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2.2 Comunicação

2.2.3 A Comunicação organizacional

A comunicação organizacional é um subcampo de pesquisa que passou a ganhar mais atenção da comunidade acadêmica a partir da década de 60. Nesta época surgiu o interesse de compreender melhor a comunicação para auxiliar nas dinâmicas organizacionais. No entanto, inicialmente, a academia direcionou suas pesquisas à elaboração de técnicas de gerenciamento da comunicação, o que reforçou a predominância de trabalhos na perspectiva instrumental e

deixou em segundo plano a perspectiva social. Nesta perspectiva, os pesquisadores da comunicação organizacional utilizaram os conhecimentos produzidos pelos pesquisadores funcionalistas que analisam a comunicação através da aplicação de instrumentos formais que facilitam a transferência da informação, a persuasão e o controle.

Com o amadurecimento do campo de pesquisa, os pesquisadores da comunicação organizacional começaram a considerar e resgatar os esforços de outras perspectivas de estudo da comunicação. Entre elas, a perspectiva do interacionismo simbólico, que considera as organizações representações sociais que são produzidas e mantidas diariamente através das comunicações e ritos, e também a perspectiva crítica, que defende a criação de uma sociedade com ambientes de trabalhos livres da dominação social, onde todos possam contribuir com o desenvolvimento através de uma comunicação argumentativa. Eles utilizaram também os conhecimentos da teoria da administração baseada em equipes, que se caracterizam pela pesquisa da comunicação multidirecional nas organizações, onde o papel do líder assume destaque. Assim, a comunicação organizacional tem utilizado e aplicado os conhecimentos tanto de sua área de origem, a comunicação, como também de áreas como a administração e a psicologia.

Para definir comunicação organizacional, Collado (2002) afirma que ela é a forma como acontece o fenômeno da comunicação dentro das organizações e entre as organizações e seu meio. Ele entende também por comunicação organizacional o conjunto de técnicas desenvolvidas para facilitar o fluxo de informações entre os membros da organização e entre a organização e seu meio. De modo semelhante, Cavalcante (2008) define este tipo de comunicação como as interações e relacionamentos que se estabelecem entre as organizações e seus públicos. Pesquisando sobre a comunicação organizacional, Collado (2002) postula quatro argumentos básicos sobre ela: a) que a comunicação organizacional é integral e abrange uma variedade de modalidades de comunicação; b) que ela é um sistema, que integra meios e pessoas se interrelacionando dentro da organização; c) que a comunicação e a cultura organizacional estão intimamente ligadas; e d) que a comunicação é uma responsabilidade compartilhada por todos na organização, embora alguns tenham um papel mais importante devido a sua posição na estrutura.

Para Costa (1999, p. 46), a base da comunicação organizacional é a comunicação interpessoal, o diálogo entre as pessoas no intercâmbio de opiniões, experiências e informações. No âmbito da empresa, a comunicação interpessoal representa a realidade organizacional, a cultura e a conduta corporativa. Conforme o autor, “a comunicação é o sistema nervoso central da organização”, pois é por ela que circulam todas as informações que

devem ser aplicadas ao comportamento do indivíduo na realidade organizacional. Baldiserra (2008) também considera a comunicação como lugar e fluxo privilegiado para a materialização das interações culturais e identitárias, que através do diálogo se transformam constantemente. Para este autor, um erro ocorrido na área da comunicação organizacional foi acreditar que o objeto de estudo desta área eram somente os fluxos de comunicação possíveis de planejar, de controlar. Enquanto, na verdade, a comunicação organizacional integra tanto a comunicação formal como a informal, a dialética e a dialógica, enfim toda a variedade de tipos de comunicação que podem ocorrer dentro de uma organização.

Alguns autores subdividem a comunicação organizacional de acordo com o meio utilizado para se comunicar. Por exemplo, Torquato (2002) defende que a comunicação organizacional pode ser cultural, aquela que acontece quando as pessoas praticam a comunicação face-a-face; administrativa, que é a comunicação expressa em e-mails, documentos; social, representada pelas técnicas das áreas de jornalismo, publicidade e relações públicas, ou ainda; a de sistema de informação, como banco de dados. Outros subdividem a comunicação organizacional, classificando-a com base em suas mensagens. Como faz Kuncsh (2003), que engloba como comunicação organizacional a comunicação administrativa, a comunicação interna, a mercadológica e a institucional. Entende-se por comunicação administrativa o fluxo de informação necessário para realização das atividades organizacionais; por comunicação interna, o diálogo para compatibilização dos interesses; por comunicação mercadológica, como o nome já diz, as comunicações com intuitos comerciais; e por comunicação institucional a que possui objetivo de formar uma boa imagem da empresa.

Thayer (1973) classifica a comunicação organizacional em termos de níveis em que ela acontece. Para ele, a comunicação envolve quatro níveis de análise: o nível fisiológico, relacionado com a capacidade de realizar o ato físico que envolve a comunicação; o nível psicológico; que envolve a codificação e decodificação das mensagens; o nível sociológico, que representa as crenças e normas culturais que envolvem os indivíduos; e o nível tecnológico, que é o uso de tecnologias ou meios para auxiliar na comunicação. A relação entre estes diferentes níveis de análise, como demonstra a figura 3, geram os três níveis de comunicação que acontecem numa organização: o intrapessoal, que busca entender como o indivíduo percebe e interpreta a mensagem; o interpessoal, o entendimento da comunicação entre indivíduos; o organizacional, sistemas de dados e fluxos que ligam os indivíduos.

Figura 3 - Níveis de Comunicação Organizacional Nível Tecnológico O Nível Organizacional Nível Sociológico O Nível Interpessoal Nível Psicológico O Nível Intrapessoal Nível Fisiológico Fonte: Thayer (1973, p. 115).

Ainda segundo Thayer (1973), conforme mostra a figura abaixo, estes três níveis de comunicação que ocorrem nas organizações são todos campos legítimos de estudo, mas que se sobrepõem.

Figura 4 – Um esquema dos níveis determinantes da comunicação humana em organizações. Organizacional Interpessoal Intrapessoal Fonte: Thayer (1973), p. 116.

Assim, ao buscar o entendimento sobre a comunicação interpessoal, faz-se necessário produzir uma mínima compreensão da comunicação intrapessoal, da mesma forma que o alcance do conhecimento sobre a comunicação interpessoal auxiliará num maior entendimento sobre a comunicação organizacional. Portanto, agora, será apresentado um levantamento bibliográfico sobre a comunicação interpessoal, levando em consideração este argumento proposto por Thayer (1973) e analisando, sobretudo, os tipos de comunicação interpessoal que envolvem líderes e subordinados.