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5.1 Instrumentos internacionais de proteção aos conhecimentos tradicionais

5.1.5 Comunidade Andina

A chamada Comunidade Andina (CAN) é um bloco econômico formado pelos seguintes países membros: Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile e Venezuela.

Apesar de o Brasil participar apenas como país associado, entendemos ser interessante abordar, mesmo que rapidamente, algumas decisões da CAN no sentido de proteger os conhecimentos tradicionais438. A importância em mostrarmos tais decisões está relacionada ao fato de envolver alguns países megadiversos, semelhantemente ao Brasil, e ainda tratar de alguns países fronteiriços. Esse aspecto é importante para este trabalho, pois abordaremos a preocupação que temos em tratar com o devido cuidado as regiões fronteiriças, principalmente por compreenderem questões delicadas envolvendo os conhecimentos tradicionais produzidos por um mesmo grupo tradicional ou povo indígena que eventualmente, ou não, estejam presentes em mais de um país. Segundo Manuel Ruiz Muller:

The Convention on Biological Diversity (CDB) has intensified national and international debates on bioprospecting, access and benefit sharing (ABS) of genetic resources, traditional knowledge (TK), and intellectual property rights (IPR) as they relate to biodiversity. These debates in turn have yielded a wide range of political, ideological and legal positions. In this general context, Decision 391 of the Andean Community on a Common Regime on Access to Genetic Resources has become an

436 RODRIGUES JÚNIOR, Edson Beas. Tutela Jurídica dos recursos da biodiversidade, dos conhecimentos

tradicionais e do folclore: uma abordagem de desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p. 109.

437 RODRIGUES JÚNIOR, Edson Beas. Tutela jurídica dos recursos da biodiversidade, dos conhecimentos

tradicionais e do folclore...

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DE LA CRUZ, Rodrigo et ali. Elementos para la protección sui generis de los conocimientos

tradicionales colectivos e integrales desde la perspectiva indígena. Caracas-Venezuela: Norma Color, 2005. p. 8.

important landmark for international law and policy development regarding ABS, and for the protection of TK and IPR439.

A Decisão 391440 da Comunidade das Nações, ao tratar sobre o acesso aos recursos genéticos, reconhece a faculdade das comunidades indígenas, afrodescendentes e locais em decidir sobre seus conhecimentos e práticas tradicionais associadas aos recursos genéticos e seus produtos derivados, nos termos estabelecidos pelo seu artigo 7:

Artículo 7.- Los Países Miembros, de conformidad con esta Decisión y su legislación nacional complementaria, reconocen y valoran los derechos y la facultad para decidir de las comunidades indígenas, afroamericanas y locales, sobre sus conocimientos, innovaciones y prácticas tradicionales asociados a los recursos genéticos y sus productos derivados.

A decisão 486, que trata do regime comum de propriedade industrial do patrimônio biológico e genético dos conhecimentos tradicionais, chama a atenção para a obrigação do Estado de proteger os conhecimentos tradicionais. Ademais, há na decisão 486 medidas que concedem patentes para criações a partir de conhecimentos tradicionais ou com recursos genéticos, desde que se respeite o patrimônio genético e biológico dos países de origem, além dos direitos das comunidades indígenas, afroamericanas ou locais441. Segundo o seu artigo 3:

Artículo 3.- Los Países Miembros asegurarán que la protección conferida a los elementos de la propiedad industrial se concederá salvaguardando y respetando su patrimonio biológico y genético, así como los conocimientos tradicionales de sus comunidades indígenas, afroamericanas o locales. En tal virtud, la concesión de patentes que versen sobre invenciones desarrolladas a partir de material obtenido de dicho patrimonio o dichos conocimientos estará supeditada a que ese material haya sido adquirido de conformidad con el ordenamiento jurídico internacional, comunitario y nacional.

Los Países Miembros reconocen el derecho y la facultad para decidir de las comunidades indígenas, afroamericanas o locales, sobre sus conocimientos colectivos.

Las disposiciones de la presente Decisión se aplicarán e interpretarán de manera que no contravengan a las establecidas por la Decisión 391, con sus modificaciones vigentes.

Sobre a Comunidade Andina, há ainda a Decisão 523, que traça uma Estratégia Regional de Biodiversidade para os Países do Trópico Andino. Essas iniciativas de se criar protocolos ou mesmo normativas para integrar países na proteção da biodiversidade é

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RUIZ MULLER, Manuel. Regulating bioprospecting and protecting indigenous peoples’ knowledge in the Andean Community: Decision 391 and its overal impacts in the region. In: TWAROG, Sophia; KAPOOR, Promila (orgs). Protecting and promoting tradicional knowledge: systems, national experience and international dimensions. New York and Geneve: United Nations, 2004. p. 241.

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Sobre as decisões da CAN, pode-se analisar em: LOGGIODICE, Daniel Octavio Salazar. Propiedad intelectual y conocimientos tradicionales indígenas: bases para un proyeto de decisión andina. Saarbrücken: Editora Acadêmica Espanhola, 2011.

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NEMOGÁ, Gabriel. Limitada Protección de la Diversidad Biocultural de la Nación. In: CORTE CONSTITUCIONAL Memorias Encuentro Constitucional por la Tierra. Bogotá- Colombia. Corte Constitucional, 2015. p. 94.

fundamental, principalmente se verificarmos a necessidade de termos diretrizes conjuntas que envolvam países com territórios fronteiriços, seja para haver uma maior integração e facilitar a proteção dessas áreas com características semelhantes, muitas vezes com vegetações e animais similares de um lado e de outro da fronteira ou mesmo para se garantir um tratamento igual para grupos tradicionais ou mesmo povos indígenas que habitam diversos territórios fronteiriços de diferentes países, como é o caso de se garantir um mesmo tratamento para membros de uma mesma tribo indígena que habite a Amazônia brasileira, colombiana e equatoriana, simultaneamente.

5.1.6 Declaração das Nações Unidas sobre os povos indígenas

A Declaração das Nações Unidas sobre os Povos Indígenas (2007) reforça e amplia os direitos indígenas, com base no direito à autodeterminação. Como visto anteriormente, o artigo 31 da referida Declaração estabelece direitos sobre seus conhecimentos tradicionais e manifestações culturais. Vejamos o seu artigo 31:

Artigo 31

1. Os povos indígenas têm o direito de manter, controlar, proteger e desenvolver seu patrimônio cultural, seus conhecimentos tradicionais, suas expressões culturais tradicionais e as manifestações de suas ciências, tecnologias e culturas, compreendidos os recursos humanos e genéticos, as sementes, os medicamentos, o conhecimento das propriedades da fauna e da flora, as tradições orais, as literaturas, os desenhos, os esportes e jogos tradicionais e as artes visuais e interpretativas. Também têm o direito de manter, controlar, proteger e desenvolver sua propriedade intelectual sobre o mencionado patrimônio cultural, seus conhecimentos tradicionais e suas expressões culturais tradicionais.

2. Em conjunto com os povos indígenas, os Estados adotarão medidas eficazes para reconhecer e proteger o exercício desses direitos.

5.1.7 Convenção das Nações Unidas de combate à desertificação e mitigação dos efeitos