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CAPÍTULO 3 A RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL DAS PESSOAS COLETIVAS

3.2 BRASIL

3.2.2 A legislação infraconstitucional brasileira

3.2.2.1 Requisitos para a responsabilização

Depreendem-se do art. 3º os seguintes requisitos: a) uma infração penal; b) a infração deve ter sido cometida por ato de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado; c) a decisão deve ter ocorrido no interesse ou em benefício da entidade278.

A infração penal caracteriza-se por um delito ou contravenção279. O sistema jurídico- penal brasileiro, da mesma forma que o alemão e o italiano, entende que os crimes e os delitos são expressões sinônimas e, do outro lado, há as contravenções penais. “A infração penal, portanto, como gênero, refere-se de forma abrangente aos crimes/delitos e às contravenções penais como espécies”280.

276BRASIL. Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. GRECO, Rogério (coordenação). Vade mecum Penal e

Processual Penal. 2. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2011. p. 779.

277

SIQUEIRA, Tânia Bahia Carvalho. A responsabilidade penal no contexto do licenciamento ambiental. In: RUIZ FILHO, Antonio; SICA, Leonardo (coord.). Responsabilidade penal na atividade econômico-

empresarial – doutrina e jurisprudência comentada. São Paulo: Quartier Latin, 2010.p. 408.

278PRADO, Luiz Regis. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: fundamentos e implicações. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel (coordenadores). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 155.

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PRADO, Luiz Regis. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: fundamentos e implicações. PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel (coordenadores). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do

princípio da imputação penal subjetiva. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 155.

A infração penal deve ser cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou do órgão colegiado da pessoa jurídica, “o que representa dizer que essas pessoas físicas possuem o domínio final do fato, que é o domínio exercido sobre a realização consciente do fato típico”281. São exemplos de representante legal ou contratual o presidente, o diretor, o gerente; e de órgão colegiado, a assembleia geral, o conselho de administração, a diretoria da pessoa jurídica. Ressalte-se que não há a “figura do empregado subalterno ou do preposto, sem qualquer poder de decisão”282.

A responsabilidade penal das pessoas jurídicas por crimes ambientais no ordenamento jurídico brasileiro, trazida pela Constituição Federal e pela “Lei dos Crimes Ambientais”, fortaleceu as medidas administrativas e civis já existentes, mas não suficientes, tornando-se efetiva. Assim, a responsabilização é dos responsáveis pela empresa que ocasionou o dano ambiental e da própria empresa como pessoa jurídica283.

Para evitar que a responsabilidade penal das pessoas jurídicas seja um “escudo” utilizado para encobrir responsabilidades pessoais, o art. 3º da Lei 9.605/98 determina a não exclusão da responsabilidade individual da pessoa física284.

A responsabilidade penal imputada à pessoa jurídica “está em concurso necessário com a pessoa física que a personifica, que a representa e que instrumentalizou a infração”285. O Superior Tribunal de Justiça, de forma reiterada, tem mantido a linha de entendimento favorável à responsabilização penal do ente coletivo, desde que haja a “imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, uma vez que ‘não

281SANTIAGO, Ivan. Responsabilidade penal da pessoa jurídica na lei de crimes ambientais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 155.

282PRADO, Luiz Regis. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: fundamentos e implicações. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel (coordenadores). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 155.

283ACETI JUNIOR, Luiz Carlos; VASCONCELOS, Eliane Cristine Avilla; CATANHO, Guilherme. Crimes

ambientais - A responsabilidade penal da pessoa jurídica. São Paulo: Imperium Editora e Distribuidora,

2007. p. 66.

284PRADO, Luiz Regis. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: fundamentos e implicações. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel (coordenadores). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 155.

285SIQUEIRA, Tânia Bahia Carvalho. A responsabilidade penal no contexto do licenciamento ambiental. In: RUIZ FILHO, Antonio; SICA, Leonardo (coord.). Responsabilidade penal na atividade econômico-

se pode compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio’”286.

Dessa forma, como o ente moral só pode ser responsabilizado quando houver intervenção de pessoa física que atua em seu nome e benefício, é imprescindível que a denúncia aponte os responsáveis: pessoa física e jurídica. O posicionamento do Superior Tribunal de Justiça aponta que o simples fato de o réu ser administrador da empresa não autoriza o recebimento da denúncia. Devem ser apontados os elementos informativos a serem aprofundados no decorrer da ação penal, a relação de causa e efeito entre as imputações e a condição de dirigente da empresa, sob pena de se reconhecer a responsabilidade penal objetiva. Ofende o princípio constitucional da ampla defesa e torna inepta a peça acusatória, a inexistência de elementos hábeis a descrever a relação existente entre a materialidade e a autoria287.

O terceiro requisito necessário à responsabilização penal das pessoas jurídicas é que a decisão do representante legal ou contratual, ou a decisão tomada pelo órgão colegiado deve visar ao interesse ou ao benefício da entidade, o que constitui especial fim de agir. Sobre o elemento subjetivo do tipo, destaca-se:

Constitui o especial fim de agir, que integra o crime da pessoa jurídica, elemento subjetivo do tipo, o qual, consoante a doutrina clássica, era designado dolo específico. Portanto, nos delitos de intenção (que requerem um ânimo adicional a vontade de obter o resultado) o aspecto subjetivo do tipo não se esgota no conhecimento e na vontade (dolo), requerendo ainda um “plus” intencional288. Desse modo, se o ato praticado através da pessoa jurídica, apenas visou satisfazer aos interesses do dirigente, sem benefícios ou vantagens para o ente coletivo, esse deixa de ser o agente do tipo penal e passa a ser meio utilizado para a realização da conduta criminosa. Porém, quando a conduta objetiva à satisfação dos interesses da pessoa jurídica, essa deixa de ser meio e passa a ser agente do crime289.

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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 564.960/SC (2003/0107368-4). Relator: Ministro Gilson Dipp. 5º Turma. Brasília, 2 de junho de 2005. DJ, Brasília, 13 de junho de 2005.

287BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 838.846/MT. Relator: Ministro Gilson Dipp. 5ª Turma. Brasília, 17 de agosto de 2006. DJ, Brasília, 11 de setembro de 2006. p. 346.

288SANTIAGO, Ivan. Responsabilidade penal da pessoa jurídica na lei de crimes ambientais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 164.

289MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001. p. 452.

Não há a responsabilização penal da pessoa jurídica se não estiverem presentes os requisitos expostos. Entretanto, há a possibilidade de responsabilização civil e administrativa pelas mesmas condutas. Apenas a sanção penal não poderá ser imposta290.