• Nenhum resultado encontrado

3. Enquadramento Institucional

3.5. Turmas – Caracterização

3.5.1. Os Imprevisíveis do 10º ano

Foi no dia 15 de setembro de 2017 que decorreu a primeira aula com a minha turma residente. Tratava-se de uma turma de 10º ano do curso de científico-humanístico de ciências e tecnologias. Estava um pouco nervosa, iria finalmente conhecer os MEUS ALUNOS. Dirigimo-nos para o balneário masculino, os alunos sentaram-se e eu, o meu colega de estágio e o PC ficamos de pé no centro. Recordo-me de estar com a mochila às costas e os alunos olharem para mim como se fosse uma aluna nova, ao invés de perceberem que à sua frente estava a sua professora estagiária.

O PC deu início à apresentação, começando por ele próprio e, de seguida, pediu aos alunos que mencionassem o seu nome, de que escola vinham e que área de estudos gostariam de seguir.

“Cada aluno apresentou-se dizendo o seu nome, de que escola vinha e que curso quer seguir no ensino superior. As escolhas estão viradas para área da saúde e engenharia, sendo que um aluno quer a área de economia, outro de jornalismo e outro de educação. Temos ainda quatro alunos que ainda não têm nenhuma área de preferência e uma aluna que não deseja ir para o ensino superior.

Penso que a intervenção do professor cooperante para os alunos consultarem o psicólogo foi importante nos alunos que ainda não sabem o que querem para o seu futuro, de modo a este os poder ajudar, porém, achei que o professor exagerou quando disse a uma aluna que esta não deve seguir educação, só porque é uma área que neste momento não tem futuro. Sou da opinião de que todos têm o direito de seguir os seus sonhos e que quem é bom no que faz, terá um futuro promissor. Penso que nunca devemos desviar um aluno de um curso, que para ele faz

46

sentido, só porque neste momento não tem saída. Hoje pode não ter futuro, mas não sabemos como estará essa profissão quando esse aluno terminar o ensino superior. Contudo, concordo com professor, quando ele me justificou o porquê de ter dito o que disse à aluna, que por vezes devemos fazer com que os alunos reflitam sobre as consequências das suas escolhas e das saídas profissionais, porém, penso que poderia tê- lo feito com outra abordagem.”

(Diário de Bordo – Aula de Apresentação, 15 de setembro de 2017)

De seguida, o PC explicou como iria funcionar as aulas e os critérios de avaliação. Quando terminou, passou-me a palavra:

- Bom dia meninos. – disse eu com entusiasmo. - Bom dia. – responderam eles com sono.

- Bem, acho que já começamos mal. Vamos recapitular… Bom dia meninos! – repetiu eu, de modo a cativar a atenção deles.

- BOM DIA! – retribuíram eles cheios de energia.

- Agora sim, já posso falar convosco. Gosto de pessoas com energia e não cheias de sono como muitos de vocês estão – retorqui eu. – Mas eu entendo, acabaram-se as férias, começaram as aulas e tudo o que vocês menos querem é ter uma aula às 8h20. Se vocês quiserem pedir à direção para que seja proibido haver aulas a esta hora, podem contar com a minha colaboração, porque eu detesto acordar cedo. Se dormir fosse uma profissão, eu neste momento estava milionária.

Os alunos riram-se e senti que já tinha começado a criar a ligação professor-aluno.

- Porém, se quisermos alcançar os nossos objetivos de vida, temos de fazer um esforço para contrariar aquilo que nos faz desviar das nossas metas, por muito que isso nos faça sentir confortáveis. Uma vez, a minha mãe disse- me: “É fora da nossa zona de conforto que aprendemos e crescemos”. O que eu quero dizer com isto é: não cedam às vossas limitações, ultrapassem-nas. Sejam vencedores no vosso pior campo de batalha. É este o comportamento que eu quero que vocês tenham, não só nas aulas de EF, mas em toda a vossa vida. – prossegui eu. – Não me querendo alongar muito, o meu nome é Rita, tenho 22

47

anos e estou a concluir o mestrado na FADEUP. Já estudei aqui, na ESV, e algumas das vossas caras não me são estranhas. Por isso, não sou uma aluna nova da vossa turma, como alguns de vocês pensaram quando aqui entrei. Sou vossa professora estagiária. Desejo-vos um excelente ano letivo e espero que seja um prazer trabalhar convosco.

No dia de apresentação da escola aos alunos, foi-lhes entregue um questionário para que a DT realizasse as fichas biográficas de cada um. Essas fichas foram enviadas para todos os professores do conselho de turma. De acordo com as informações recolhidas, a maioria dos alunos vive em Valongo e a idade média é de 14,7. 18 alunos praticam desporto, 8 alunos deslocam-se a pé para a escola, 4 alunos têm EF como disciplina preferida e 5 alunos como a menos preferida. A turma é constituída por 11 rapazes e 17 raparigas, 28 no total.

Em relação a problemas de saúde, tem dois alunos com asma, outro com síndrome de Turner, outro com escoliose, outro com amigdalites e outro com ataques de ansiedade. Também tem 6 alunos com dificuldades visuais.

Ao longo do ano, nas reuniões de conselho de turma foi comentado o desempenho da turma nas aulas. A turma foi vista como uma turma barulhenta, contudo, foi uma turma que se encontrava num nível bastante satisfatório, no que diz respeito às classificações finais, embora 5 alunos não tenham conseguido transitar para o 11º ano.

No que se refere à disciplina de EF, foi uma turma bastante trabalhadora, empenhada e, também, um pouco barulhenta. Foi uma turma que me surpreendeu desde início, pois não estava à espera de encontrar um grupo de alunos que revelasse tantas capacidades na disciplina.

No entanto, nem tudo foi um mar de rosas e o imprevisível aconteceu. Posso arriscar em dizer que o 2º período foi o período mais complicado. Embora não fosse uma turma unida, o ambiente era alegre e harmonioso. Porém, neste período, o ambiente da turma piorou de forma drástica em todas as disciplinas, os alunos começaram a ter comportamentos de falta de respeito para com os colegas, ao ponto da DT sentir a necessidade de conversar comigo sobre o assunto.

A minha relação com a turma foi muito boa e estive sempre disponível para as dúvidas e questões dos alunos acerca da disciplina como das suas vidas

48

pessoais. Contudo, a oscilação do ambiente entre os alunos prejudicou o rendimento da turma, principalmente no 2º período, obrigando-me a trabalhar no sentido de solucionar o problema, algo que falarei mais à frente no relatório.

Foi um grupo de alunos que sempre apresentou ótimos resultados em todas as modalidades abordadas, assim como nas atividades extracurriculares desportivas e no desporto escolar. Foram alunos que procuraram ultrapassar as dificuldades impostas pela tarefa e que, com a minha colaboração e apoio, conseguiram alcançar o objetivo.

Embora, por vezes, tivessem algumas atitudes características desta faixa etária, foi um grupo de alunos que nunca me faltou ao respeito e que sempre cumpriu as tarefas propostas. O que mais me surpreendeu, foi o poder de consciencialização que os alunos possuíam como, por exemplo, a justificação que apresentavam para o incumprimento dos objetivos, como a preguiça, o desvio da tarefa, o comportamento, a pontualidade ou o empenho. Surpreendeu- me, porque é bastante natural nestas idades, os alunos atribuírem desculpas para o seu comportamento menos adequado nas aulas, o que não se verificou nesta turma.

Independentemente dos percalços que surgiram internamente na turma, sempre demonstraram espírito competitivo, respeitando o adversário, e que se divertiam nas aulas lecionadas. Ou porque o exercício era motivador, ou por causa da minha boa disposição ou, sobretudo, por todas as regras que impunha nas aulas. Contudo, esperava que os alunos apresentassem dificuldades em lidar com o entusiasmo da tarefa, que tivessem comportamentos indesejados quando achassem que o colega ou a professora estavam a ser injustos, algo que só aconteceu uma vez com um aluno. Porém, com a minha intervenção imediata, ele chegou à conclusão de que o importante era sua aprendizagem e evolução, ao invés da vitória, e que com esse tipo de atitudes só se estava a prejudicar a ele próprio.

Como grande parte da turma praticava uma modalidade desportiva, foi notório que o nível de cultura desportiva nas modalidades lecionadas, fosse satisfatório, embora alguns termos específicos lhes fossem desconhecidos. Pelo mesmo motivo, a maioria dos discentes apresentava uma boa pré- disposição para a prática e uma motivação elevada. A sua evolução era imprevisível, tanto no teor individual como no coletivo. Enquanto numa aula

49

seriam capazes de demonstrar imensas dificuldades numa tarefa, na aula seguinte acontecia o inverso, assim como existiram momentos de regressão. O facto de a turma ser bastante numerosa, dificultou-me o planeamento, sobretudo, nas modalidades de badminton e andebol. Foi um aspeto que tive de gerir, devido ao pouco espaço que tínhamos disponível para a prática. Outro ponto relevante, foi o controlo da turma. Nem sempre foi fácil mantê-los calmos, concentrados na tarefa e em silêncio, mas, com colaboração do PC, fui evoluindo nesse sentido, adotando estratégias para possuir o controlo da turma, assim como os alunos foram colaborando comigo e crescendo no seu comportamento. Por fim, posso afirmar que os imprevisíveis do 10º ano foram fundamentais para o meu percurso no EP. Fizeram-me crer na possibilidade de ultrapassar os limites e obstáculos, impulsionando, assim, a união entre alunos e professores, promovendo a autoconfiança de todos. É importante salientar que foi uma turma que cresceu imenso e que tornaram aquilo que, na sua ótica, seria impossível, possível.