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CAPÍTULO 3 A RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL DAS PESSOAS COLETIVAS

3.6 MOÇAMBIQUE

Conforme mencionado, depois da Conferência de Estocolmo de 1972 e das demais cúpulas internacionais sobre meio ambiente, os Estados passaram a dar tratamento

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NASCIMENTO, Januário. Quadro jurídico cabo-verdiano e as correlações entre a redacção normativa e o direito do ambiente. In: CYSNE, Maurício; AMADOR, Teresa (editores). Direito do ambiente e redacção

normativa: teoria e prática nos países lusófonos. Reino Unido: UICN Serviço de publicação, 2000. p. 112.

348LIMA, Aristides R. A Assembléia Nacional de Cabo Verde e a protecção do ambiente. In: CYSNE, Maurício; AMADOR, Teresa (editores). Direito do ambiente e redacção normativa: teoria e prática nos países

lusófonos. Reino Unido: UICN Serviço de publicação, 2000. p. 95.

349CABO VERDE. Decreto- Legislativo n. 14/97. Desenvolve normas regulamentares de situações previstas na Lei de Base da Política do Ambiente contra todas as formas de degradação. Disponível em B.O. n. 25 de 1 de Julho de 1997, 1 Série.

350 NASCIMENTO, Januário. Quadro jurídico cabo-verdiano e as correlações entre a redacção normativa e o direito do ambiente. In: CYSNE, Maurício; AMADOR, Teresa (editores). Direito do ambiente e redacção

constitucional à matéria ambiental. A Constituição da República de Moçambique351 de 2004 seguiu a mesma dogmática ao tratar da proteção do ambiente. Contudo, ao contrário do constituinte brasileiro, não tratou da responsabilidade penal da pessoa jurídica por danos ao meio ambiente.

A Lei 20/97352, que entrou em vigor em 6 de dezembro de 1997, comporta nove capítulos. A Lei do Ambiente trata dos princípios, órgãos de gestão ambiental, poluição do ambiente, medidas especiais de proteção do ambiente, prevenção de danos ambientais, direitos e deveres dos cidadãos; responsabilidades, infrações e sanções, além da fiscalização ambiental.

Entretanto, a Lei do Ambiente não representou um avanço na área penal, pois “as infracções criminais, bem como a fiscalização ambiental estão dependentes de legislação específica e de regulamentação futura, respectivamente”353.

Nos trabalhos preparatórios da Lei do Ambiente e na fase final do anteprojeto tornou- se evidente a necessidade de revisão da legislação sobre a gestão dos componentes ambientais à luz dos princípios que a nova lei iria instituir e a constatação de que a lei torna-se-ia eficaz após a necessária regulamentação354.

Nesse contexto, em 1996 teve início um Projeto de Reforma Legal, apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento/ Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUD/PNUA). Com o escopo de realizar esse projeto, três grupos de trabalho foram constituídos. Um deles é sobre os crimes ambientais, auditoria e inspeção ambiental355.

O Código Penal de Moçambique é de 1852 e, apesar de as reformas que lhe foram introduzidas, a tutela dos bens jurídicos ambientais é insuficiente para garantir uma proteção eficaz do meio ambiente.

351MOÇAMBIQUE. Constituição da República de Moçambique de 2004. In: GOUVEIA, Jorge Bacelar. As

constituições dos estados de língua portuguesa. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2006. p. 480: “Artigo 90.º - Direito

ao ambiente. 1. Todo o cidadão tem o direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender. 2. O Estado e as autarquias locais, com a colaboração das associações de defesa do ambiente, adoptam políticas de defesa do ambiente e velam pela utilização racional de todos os recursos naturais”.

352MOÇAMBIQUE. Lei n. 20/97. BR n. 40, IS 3º Suplemento, de 7 de outubro.

353CUNHA, Fernando Fidalgo da. Redacção normativa e o direito do ambiente: a experiência de Moçambique. In: CYSNE, Maurício; AMADOR, Teresa (editores). Direito do ambiente e redacção normativa: teoria e prática nos países lusófonos. Reino Unido: UICN Serviço de publicação, 2000. p. 157.

354CUNHA, Fernando Fidalgo da. Redacção normativa e o direito do ambiente: a experiência de Moçambique. In: CYSNE, Maurício; AMADOR, Teresa (editores). Direito do ambiente e redacção normativa: teoria e prática nos países lusófonos. Reino Unido: UICN Serviço de publicação, 2000. p. 157.

355CUNHA, Fernando Fidalgo da. Redacção normativa e o direito do ambiente: a experiência de Moçambique. In: CYSNE, Maurício; AMADOR, Teresa (editores). Direito do ambiente e redacção normativa: teoria e prática nos países lusófonos. Reino Unido: UICN Serviço de publicação, 2000. p. 157.

O Código Penal e as demais legislações complementares tratam, especialmente, dos crimes tradicionais, ou seja, “os bens jurídicos são tutelados numa perspectiva antropocêntrica, visando-se garantir os direitos do homem sobre a natureza e ignorando-se os deveres do homem para com a natureza e os direitos da própria natureza”356.

Assim, o conteúdo criminal da legislação em vigor encontra-se desatualizado, o que justifica a reforma legislativa para que os bens jurídicos ambientais sejam objeto da tutela penal.

Nesse contexto, em Moçambique há o “anteprojeto de Lei dos Crimes contra o Ambiente” com a estrutura que compreende: preâmbulo; capítulo I, que trata dos princípios gerais; capítulo II, que elenca as penas que serão aplicadas; capítulo III, que especifica a ação e o processo penal; capítulo IV, que apresenta os crimes contra o ambiente e o capítulo V, com as disposições finais e transitórias357.

O anteprojeto de Lei dos Crimes contra o Ambiente prevê, no capítulo I, a responsabilidade penal da pessoa coletiva, o que representa uma mudança significativa para o ordenamento jurídico moçambicano. Sobre o assunto, é o entendimento de Fernando Fidalgo da Cunha quando trata do capítulo I do anteprojeto:

Neste capítulo merece particular atenção o facto de se prever a responsabilização criminal das pessoas colectivas (art. 9), o que constitui uma inovação no sistema jurídico moçambicano, pois que, vigorando ainda o antigo Código Penal, este dispõe, no seu art. 28, que a responsabilidade criminal recai única e individualmente nos agentes de crimes ou contravenções, ou seja, vigora o princípio da individualidade da responsabilidade criminal, dando-se acolhimento à norma latina societas delinquire non potest358.

Apesar da previsão atual do Código Penal quanto ao princípio da individualidade da responsabilidade criminal, no projeto do novo Código Penal de Moçambique359 há a previsão

356CUNHA, Fernando Fidalgo da. Redacção normativa e o direito do ambiente: a experiência de Moçambique. In: CYSNE, Maurício; AMADOR, Teresa (editores). Direito do ambiente e redacção normativa: teoria e prática nos países lusófonos. Reino Unido: UICN Serviço de publicação, 2000. p. 160.

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CUNHA, Fernando Fidalgo da. Redacção normativa e o direito do ambiente: a experiência de Moçambique. In: CYSNE, Maurício; AMADOR, Teresa (editores). Direito do ambiente e redacção normativa: teoria e prática nos países lusófonos. Reino Unido: UICN Serviço de publicação, 2000. p. 161.

358 CUNHA, Fernando Fidalgo da. Redacção normativa e o direito do ambiente: a experiência de Moçambique. In: CYSNE, Maurício; AMADOR, Teresa (editores). Direito do ambiente e redacção normativa: teoria e prática nos países lusófonos. Reino Unido: UICN Serviço de publicação, 2000. p. 161.

359MOÇAMBIQUE. Código Penal- última versão em 31 de agosto de 2006. Disponível em

<http://www.saflii.org/mz/legis/codigos/cp90/>. Acesso em 28 de dezembro de 2012: Artigo 28-A -

Responsabilidade criminal das pessoas colectivas – 1.º - As pessoas colectivas, sociedades e meras associações de facto são responsáveis pelas infracções previstas neste diploma quando praticadas pelos titulares dos seus órgãos ou representantes em seu nome e no do interesse colectivo. 2.º- Exclui-se esta responsabilidade quando o agente tiver actuado contra ordens ou instruções expressas de quem de direito. 3.º - A responsabilidade das

da responsabilidade criminal da pessoa coletiva, o que representa outra mudança positiva para o ordenamento jurídico moçambicano.