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CAPÍTULO 3 A RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL DAS PESSOAS COLETIVAS

3.1 COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA

Em 1996, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa foi institucionalizada em Lisboa. Apesar das divergências culturais entre os povos de língua oficial portuguesa existia relacionamento entre esses povos antes da formação da CPLP. A institucionalização da CPLP ocorreu “após a descolonização, passada a animosidade natural das ex-colônias para com a antiga potência colonial e renovado o clima de diálogo e o relacionamento de Portugal com os países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP)”250.

O processo de criação da CPLP ocorreu, formalmente, por meio do primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa em novembro de 1989, em São Luís do Maranhão, Brasil. O evento foi iniciado após o convite do Presidente brasileiro José Sarney aos representantes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe251. Neste encontro, o Presidente angolano não compareceu em razão da evolução do processo de paz de Angola. Ademais, “alguns sectores políticos angolanos ainda ‘não viam com bons olhos’ a criação de uma comunidade de Povos e não de Estados”252.

Na institucionalização da CPLP, em julho de 1996, a entidade possuía sete membros que correspondem aos países que foram convidados a participar do primeiro encontro dos

248GOUVEIA, Jorge Bacelar. As constituições dos estados de língua portuguesa. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2006. p. 26.

249TIMOR LESTE. Constituição da República Democrática de Timor Leste de 2002. In: MOURÃO, Fernando Augusto Albuquerque; PORTO, Walter Costa; MANTOVANINI, Thelmer Mário (organizadores). As

constituições dos países da comunidade de língua portuguesa: comentadas. Brasília: Senado Federal,

Conselho editorial, 2007. p. 859. 250

LOPES, Luís Ferreira; SANTOS, Octávio dos Santos. Os novos descobrimentos. Do império à CPLP: ensaios sobre história, política, economia e cultura lusófonas. Coimbra: Almedina, 2006. p. 8.

251 Histórico – Como surgiu? Disponível em www.cplp.org. Acesso em 10 de dezembro de 2012 às 20hs. 252LOPES, Luís Ferreira; SANTOS, Octávio dos Santos. Os novos descobrimentos. Do império à CPLP: ensaios sobre história, política, economia e cultura lusófonas. Coimbra: Almedina, 2006. p. 26.

Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa. Após seis anos, em maio de 2002, Timor-Leste tornou-se o oitavo membro da Comunidade, o que ocorreu após a conquista de sua independência253.

A partilha da língua portuguesa, uma herança histórica e cultural, demonstrou ser um forte elo para a formação da associação de oito países em quatro continentes. Apesar da localização geográfica e da quantidade considerável de membros, “esses países sempre se sentiram como parte de uma comunidade cultural” 254, mantendo ligações próximas e cooperando em diversas áreas.

Dessa forma, a CPLP surgiu com as relações, sob a perspectiva da economia, da cooperação e do inter-regionalismo, envolvendo Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste255. A institucionalização da CPLP teve como objetivo a projeção da organização no cenário internacional, como resultado das relações culturais proporcionadas pela língua comum, no meio comercial e “nas acções diplomáticas concertadas, como, por exemplo, a aprovação em conjunto do texto da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar”256.

No início da década de 90, um dos objetivos de Portugal era aumentar e consolidar sua influência política, econômica e cultural aos PALOP e mercados vizinhos no continente africano. “Simultaneamente, Portugal, ‘oferecia-se’ aos PALOP e ao Brasil como plataforma privilegiada para a entrada no mercado europeu e como parceiro com peso político na Europa”257. Naquele momento, o anseio dos africanos era conseguir apoio financeiro para investimentos industriais na África. Assim, Portugal poderia intermediar a negociação de apoio financeiro pelos países europeus na África.

A política externa do Brasil possuía duas orientações políticas: a primeira considerava que o país não precisava de Portugal ou da plataforma internacional da CPLP para entrar no

253Histórico – Como surgiu? Disponível em www.cplp.org. Acesso em 10 de dezembro de 2012 às 20hs. 254BARROSO, José Manuel Durão. Prefácio. In: LOPES, Luís Ferreira; SANTOS, Octávio dos. Os novos

descobrimentos. Do império à CPLP: ensaios sobre história, política, economia e cultura lusófonas. Coimbra:

Almedina, 2006.

255MOURÃO, Fernando Augusto Albuquerque; PORTO, Walter Costa; MANTOVANINI, Thelmer Mário (organizadores). As constituições dos países da comunidade de língua portuguesa: comentadas. Brasília: Senado Federal, Conselho editorial, 2007. p. 916.

256 LOPES, Luís Ferreira; SANTOS, Octávio dos Santos. Os novos descobrimentos. Do império à CPLP: ensaios sobre história, política, economia e cultura lusófonas. Coimbra: Almedina, 2006. p. 20.

257LOPES, Luís Ferreira; SANTOS, Octávio dos Santos. Os novos descobrimentos. Do império à CPLP: ensaios sobre história, política, economia e cultura lusófonas. Coimbra: Almedina, 2006. p. 23.

mercado europeu e africano e a corrente idealista, inspirada nas “teses luso-tropicalistas que demonstra um legado interesse pela lusofonia e pela prática cultural de raiz portuguesa”258.

A CPLP possui um Estatuto com 26 artigos, dentre os quais se destacam: o artigo 1.º que trata da denominação259, o art. 2.º que prevê o estatuto jurídico260, o art. 3.º que elenca os objetivos261 e o art. 5.º que especifica os princípios orientadores262.

Desta forma, a língua, a principal semelhança da CPLP, pode ser compreendida como base do entendimento, que deu lugar à criação da Comunidade e como fator de inserção da sociedade pós-industrial. Diante das tendências atuais à supranacionalidade “o uso do português em diferentes regiões do planeta surge como um elemento unificador e delimitador de fronteiras nas posições de cada Estado lusofalante nas suas inserções, não excludentes, em outros espaços regionais”263.

258LOPES, Luís Ferreira; SANTOS, Octávio dos Santos. Os novos descobrimentos. Do império à CPLP: ensaios sobre história, política, economia e cultura lusófonas. Coimbra: Almedina, 2006. p. 25.

259

PORTUGAL. Estatuto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. In: MOURÃO, Fernando Augusto Albuquerque; PORTO, Walter Costa; MANTOVANINI, Thelmer Mário (organizadores). As constituições dos

países da comunidade de língua portuguesa: comentadas. Brasília: Senado Federal, Conselho editorial, 2007.

p. 920: “Artigo 1.º - Denominação – A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, doravante denominada por CPLP, é o foro multilateral privilegiado para o aprofundamento da amizade mútua, da concertação político- diplomática e da cooperação entre seus membros”.

260PORTUGAL. Estatuto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. In: MOURÃO, Fernando Augusto Albuquerque; PORTO, Walter Costa; MANTOVANINI, Thelmer Mário (organizadores). As constituições dos

países da comunidade de língua portuguesa: comentadas. Brasília: Senado Federal, Conselho editorial, 2007.

p. 920: “Artigo 2.º - Estatuto jurídico – A CPLP goza de personalidade jurídica e é dotada de autonomia administrativa e financeira”.

261PORTUGAL. Estatuto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. In: MOURÃO, Fernando Augusto Albuquerque; PORTO, Walter Costa; MANTOVANINI, Thelmer Mário (organizadores). As constituições dos

países da comunidade de língua portuguesa: comentadas. Brasília: Senado Federal, Conselho editorial, 2007.

p. 920: “Artigo 3.º - Objectivos – São objectivos gerais da CPLP: a) a concertação político-diplomática entre os seus membros em matéria de relações internacionais, nomeadamente para o reforço da sua presença nos fóruns internacionais; b) a cooperação em todos os domínios, inclusive os da educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, agricultura, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública, cultura, desporto e comunicação social; c) a materialização de projectos de promoção e difusão da Língua Portuguesa, designadamente através do Instituto Internacional de Língua Portuguesa”.

262PORTUGAL. Estatuto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. In: MOURÃO, Fernando Augusto Albuquerque; PORTO, Walter Costa; MANTOVANINI, Thelmer Mário (organizadores). As constituições dos

países da comunidade de língua portuguesa: comentadas. Brasília: Senado Federal, Conselho editorial, 2007.

p. 920 e 921: “Artigo 5.º - Princípios orientadores – 1. A CPLP é regida pelos seguintes princípios: a) igualdade soberana nos Estados membros; b) não-ingerência nos assuntos internos de cada Estado; c) respeito pela sua identidade nacional; d) reciprocidade de tratamento; e) primado da Paz, da Democracia, do Estado de Direito, dos Direitos Humanos e da Justiça Social; f) respeito pela sua integridade territorial; g) promoção do

desenvolvimento; h) promoção da cooperação mutuamente vantajosa. 2. A CPLP estimulará a cooperação entre os seus membros com o objectivo de promover as práticas democráticas, a boa governação e o respeito pelos Direitos Humanos”.

263MOURÃO, Fernando Augusto Albuquerque; PORTO, Walter Costa; MANTOVANINI, Thelmer Mário (organizadores). As constituições dos países da comunidade de língua portuguesa: comentadas. Brasília: Senado Federal, Conselho editorial, 2007. p. 916.