados dão uma breve visão de como a comunicação pode ser entendida. As expressões tornar comum e influenciar comportamentos estão presentes na maior parte dos conceitos de comunicação e, a partir delas, derivam diversas outras formas relacionadas de definir comunicação. Por exemplo, Galindo (2010) determina a comunicação como o contexto onde as diferenças se encontram e podem estabelecer uma estratégia para vincular-se, cooperar e coordenar-se. Desta forma, muitos conceitos de comunicação estão relacionados com a cooperação, a ação conjunta. Alguns autores (como Gortari e Gutierrez, 2002) também trabalham conceituando a comunicação como a transmissão de significado de uma pessoa a outra, ou seja, compartilhar significados e conteúdos. Outros, como Bartioli (1992), numa visão mais administrativa, conceituam a comunicação como um elemento organizador das mentalidades individuais que promove coesão, sendo a coluna vertebral de um grupo ou organização. Outros, como Maturana (2001) e Capra (2002) relacionam a comunicação como o meio de troca entre o organismo e seu ambiente e, assim, como fonte das dinâmicas que dão vida aos organismos ou grupos.

Na realidade, embora a comunicação seja um processo natural ao ser humano, defini-la considerando toda a sua complexidade não é uma tarefa fácil. Seria simples, e também imprudente, definir a comunicação como processo onde um emissor emite uma mensagem a um receptor. Mas a comunicação não é somente isto. A comunicação é um processo que envolve duas ou mais mentalidades diferentes influenciadas por diversas situações sociais, o que a torna um processo tão complexo. Watzlawick, Bevin e Jackson (2001) explicam que, na impossibilidade de entender a mente, criou-se o conceito de caixa preta, que remete a um processo tão complexo, que, por vezes, é mais conveniente esquecer a estrutura interna e concentrar o estudo nas relações de entrada e saída. Para estudar a comunicação, faz-se necessária a adoção desta estratégia, tendo consciência que o estudo envolverá o conhecimento somente de parte do processo.

Diante desta dificuldade em compreender plenamente a comunicação, Thayer (1973) afirmava, na década de 70, que havia uma insuficiência de literatura e consenso teórico sobre a comunicação humana, o que, de certa forma, ainda acontece hoje, em face a sua importância para a sociedade. No entanto, conforme observações relatadas na época, as disciplinas

parecem desenvolverem-se na ordem inversa de sua importância para a existência humana. Portanto, Thayer (1973, p. 97) argumentou “se isso é verdade, uma teoria compreensiva e heurística da comunicação humana certamente será a última a ser desenvolvida pela comunidade científica”.

Mesmo tendo consciência das dificuldades teóricas da área, será realizado um breve resgate das mais relevantes escolas e teorias de estudo da comunicação com o intuito de levantar os principais conhecimentos desenvolvidos pela comunidade científica ao longo dos anos. Algumas das teorias enfocam mais a comunicação interpessoal, foco deste trabalho; outras, os meios de comunicação, que embora não sejam o intuito de estudo deste trabalho, também serão abordadas, pois agregaram conhecimentos importantes para o entendimento da comunicação humana.