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3. Enquadramento Institucional

3.5. Turmas – Caracterização

3.5.2. Os “Terroristas” do 5º ano

Confesso que estava empolgada por lecionar EF ao 5º ano. O facto de ser uma apaixonada por crianças e por já possuir experiência nesta faixa etária, senti que iria realizar um ótimo trabalho e que iria ser um prazer atuar com seres humanos que ainda se encontram na fase da inocência, da energia e da infantilidade.

Visto que a ESV não continha o 2º CEB, tivemos de recorrer a outra escola do AEV, que se situava noutra freguesia do concelho, a EB 2,3 de Sobrado.

“Neste dia, o professor cooperante levou-nos a conhecer a Escola

Básica 2, 3 de Sobrado. Posso afirmar que fiquei bastante surpreendida com as ótimas condições que o pavilhão de educação física apresenta, sendo este melhor que o da Escola Secundária de Valongo (ESV). Contudo, desiludi-me com os recursos materiais disponíveis, pois verifiquei que para efetuar o trabalho para unidade didática de ginástica que realizei na ESV, não seria possível de o executar com o pouco material que este pavilhão continha.

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De seguida, conversamos com o Professor Telmo sobre as turmas e o plano para o segundo período. Transmitiu-me que eu teria de ser uma pessoa firme com os alunos, pois a minha turma é uma turma bastante inquieta e barulhenta. Contudo, disse-me que teria a liberdade, se assim for necessário, sentar os alunos num canto para não perturbarem a aula e, em último caso, pedir que se retirassem para o balneário.

Comunicou-nos também que iriamos abordar a ginástica e o futebol, sendo que optamos por lecionar primeiro a ginástica, por nos encontramos neste momento mais à vontade com a modalidade e para impor controlo da turma desde início, visto que o futebol é uma modalidade que deixa os alunos eufóricos, principalmente os rapazes.”

(Diário de Bordo – 1ª ida à EB 2,3 de Sobrado, 14 de dezembro de 2017)

Um aspeto que me estranhou, foi a entrada dos docentes no pavilhão de EF. Enquanto que na ESV e em todas as escolas, que tive a oportunidade de conhecer, existe um corredor que nos leva diretamente para o recinto, na EB 2,3 de Sobrado, a única forma de aceder ao espaço de aula era através dos balneários, o que criava algum desconforto aos alunos e a mim mesma. Outro, foi a localização do campo exterior face ao pavilhão de EF, por se encontrar do lado oposto a este, na escola.

Não fiquei assustada quando o professor que me iria supervisionar na EB 2,3 de Sobrado, me transmitiu que me estava a ser entregue uma turma complicada. Devido à minha experiência, achei que fosse um grupo de alunos que tivesse comportamentos típicos da idade no contexto de sala de aula. A turma tinha um bloco de 45 minutos à segunda-feira (9h00 às 9h45) e outro de 90 minutos, que por mim era lecionado, à quinta-feira (11h45 às 13h15). Era composta por 14 rapazes e 13 raparigas, 27 alunos na totalidade. Em relação à capacidade motora, foi-me possível distinguir com clareza 3 níveis: os bons, os razoáveis e os que possuíam poucas aptidões físicas para a prática, o que condicionou o meu planeamento. Enquanto que, na minha turma de 10º ano, a existência de níveis não era muito díspar e os alunos cooperavam com os pares, aqui, em ambas as modalidades que foram lecionadas, foi-me difícil agrupá-los

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de forma a que todos tivessem o mesmo rendimento. Havia pelo menos 8 alunos que necessitavam da minha colaboração, em todos os parâmetros da modalidade de ginástica.

Após o fim da segunda aula, tive a oportunidade de desabafar com o professor que me supervisionava:

- Agora entendo o que o professor quis dizer, quando me transmitiu que teria de adotar uma postura mais firme com os alunos.

- São miúdos muito indisciplinados e eu compreendo que não te seja fácil tomar uma postura mais autoritária. Necessitas de mais experiência, de crescer e aprender e, com o tempo, verás que será mais simples. – mostrou-se o professor compreensivo.

- Sim, ser autoritária não faz de todo parte da minha personalidade. Não consigo entender como é que eles são tão bons miúdos e existem tantas faltas de respeito entre eles. Eles insultam-se, eles batem uns nos outros, são tão barulhentos que chego ao fim da aula com dores de cabeça. – continuei eu. - Tens de encontrar os pontos fracos deles e estratégias que os façam manter completamente concentrados na tarefa. E não te sintas culpada se não conseguires concluir o plano de aula. Eles são assim em todas as disciplinas, não há nenhum professor que se consiga se impor a 100%. É uma turma que já tem um processo aberto no conselho pedagógico. Sabes? No próximo ano letivo, é provável que eles sejam todos separados e distribuídos pelas restantes turmas, o que é uma pena, porque neste momento é a melhor turma no que diz respeito a resultados. – disse o professor acalmando-me.

- Estou a ver que este período não irá ser fácil. – concluí eu.

E não foi, mas decidi encarar esta turma como um desafio e mostrar que estava a altura do mesmo. Tive de mudar, tornar-me numa docente oposta à docente do 10º ano. Ser uma professora mais autoritária, menos tolerante, mais firme e, no que toca ao meu sentido de humor, ser mais rigorosa. Percebi que, nesta faixa etária, o meu discurso teria de ser curto e direto para captar e manter a atenção dos alunos. Que tinha de mostrar que estava sempre presente e que não podia perder nenhum aluno de vista.

Tive de estabelecer regras essenciais para manter o bom funcionamento de aula:

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“Desde início, estabeleci algumas regras, assim como, enquanto eu falo, ninguém fala e sempre que apitar todos olham para mim e ouvem o que eu tenho para dizer.”

(Diário de Bordo – Aula do 5º ano, 4 de janeiro de 2017)

“Por fim, tive a necessidade de conversar com os alunos e transmitir-lhes o meu descontentamento face ao comportamento deles. Primeiro, que não tolerava as faltas de respeito que eles tinham pelos colegas e que da próxima vez que visse um deles a insultar um colega que eram expulsos da minha aula; segundo, que não tolerava “queixinhas” desnecessárias; e terceiro, que a partir de agora saíam da aula todos juntos e não ficarem uns a arrumar e outros irem para o balneário.”

(Diário de Bordo – Aula do 5º ano, 11 de janeiro de 2017)

Embora tivessem demonstrado um comportamento pouco adequado nas aulas, visto que tive de parar uma aula (apenas lecionei 30 minutos) para que os mesmos refletissem, os alunos sempre se apresentaram motivados e disponíveis para a prática, sendo isto visível no seu entusiasmo em trazer e montar o material e quando pedia um voluntário para exemplificar uma situação de ensino-aprendizagem, tornando-se, desta forma, um gosto para mim trabalhar com estas crianças.

Tal como já referi, a falta de maturidade nesta faixa etária, levou a alguns constrangimentos durante o decorrer do 2º período, principalmente, entre os rapazes. Embora tenha trabalhado no sentido de criar estratégias para promover o respeito e a disciplina, o curto espaço de tempo que estive com eles não foi suficiente para consolidar estas componentes, algo que irei abordar mais frente do relatório. Contudo, é preciso destacar que a turma cresceu e que, apesar de todos os imprevistos e das constantes alterações no planeamento, conseguiram alcançar bons resultados.

O que mais me surpreendeu nestes pequenos “terroristas” foi, no momento da autoavaliação, os alunos terem a perceção que o comportamento que tiveram ao longo do período, os prejudicou na classificação final.

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- São inocentes, mas sabem aquilo que fazem. – disse-me uma vez o professor que me supervisionou.

Para finalizar, posso afirmar que atuar em duas turmas tão diferentes obrigou-me a inovar enquanto docente. Quer na forma de comunicação quer na minha colocação na aula. Apesar dos imprevisíveis me obrigarem a ser rigorosa, as aulas corriam dentro da normalidade. Já nas aulas dos “terroristas”, saía sempre desgastada, o que levou a que no 2º período sentisse imensas dificuldades no âmbito da gestão emocional.