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4. Enquadramento Operacional: do sonho à realidade

4.1. Área 1: Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.1. Conceção

Lembro-me que, em meados de abril, num dia bastante chuvoso e friorento, ter recebido um convite da minha amiga e vizinha desde sempre, para irmos beber uma coca-cola ao café do costume lá na nossa terra. Já não estávamos juntas há algum tempo, devido à incompatibilidade de horários, e aproveitamos para pôr a conversa em dia.

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Tinha comigo uma pasta com documentos a respeito do estágio e, por curiosidade, a minha amiga decidiu começar a ler um deles, num tom de brincadeira.

- Conceção… - disse ela, falando brasileiro.

- Espera aí! – intervi eu. – Disseste “conceção” Raquel?

- Sim, Rita, porquê? – ripostou ela, sem entender a minha preocupação. - Preciso de falar sobre a conceção no meu relatório de estágio, mas não sei o que hei-de escrever. O que é que diz aí? – questionei eu.

- Ui, quem diria, a minha menina aplicada na tese… estás crescida Ritinha – respondeu ela em tom de brincadeira.

- Para de gozar comigo, isto é importante! – contestei eu, rindo-me. – Lê- me isso para ver se me ilumina alguma ideia aqui na minha cabeça.

- Então… “Conceção: Projetar a atividade de ensino no quadro de uma conceção pedagógica referenciada às condições gerais e locais da Educação, às condições imediatas da relação educativa, à especificidade da Educação Física no currículo do aluno e às características dos alunos através de…” (Normas, 2017)6. – leu a Raquel.

- Através da análise dos planos curriculares, dos programas de EF… através da utilização dos saberes próprios da EF e os saberes transversais em Educação, não descurando os dados da investigação em Educação e ensino e o contexto cultural e social da escola e dos alunos (Normas, 2017). – completei eu.

- É isso mesmo Rita, mas não percebi nada do que disseste. – afirmou a Raquel.

- Estás em Educação Social e não entendeste nada? Francamente, Raquel. – respondi eu com o bom humor que me caracteriza.

- Cala-te, explica-me lá isso. Fiquei curiosa. – ripostou ela.

- Raquel, vou-te explicar de uma forma mais simplificada. – disse-lhe eu. – Quando dás início a qualquer profissão, é necessário que possuas conhecimentos acerca da atividade que irás exercer, certo? E como é que vais adquirir isso?

6 (Normas, 2017) – Normas Orientadoras do Estágio do ciclo de estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP do ano letivo 2017/2018

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- Procuro informações sobre a profissão ou questiono pessoas que exercem a atividade. – completou a Raquel.

- Exatamente, mas não só… - continuei eu a minha linha de pensamento. – No caso da profissão de docente, é importante que este conheça o local onde vai trabalhar e toda a comunidade escolar que vai integrar. Segundo Vickers (1990), estas informações irão ser fundamentais para fortalecer o professor iniciante na transição de aluno a docente.

- Como assim? – questionou ela, mostrando-se confusa.

- Imagina… A escola onde eu estou a estagiar, eu já tenho conhecimento do local, dos professores, dos funcionários e do conselho diretivo, porque fui aluna na ESV durante o 2º CEB e o ES. Mas, por exemplo, o meu colega de estágio desconhecia a ESV. Para ele, foi importante analisar as condições educativas da escola para poder intervir como docente com maior competência. O que eu te quero dizer com isto é que, quer para mim quer para o meu colega de estágio, conhecer o espaço onde iríamos trabalhar, principalmente, conhecer o espaço dedicado às aulas de EF, foi o nosso primeiro passo para podermos delinear os nossos objetivos para o presente ano letivo. – esclareci-lhe eu.

- Já estou a compreender. E a seguir, o que é que fazes? – perguntou a Raquel com curiosidade.

- Tenho de te explicar tudo, como sempre. – ripostei eu, tirando um pouco a seriedade à conversa. – A seguir ao conhecimento do espaço, o próximo passo passa por conhecer os nossos alunos. Por este motivo, antes de se iniciar o ano letivo, são marcadas as primeiras reuniões de conselhos de turma para nos serem apresentados o DT e os professores das restantes disciplinas. Contudo, o mais importante nestas reuniões, são as informações que nos irão fornecer acerca dos alunos, assim como o comportamento, as características de cada um, o meio familiar, a forma de deslocamento para escola, entre outras.

- Faz sentido, Rita. Só depois disso é que partes para a “anáuise” dos Programas Nacionais? – continuou ela com as suas perguntas.

- “ANÁ-LI-SE”, Raquel, análise… tu e os “L” são mesmo inimigos. – disse- lhe eu, fazendo troça dela. – Mas sim… só depois destes dois passos é que passamos para a análise de todos os documentos que irão servir de suporte ao longo do nosso ano de estágio como, por exemplo, os Programas Nacionais de EF, o PEE, o Plano Anual de Atividades e Regulamento Interno da Escola.

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Contudo, é importante salientar-te que nenhum destes passos é mais ou menos importante que outro. Todos devem ser efetuados, se quisermos ser ótimos profissionais na formação dos nossos alunos.

- Mas, só existe essa estratégia para se ser um docente competente? – questionou a Raquel.

- Claro que não. – retorqui eu. – Eu é que optei por esta forma. Contudo, podes ensinar através da recolha de pesquisas realizadas no âmbito da Educação. Aqui, encontras bases fundamentais para te dar uma bagagem forte de modo a que alunos obtenham uma boa aprendizagem (Normas, 2017).

- Já estou a perceber… porém, como é que irias por esta última estratégia em prática? – interrogou-me ela.

- Poderia entregar fichas bibliográficas aos meus alunos. – respondi-lhe eu.

- Sim, isso seria interessante para projetar o processo educativo deles. No entanto, sabes que os alunos, hoje em dia, estão mais preguiçosos e, provavelmente, entregar-lhes ou não essas fichas irias obter o mesmo resultado, pois, cada vez mais, os alunos têm menos vontade de ir pesquisar assuntos para o meio escolar por vontade própria. – opinou a Raquel.

- Entendo o que queres dizer. – ripostei eu. - Esse trabalho já compete aos professores… a promoção da autonomia. No entanto, é algo que irei falar noutro capítulo no relatório. Mas, não fugindo ao tema inicial, na minha ótica, a conceção é o ponto de partida para alguém que está a iniciar a profissão de docente. É muito importante que um professor conheça minimamente o contexto onde vai trabalhar.

- O que me estás a dizer é que se começasse a ser docente hoje, que deveria realizar uma análise ao meio onde iria estar enquadrada, assim como Programas Nacionais de EF, o PEE, o Plano Anual de Atividades, Regulamento Interno da Escola, ou seja, todos os documentos que eu achasse salientes para promover uma ótima aprendizagem aos meus discentes. É isso? – questionou ela.

- Exatamente. Com isso, irias tornar-te numa profissional mais competente, pois demonstravas mais confiança e segurança em ti mesma para aplicar todo o teu planeamento e para ultrapassares todas as adversidades que te surgissem ao longo do caminho. – continuei eu, entusiasmada. – Foi isto que

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eu fiz quando iniciei o meu ano de estágio. Ajudou-me imenso a planear todo o ano letivo, assim como no esclarecimento de dúvidas que os alunos me colocavam acerca do meio escolar e das aulas de EF, já para não referir que esses documentos foram-me essenciais para desenvolver o meu ponto de vista acerca da conceção.