• Nenhum resultado encontrado

4. Enquadramento Operacional: do sonho à realidade

4.1. Área 1: Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.2. Planeamento

4.1.2.1. Planeamento Anual

O plano anual foi uma das primeiras tarefas que o PC nos pediu, a mim e ao meu colega de estágio, para realizar. Como ainda não tinha qualquer tipo de confiança com o meu colega de estágio, decidi marcar um café com as minhas comparsas do mestrado, a Helena e a Raquel, para conversarmos e contarmos umas às outras o início do EP.

Enquanto uma adora tirar selfies, é mais lady e a mais pequenina do trio maravilha, a outra é mais extravagante e tem o seu sotaque madeirense carregado que a caracteriza. Embora sejamos todas diferentes, foram os meus dois pilares ao longo do meu 2º ciclo do ensino superior.

Após matarmos as saudades e de termos as nossas conversas típicas, o assunto EP acabou por surgir.

- Vocês já fizeram o planeamento anual? – interroguei eu.

- Eu ainda não, mas tenho que o fazer, porque o meu PC já me pediu. – respondeu a Helena, mostrando-se um pouco aflita.

- Eu já. – afirmou a Raquel. – Mas aquela baina7 dá um trabalhão que tu não estás a perceber.

69

- E como é que fizeste? Tem de ser bonito a nível estético? – perguntei- lhe eu.

- Claro que não Rita. – rematou a Raquel. – O mais importante deste documento é que organizes o teu ano letivo, com o objetivo de que este seja o teu meio de transporte para alcançares as tuas expetativas.

- Contudo, como já aprendemos ao longo dos anos de faculdade, o plano não deve ser visto como um documento rígido. Tem de estar apto para sofrer alterações e ser moldável de acordo com os contextos e com os imprevistos. – completou a Helena.

- Por isso, para construíres o teu plano anual, vais ter de recorrer a dois documentos: o plano anual de atividades da escola e o programa de EF da escola. – sugeriu a madeirense.

- E o calendário letivo, o horário de docência, o roulement de espaços, não entram no plano anual, Raquel? – questionei eu de novo a madeirense.

- Entram. – respondeu ela. – Precisas desses documentos para teres a noção de quantas aulas tens disponíveis para cada período e para a lecionação das unidades didáticas (UD). Só assim é que consegues definir e organizar a tua planificação para o ano letivo.

- Sabem o que é que o Bento (2003) diz? Que, através da planificação, o professor tem de estabelecer os objetivos que quer atingir com toda a transparência. – comentou a Helena.

- Obrigada pela informação, meninas, mas agora tenho de me ir embora. – transmiti-lhes eu.

- Espera aí. Falta fazermos uma coisa! – exclamou a Helena. - Tirar a selfie? – tentei eu adivinhar.

- Claro, não podíamos ir embora sem realizar o nosso ritual. – disse a Helena com o seu jeito simpático habitual.

- E quê? Vai se lá hoje o que se pode fazer amanhã? Vá Helena, despacha essa selfie que eu quero ficar gira. – comentou a Raquel com o seu sotaque típico da Madeira.

Tiramos a fotografia e cada uma seguiu o seu caminho. Cheguei a casa, liguei o computador, peguei nos documentos necessários e comecei a construir o plano anual. Através dos documentos, foi-me possível organizar o ano por períodos, pois nos mesmos estavam descritos o número de aulas previstas para

70

cada período, os dias e as atividades extracurriculares que iriam decorrer, as modalidades a abordar e os espaços que iríamos utilizar ao longo do ano. Contudo, em conjunto com o PC e com o meu colega de estágio, tivemos de alterar o plano anual de EF (Anexo I) proposto pela escola, devido às questões climatéricas. Tivemos a necessidade de trocar a modalidade do 1º período com a do 2º período, uma vez que o 2º período é, normalmente, um período mais frio e mais chuvoso. Por este motivo, achamos que, lecionar a modalidade de ginástica no 2º período, iria trazer mais dificuldades aos alunos e mais riscos, pelo facto de modalidade ser muito exigente a nível corporal comparativamente à modalidade de badminton. De modo a termos mais produtividade na modalidade primeiramente mencionada, decidimos lecionar ginástica de solo ao longo do 1º período e ginástica acrobática no primeiro terço do 3º período, ao invés de abordarmos as duas no mesmo período.

O facto do plano anual de EF da ESV indicar que todas turmas exercitam, no interior, uma modalidade por cada período e uma anual, no exterior, foi uma vantagem no que diz respeito à progressão dos alunos. Tivemos tempo para respeitar o ritmo dos discentes, o que provavelmente não iria ser possível se tivéssemos que abordar duas ou mais modalidades no mesmo período. É verdade que, no 3º período, lecionei duas UD, porém, uma vez que a modalidade de andebol era a modalidade anual exterior, o número de aulas atribuídas a esta UD foi equivalente às UD de ginástica de solo e badminton. Contudo, pelas UD serem longas, obrigou-me a ser inovadora para não criar aulas desmotivadoras para alunos, pois quando os conteúdos já estavam todos lecionados, produzir aulas posteriores diferentes e dinâmicas, foi algo que me fez sentir imensas dificuldades. A UD de badminton foi um exemplo disso, visto que os conteúdos foram abordados em poucas aulas, o que me levou a criar um campeonato de badminton, para que as aulas não se tornassem repetitivas.

“Na minha opinião, as aulas correm bem e, para além de ter evoluído, passei a gostar das aulas de educação física, pois a professora incentiva-nos bastante para, a cada aula, sermos cada vez. No início do ano, pensei que a professora iria ser como os professores que tive em anos anteriores, que só se ia preocupar em que obtivéssemos os melhores resultados, com a modalidade propriamente dita. Mas não, preocupou-se apenas connosco e com o nosso

71

progresso, em divertir-nos com as suas aulas bem estruturadas e dinâmicas e com a sua personalidade.” – comentou a Angie8 na sua autoavaliação do 1º período, uma aluna da minha turma do 10º ano.

Não queria ser uma professora que mais tarde não se iriam lembrar do nome, queria ser a professora que, de uma forma ou de outra, os marcasse no seu crescimento, assim como aquela que os fez olhar para disciplina de EF de forma diferente.

Bossle (2002, p. 37) diz-nos: “Penso que aconteça também o que

chamaria de “vício” do professor de educação física na questão do planejamento de ensino, que é o fato de considerar que seu tempo de experiência como professor substitui o planejamento, e que o mesmo é para quem está começando a dar aulas. Penso que a experiência seja importante para qualquer ação humana, na medida em se já nos defrontamos com aquela situação, já temos elementos a considerar para reconstruir nossa ação e consequentemente, atingir os objetivos a que nos propusemos.”. Ou seja, independentemente do nível de

experiência que tenhamos, é fulcral o planeamento fazer parte do quotidiano do docente de educação física. Não necessita de planificar de forma tão detalhada como um estudante estagiário, mas deve delinear a sua aula e o ano letivo, nem que seja numa simples folha de papel.

Para mim foi essencial compreender a importância que o planeamento anual possuía na profissão de professor de EF. É um instrumento orientador de toda a nossa prática pedagógica. Contudo, é um documento que está em constantes alterações para se adequar ao ensino e que serve apenas como um guia.

O meu plano anual foi reajustado diversas vezes, por motivos climatéricos, greves, visitas de estudos e imprevistos, de modo a adaptá-lo à minha prática pedagógica e aos aspetos contextuais.