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2.2 Comunicação

2.2.2 Principais teorias da comunicação

2.2.2.8 Teoria de Luhmann

A ideia principal de Luhmann (1984), que se baseia na teoria da Biologia do Conhecer, de Maturana e Varela (1997) é que os sistemas sociais servem-se da comunicação como seu modo de reprodução autopoiética4. Enquanto Maturana e Varela (1997) utilizam o conceito da autopoiesis para explicar o funcionamento dos sistemas vivos, Luhmann o aplica aos sistemas sociais e psíquicos. A comunicação é a (única) operação genuinamente social e ela é autopoiética porque pode "ser criada somente no contexto recursivo das outras comunicações, dentro de uma rede, cuja reprodução precisa da colaboração de cada comunicação isolada" explica Mathis (2008) ao argumentar sobre as idéias de Luhmann. Essas redes de

4 Autopoiese é um termo cunhado na década de 70 pelos biólogos Francisco Varela e Humberto Maturana (1997) para designar a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Segundo esta teoria, um ser vivo é um sistema autopoiético, caracterizado como uma rede fechada de produções moleculares (processos), onde as moléculas produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as produziu. A conservação da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio são condições sistêmicas para a vida. Portanto, um sistema vivo, enquanto sistema autônomo, está constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre mantendo interações com o meio, onde este apenas desencadeia no ser vivo mudanças determinadas em sua própria estrutura, e não por um agente externo.

comunicação geram a si mesmas, ou seja, cada comunicação cria pensamentos e significados que dão origem a outras comunicações.

Os sistemas sociais são sistemas fechados no sentido que as operações que produzem os novos elementos do sistema dependem das operações anteriores do mesmo sistema e são, ao mesmo tempo, as condições para futuras operações (MATURANA, 2001). Esse fechamento é a base da autonomia do sistema. Ou seja, as mudanças nas estruturas dos sistemas dependem de alterações na estrutura interna do mesmo. Logo, no ponto de vista de Luhmann (1984), a concepção de que o sistema se adapta ao meio cai por terra. De acordo com ele, influenciado pelas ideias de Humberto Maturana, o meio pode somente provocar perturbações no sistema. Por isso, o autor defende que a evolução dos sistemas vivos é resultado de mudanças geradas internamente, pois o sistema não se adapta ao ambiente nem o ambiente seleciona a configuração sistêmica que irá sobreviver; é o sistema global de interações do sistema que acaba por moldar seu próprio futuro. O relacionamento do sistema com o meio funciona através da lógica da racionalidade sistêmica, ou seja, o sistema procura neutralizar as ameaças provenientes do meio. Isso não significa, no entanto, que o sistema social não possui relacionamento com outros sistemas sociais ou com o meio; seus relacionamentos se dão através do acoplamento estrutural, ou seja, através do rearranjo feito a partir das perturbações. Mas uma mudança no meio é sempre fonte de perturbação para o sistema (Maturana e Varela, 1997).

Um conceito intrigante do pensamento de Luhmann é o fato dele considerar o homem como exterior ao sistema social, como parte do ambiente do sistema e, portanto, fonte geradora de complexidade. Para esclarecer este ponto de vista de Luhmann, pode-se usar o exemplo do acoplamento estrutural entre sistemas sociais e sistemas psíquicos. A comunicação não é possível sem a presença de sistemas psíquicos, nos quais a operação básica é o pensamento. Os sistemas psíquicos estão no indivíduo e quando acontece uma comunicação no sistema social o sistema psíquico necessita interpretá-la. Nessa interpretação diversos problemas podem surgir. Por este motivo, Luhmann considera o indivíduo como meio-ambiente do sistema social, gerador de complexidade no sistema. “Não sendo comunicação, os seres humanos - enquanto sistemas psíquicos - não fazem parte da sociedade, e sim do seu meio” (MATHIS, 2008). Sendo assim, “o acoplamento estrutural entre os sub- sistemas é o que define estrutura da sociedade como sistema social mais amplo e o que constitui a forma da diferenciação do sistema” (MATHIS, 2008).

Desta forma, Luhmann reconhece a improbabilidade da comunicação, devido a três pontos fundamentais: “1) é improvável que alguém compreenda o que o outro quer dizer; 2) é

improvável que a comunicação chegue a mais receptores do que os que se encontram presentes na situação, 3) é improvável obter o resultado desejável: o de que o receptor adote o conteúdo seletivo da comunicação como premissa para seu próprio comportamento” (LUHMANN, 1981). Conforme Mathis (2008), “Para enfrentar as três improbabilidades e tornar a comunicação provável existem meios. A língua, para reduzir o problema da compreensão; os meios de difusão, para facilitar o alcance do destinatário; e os meios de comunicação simbolicamente generalizados, para facilitar a aceitação da comunicação”. De acordo com Luhmann, o principal desafio da comunicação é vencer o problema da dupla contingência, onde o Ego (emissor) não sabe como Alter (receptor) reagirá em resposta a uma dada mensagem ou ação de Ego. Alter fará a opção de resposta através da análise das várias alternativas de atuação e fará sua escolha baseado num sentido (o que possui e o que não possui sentido) e em fatores como normas, valores, metas.

Apesar da improbabilidade da comunicação, Luhmann defende que sem comunicação não há sistema social, “daí a necessidade de se buscar sempre a viabilidade da comunicação, e fazer de tudo pra que ela se torne possível” (CARDOSO e FOSSA, 2008). Aqui se encontra um dos principais pontos chaves da teoria de Luhmann e um dos que mais gera dúvidas. Se a comunicação é improvável, como ela pode ser a base do sistema social? O sistema social existe e ele não pode estar baseado numa improbabilidade. Acredita-se que aqui talvez exista um negativismo excessivo na teoria de Luhmann. Não há como negar que os pontos levantados sobre a improbabilidade da comunicação costumam acontecer, mas crer que estes pontos sempre acontecem e geram a improbabilidade da comunicação, não seria crer na improbabilidade dos sistemas sociais, já que a comunicação é a base do sistema?