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CAPÍTULO 1. DA LITERATURA SOBRE A PRESENÇA INDIANA EM

1.3. A questão indiana na África do Sul e em Uganda

1.3.2. As comunidades indianas em Uganda

Prunier (1990) debruça-se sobre o evento que desencadeou na expulsão, por Idi Amim Dadá, dos indianos de Uganda em 197277. O propósito do autor, realizado por meio de uma pesquisa histórica, foi o de enfrentar os clichês publicados por jornalistas que mais não fizeram do que afirmar a expulsão como um ato anti-imperialista – pois expulsaria um resíduo britânico

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Ainda seguindo Dumont pode-se fazer mais um comentário crítico ao estudo de H. Kuper no que diz respeito à hipótese de que a sociedade organizada por “classes” e baseada na ideologia ocidental configura uma força que enfraquece o “sistema de castas”. A este respeito há um debate de Dumont com Ghurye (Ghurye, G, 1932, Caste

and Race in Índia. Kegan Paul. New York e, do mesmo autor, em 1950, Castes and Class in Índia. Bombay,

Popular Book Depot) sobre a hipótese de que o contexto urbano e os movimentos nacionalistas e anti-bramânicos (entre meados do século XIX e XX) teriam atacado fortemente a hierarquia, enfraquecido as noções de pureza e de impureza e as regras relativas ao alimento e à bebida. Haveria maior liberdade na escolha das profissões e o único traço mantido seria a endogamia de “casta”. A organização em “castas” se imporia, todavia, na organização dos bairros urbanos por meio de casas e instituições específicas (bancos, cooperativas, hospitais e associações), o que configuraria outras formas de solidariedade e de consciência de “casta”. Na opinião de Dumont, esta hipótese baseia-se numa noção de “sistema de castas” como “indivíduo coletivo” (:282). Utilizando estudos feitos nos anos 40 e 50 em Bombaim, Dumont mostra que as modificações advindas do processo de urbanização e que envolvem as “castas” altas em contexto urbano “não alteram o sistema em seu conjunto” (:284). Os fatores que indicam modificações no “sistema de castas” na Índia, “aparecimento e desenvolvimento de profissões modernas (...) desenvolvimento urbano, unificação territorial e mobilidade espacial nova; emancipação do econômico e desenvolvimento da economia de mercado” (:291), são compreendidos do ponto de vista da comparação que o autor se dispõe a fazer entre o sistema de valores em que o indivíduo é o fundamental e o sistema de valores em que é a hierarquia o valor supremo de ordenação. Partindo daí, diz que as novas profissões que foram introduzidas não comprometeram o sistema de trocas de funções garantido pela manutenção da distribuição tradicional das profissões. No que diz respeito aos aspectos políticos e econômicos, Dumont considera que eles ocupam um lugar relativamente secundário no “sistema de castas” - em que a separação entre estatuto e poder é o diferencial da hierarquia indiana - e por isto foram tolerados e combinados sem rejeição. Por último, tomando a mentalidade que permite a ação do renunciante “(introdução da religião de escolha e do amor, relativização da religião de grupo, moralidade subjetiva)” (:297), ele considera que antes do impacto ocidental a sociedade indiana já se relacionava com o valor indivíduo, “em suma, a sociedade estava aberta à influência ocidental por duas razões principais: o domínio em que ela se refugiava era relativamente neutro do ponto de vista dos valores, e o espírito em que ela se exercia não era absolutamente desconhecido” (:298).

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Em torno de 53.000 indianos foram expulsos em outubro de 1972. Prunier registra que os dados para 1969 apresentavam em torno de 74 mil indianos em Uganda. Eles representavam, nesse ano, 0,83% da população africana um número 7,8 vezes maior do que o de europeus. Os indianos também não eram uma comunidade homogênea, distinguindo-se por religião (hindus, muçulmanos, sikhs, goeses e jainistas) e com diversificado papel econômico.

-, realizado por um governo exótico de um ex-lutador de boxe. Também os clichês tomaram a ação de Id Amim Dadá como um exemplo de ação racista não-européia.

Para opor-se a esta idéia considerada simplista, Prunier examina a migração para África Oriental, os fatores da migração que provocaram mudanças e por último, as razões pelas quais, embora os indianos não sejam representados positivamente em toda África Oriental, vieram a ser expulsos apenas de Uganda. Para responder essa questão, Prunier destaca a particularidade do jogo político armado em Uganda, que se faz num campo de relações étnicas, culturais, políticas e econômicas distinto do dos demais países africanos que receberam indianos.

A especificidade da complexidade étnica ugandense é explicada pelo autor na montagem do sistema colonial. Os “ingleses” teriam se aliado com uma das etnias (os

Baganda), que representavam 20% da população, e com base em sua organização de governo

dominaram os 80% restante da população. Este fato criou uma oposição Baganda” x não-

Baganda, posicionando todas as etnias em relação ao Governo. Os indianos são tomados

também como uma etnia, uma vez que no contexto ugandense não há neutralidade possível frente ao ordenamento de um Estado e de uma burguesia que não é pluriétnica (como no Quênia). Ao mesmo tempo em que os indianos eram uma etnia, não tinham dimensão política e precisavam de proteção. Tal proteção existia sob autoridade do Governo Britânico e sua saída constrangeu os indianos a associarem-se às etnias minoritárias, cuja unificação estava estritamente ligada a sua relação de oposição ao Estado. Neste contexto, Idi Amim Dadá associou-se ao governo da Líbia, projetando uma política claramente islâmica de origem árabe e anti-imperialista. Por fim, Prunier levanta aspectos da personalidade de Idi Amim Dadá que favoreceriam uma idéia de cidadania vinculada à raça.

Neste contexto, os indianos aparecem como resquício do Estado colonial. Ocupando o lugar de estrangeiros, se opõem aos “Bagandas” – etnia considerada nativa que foi aliada ao poder colonial britânico – e, nesta posição, representam um bode expiatório à guerra de libertação econômica nacionalista ugandense.

A organização da família indiana não é objeto de estudo de Prunier, embora o autor lance mão de uma reflexão em torno da organização da família para explicar parte de seu argumento. Num capítulo em que apresenta o que chama de “retrato social dos indianos”, depois de apresentar dados demográficos que registram a presença indiana em Uganda no período entre 1911 e 1969, Prunier apresenta o que ele considera, “sem dúvida, o traço mais

original e menos conhecido do fundo cultural indiano” (1990: 69), qual seja, o sistema de castas. Seu estudo parte da consideração de Dumont, baseada num estudo de Pocock, que afirmou que existem castas, mas não o sistema de castas na África Oriental78. Prunier tenta responder a pergunta de Dumont sobre o que teria restado do sistema, então, em tal contexto.

A resposta de Prunier é que a ausência de castas de sacerdotes na migração teria feito com que a aquisição de dinheiro e a ascensão econômica perdesse o conteúdo religioso que a justifica na Índia. Em Uganda os indianos estariam sem castas – com exceção de uma minoria dos de castas mais baixas – porque todos passaram por modificações profissionais.

Sem explicitar os dados em que baseia sua conclusão, Prunier afirma que o único traço do sistema de castas que se mantém para todos os indianos em Uganda é o da separação: “L’Indien d’Afrique, plus encore que son parent resté en arrière, va devenir un passionné de l’exclusion. Particulièrement de l’exclusion matrimoniale (même d’une communauté indienne à láutre)” (1990: 72). O autor considera que o critério da separação é sustentado pela fobia do contato com o impuro, que, de um lado, está enraizada na cultura tradicional e, de outro, é exacerbada pela “ruína modernista dos outros critérios do sistema de castas”. Assim, sem motivação religiosa, pela ausência de sacerdotes, e mudando de profissão, para se adequar ao mercado africano, o único aspecto que sobraria do “sistema de castas” seria a separação (por casamento) justificada por uma “fobia” do contato impuro:

S’appuyer sur son groupe, commercialement et matrimonialement, exclure les autres (tout en collaborant avec eux de préférence à un rapport avec un Africain ou un Européen, si l’on ne trouve pas de partenaire économique dans sa caste) c’est la règle des rapports socio-économiques indiens en Afrique de l’Est (Prunier, 1990: 80).

A organização da família indiana em Uganda aparece no texto de Prunier antes ainda dele oferecer o contexto de relações em Uganda, no capítulo em que o autor apresenta dados socioculturais dos indianos. Não são apresentados dados sobre a família indiana em Uganda, ao contrário, parte-se da problematização do “sistema de castas” - instituição considerada a mais importante da sociedade indiana - para chegar ao casamento e, então, a única informação que se recebe é de que ele é endogâmico. O caminho é dedutivo, parte da aceitação de que há uma instituição fundamental, sem a qual a sociedade indiana não pode ser entendida. Reconhece,

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Trata-se do artigo de David Pocock (1957). “Difference in East Africa”. Southwestern Journal of Anthropology. Vol XIII, nº 4.

usando Dumont e Pocock, que esta instituição não existe em África e busca identificar o que teria restado dela para concluir que apenas um aspecto da instituição teria sobrado, aquele que define a separação por razão de casamento:

La question fondamentale, c’est souvent l’endogamie, symbole autant que cause pratique de la nonmixité culturelle. Riche, lointain, inépousable, bizarre linguistiquement, incompréhensible, non porteur des valeurs civilisatrices de l’occident, l’Indien était l’élément irritant par excellence d’un système générateur de bien des frustrations (Prunier, 1990: 94).

Prunier anuncia assim que a família indiana é um dos aspectos a serem considerados na tensão que envolve os indianos em Uganda. Como em Moçambique e diferente da África do Sul (H. Kuper), a endogamia indiana é representada em Uganda como um traço do racismo indiano. Prunier comenta que Idi Amim Dadá, no processo que resultou na expulsão dos indianos, escreveu uma carta onde destacou, além de preocupações com a postura comercial e política dos indianos, o fato deles terem feito poucos casamentos mistos. O que se sabe, portanto, é que do ponto de vista êmico ou do problema social em que Id Amim Dada e os indianos estão em relação, sendo daquele o poder, os indianos em Uganda eram caracterizados como endogâmicos e, por isto, racistas, o que os fragilizou ainda mais frente ao rearranjo da comunidade política ugandense.

O problema com o argumento de Prunier é que - diferente do movimento analítico que ele faz, frente aos “clichês da imprensa”, de enfrentar as teses que reduzem a expulsão indiana a um ato de “anti-imperialismo, fundamentalismo e personalismo”-, no aspecto da caracterização da família ele busca razões que justificam o conteúdo com que ela é caracterizada no debate político ugandense. Esta atitude ilustra dois problemas que estou sinalizando na literatura sobre indianos em Moçambique. Um problema diz respeito à forma como se estuda os indianos em geral e como se os representa fora da Índia. O outro problema seria o lugar que a categoria família ocupa na produção das análises contemporâneas em contextos urbanos.

Prunier parte da aceitação de que o sistema de castas é a principal instituição indiana. O autor chega neste ponto não nos capítulos em que está oferecendo o caráter histórico de formação do que se chama “etnias” em Uganda. Ou seja, embora considere que os indianos são concebidos como uma etnia frente ao Estado Colonial que se estabelece em Uganda, trata da “etnia indiana” em separado, descrevendo uma instituição fundamental e anterior ao contexto ugandense que a explicaria. Esta decisão, em si, afasta a possibilidade de compreender o que se

chama de indianos no contexto ugandense e, mais do que isto ainda, constrange o autor a investigar a literatura sobre os indianos na Índia. É uma decisão semelhante àquela de Rita- Ferreira para o contexto moçambicano.

Prunier, todavia, não busca na literatura sobre indianos na Índia - como fez Rita-Ferreira - a compreensão deste grupo. O autor apóia-se, ao contrário, na pergunta que faz Dumont sobre a presença do sistema de castas fora da Índia. Com esta decisão, diferente de Rita-Ferreira - que usa as informações e conclusões do estudo sobre os indianos na Índia para dizer como são os indianos em Moçambique -, toma uma indagação dos estudos sobre indianos na Índia para indagar sobre os indianos em Uganda. Esta decisão, por comparação à atitude de Rita-Ferreira, é interessante porque permite a Prunier voltar ao contexto africano para investigar nele a presença da instituição fundamental da sociedade indiana. Com este movimento de análise, afasta-se a possibilidade de compreender os indianos em Uganda como se fossem cópias dos indianos na Índia, como faz Rita-Ferreira. Este explica os indianos em Moçambique através das explicações sobre os indianos na Índia, aquele se pergunta o que resta dos indianos da Índia nos indianos de Uganda.

Se por um lado esta atitude de Prunier é mais rica pela opção de compreender o sistema local que oferece sentido à sociedade indiana em Uganda, ela apresenta outros dois problemas. Primeiro, ela desconsidera o debate entre Dumont e Srinivas a respeito da instituição fundamental indiana (Cohn, 1969; Vertovec, 2000; Bastos, 2000 e 2001). Enquanto para Dumont é o “sistema de castas” a instituição por meio da qual a sociedade indiana pode ser compreendida, para Srinivas, a unidade fundamental de compreensão da Índia são as aldeias. Este debate - que rendeu inúmeras publicações e que, tal como mostra Peirano (1992) ao analisar a Revista Contribuition to Índia Sociologist, foi o mote de constituição editorial da revista nos anos 50 - ilustra a necessidade de se colocar em questão o suposto de que o sistema de castas, mesmo no contexto indiano, seja o aspecto explicativo fundamental da sociedade indiana.

Ignorando este debate e, portanto, tomando como imprescindível um aspecto que é questionado, Prunier tenta dar continuidade à reflexão de Dumont sobre o sistema de castas fora da Índia. Aí se nota o segundo problema da escolha de Prunier. O autor aceita a hipótese de

Dumont, baseada em Pocock, de que o sistema de castas não se mantém fora da Índia79, mas não segue com Dumont e sim com Pocock. Dumont aceita a hipótese do estudo de Pocock sobre os indianos do Gujarate no “Estado Africano” de que entre eles não há sistema de castas. Todavia, considera equivocada a afirmação de Pocock, de que não há sistema de castas, mas há castas. Para Dumont não é possível, na ausência do sistema, continuar tratando de suas partes como partes do sistema . Em sua perspectiva, se o sistema é explicável na função que ocupam suas partes inter-relacionadas, sem o sistema estas partes não podem ser pensadas da mesma forma. Aí pode restar o nome, mas o sentido não é o mesmo. Dumont pergunta “como os componentes do sistema podem sobreviver a ele enquanto tais” (1997: 288). A conclusão deste autor é de que não existe sistema de castas fora da Índia, mas é também de que o que se mantém fora não pode ser compreendido por meio do “sistema de castas”.

Prunier não observa esta consideração de Dumont e, ao contrário, busca descrever o que teria “sobrado” do sistema de castas fora da Índia. Assim, utiliza a mesma idéia de sistema, partindo de um mesmo conceito que Dumont usa para descrever o que seria o sistema completo de castas. Prunier - como Dumont - parte do conceito de Bouglé que define três aspectos fundamentais do sistema de castas: a separação em matéria de casamento e de alimento, a divisão do trabalho e a hierarquia. Concebendo o sistema menos pelas relações que estabelece e mais pela composição de suas partes - o que também é motivo de crítica de Dumont - Prunier identifica aquela parte do sistema que teria permanecido em Uganda. Aí é que chega à identificação da “separação em matéria de casamento” como o aspecto que a um só tempo resulta da “cultura indiana” e afirma-a, identifica-a. O retrato sócio cultural dos indianos em Uganda é explicável a partir da aceitação de uma instituição que o fundamenta desde a Índia e que em Uganda se mantém pela prática do casamento endogâmico. Um outro problema de análise, que diz respeito à atitude do autor frente ao conceito de sistema de castas, surge aqui, mas antes recuperemos o caminho seguido até então por Prunier.

Já se viu que o autor, diferente de H. Kuper, estabeleceu diálogo com Dumont e portanto, com a crítica que este autor faz às atitudes ocidentais em relação à categoria. Todavia, ele não incorpora a crítica de Dumont ao fato de que os estudos sobre o sistema de castas tendem a cair na armadilha do sociocentrismo. A primeira parte do estudo de Dumont analisa a dificuldade do pensamento ocidental em compreender a categoria, porque a existência deste

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sistema está articulada a um conjunto de valores que no Ocidente é minoritário e desvalorizado. O valor indivíduo, que conduz e amarra o sistema classificatório ocidental, impediria a compreensão do sistema de castas, já que está amarrado ao valor hierárquico.

Poderia-se pensar que Prunier junta-se aos estudos que criticam o chamado “modelo hierárquico” (Srinivas,1962; Conh, 1969; Appadurai, 1986; Perez, 1994; Vertovec, 2000; Bastos, 2000 e 2001) como modelo explicativo do sistema de castas. Estes estudos, críticos da perspectiva dumontiana, de um lado, propõem conteúdos distintos da oposição puro-impuro centrada na dimensão religiosa, sugerindo oposições localizadas no campo político e econômico. De outro lado, as críticas sugerem que o modelo dumontiano é generalizador, baseado na experiência e concepção bramânica e abstrato o suficiente para que seja inútil para compreender a realidade empírica indiana. Todavia, Prunier não faz qualquer menção a estas críticas e nem mesmo ao “modelo hierárquico”. Prunier abandona Dumont desde o momento em que continua a procurar as castas sem o sistema, não por se opor a Dumont, mas, aparentemente, por deixar de lado a diferença que este faz em relação a Pocock. Embora, ao fazer isto, volte a usar o conceito em que Dumont baseia-se para construir o “modelo hierárquico”, o faz de forma distinta da de Dumont e ainda ilustra um dos movimentos analíticos que Dumont critica.

Prunier, como Dumont, usa o conceito de Bouglé, anteriormente referido. Dumont parte deste conceito para dizer que os três aspectos só fazem sentido quando inter-relacionados e que são constrangidos pelo valor hierárquico, que define o lugar das diferenças e estabelece a hierarquia que direciona as regras de separação por alimento, casamento e a especialização profissional. Compondo este modelo para pensar o sistema de castas, Dumont mostra o limite das análises que desconsideram a predominância do valor hierárquico - atitude que resulta do sociocentrismo anteriormente indicado. Seu estudo analisa a literatura e mostra que a dificuldade de compreender a hierarquia faz com que as pessoas, primeiro, tomem uma parte do sistema como o todo (as castas, pelo sistema) e, segundo, notem no sistema os dois aspectos que não a hierarquia, seja a separação, seja a especialização profissional. Para Dumont, a hierarquia é o valor englobante do sistema de castas e esta hipótese é fonte de inúmeros debates na literatura indiana, mas Prunier não leva em consideração nem a hierarquia, nem a crítica a ela como modelo explicativo da sociedade indiana.

Prunier, ignorando a reflexão de Dumont, os limites deste modelo levantados por estudos empíricos na Índia e fora dela e a crítica de Dumont ao uso do conceito de Bouglé, destaca - já livre de ter de procurar um sistema -, justamente a partir do conceito de Bouglé, o aspecto da separação e apresenta por este ponto de vista o “retrato sócio-cultural dos indianos” em Uganda.

É neste ponto que Prunier chega à família, que reproduz os indianos em Uganda como indianos. Eles, pela forma como sua família é vista, são tomados por racistas, o que constitui a visão negativa que se constrói deles. O que vale a pena destacar aqui é que as escolhas que o autor fez para compreender a acusação de endogamia indiana estão desequilibradas em relação ao movimento que o autor faz para compreender as demais acusações, que junto com a acusação de endogamia, culminaram na expulsão. A endogamia é explicada no âmbito das relações locais do sistema político ugandense, ao lado da acusação de os indianos serem ricos e de representarem o domínio inglês, mas estas últimas são lidas como acusações frágeis em função de sua relação com o contexto de organização da comunidade política ugandense. Já a endogamia é explicada em um capítulo separado, associada ao território indiano e a uma instituição que alguns autores consideram fundamental para compreender os indianos.

O exame dos estudos de H. Kuper e de Prunier sob a perspectiva do estudo de Dumont