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4. Enquadramento Operacional: do sonho à realidade

4.1. Área 1: Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.2. Planeamento

4.1.2.4. Plano de Aula

- “Com o planeamento da unidade temática dão-se os primeiros passos

para a preparação da aula. Os objetivos e conteúdos essenciais estão definidos em traços largos; a aula está integrada no processo global da unidade didáctica, está assinalada a sua função.” – ouvi eu, enquanto corria pelo corredor da

FADEUP, porque estava atrasada para a aula de tópicos. Parei, recuperei o fôlego e continuei a escutar:

- “(…) sem se elaborar e terem atenção o plano anual e o plano da unidade

temática, sem se analisar e avaliar o ensino anterior, não se pode falar propriamente de preparação de aulas (…)”.

Devido a não conseguir ouvir muito bem, aproximei-me da porta de onde vinha a voz:

- “… a preparação de aulas constitui, pois, o elo final da cadeia de

planeamento do ensino pelo professor”.

- Isto é Bento (2003)! – pensei eu, enquanto alguém pousava uma mão no meu ombro. – Que susto Inês!

- Que estás a fazer? – interrogou ela, por achar estranho ver-me a escutar por trás da porta.

- Estava aqui ouvir algo que me vai ser importante para o meu relatório de EP. – matei-lhe eu a curiosidade.

- E qual era o assunto? – voltou a Inês a questionar. - Sobre o plano de aula. – respondi-lhe eu.

- Queres que te ajude nisso? – disponibilizou-se a Inês.

- Eu tenho aula agora e até já estou atrasada. Por isso… - disse-lhe eu, enquanto lia a mensagem que acabara de receber no telemóvel. – Afinal podemos falar sobre isso. A Helena acabou de me enviar uma a mensagem a avisar que a professora faltou.

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Lá fomos as duas ter com Eva. Íamos estar as três juntas novamente após o término da licenciatura. As saudades eram imensas e foi notório assim que chegamos. Após conversarmos sobre as nossas vidas, a Inês volta a tocar no assunto inicial:

- Sabes que no treino também tenho de efetuar uma espécie de um plano de aula. No teu caso, o plano de aula é onde tu aplicas todas as tuas decisões e verificas se o documento está em conformidade com os planeamentos anteriormente realizados e se estes estão ou não adequados à prática.

- Ei pois é… já não me lembrava que agora tinhas de fazer planos de aula. Deve-te dar muito trabalho, não? – perguntou-me a Eva.

- Claro que dá. Mas tem que ser. – retorqui eu. – Bott (1997) defende que o plano de aula contribui para a reflexão do docente acerca dos conteúdos a serem ensinados, das questões pedagógicas e motivacionais, do feedback, dos materiais e do tempo ideal para a prática.

- Lá no ginásio, quando faço os meus planos de aula, preocupo-me em estruturá-lo com fio condutor lógico, organizado e sequencial. Coloco os objetivos operacionais gerais e específicos que pretendo atingir com a aula em questão, não descurando que os mesmos devem estar relacionados com as funções didáticas definidas na UD. – complementou a Eva.

- É importante que o teu plano de aula respeite três fases: parte inicial, parte fundamental e parte final. – salientou a Inês.

- Eu sei miúda, a parte inicial serve, essencialmente, para ativar os alunos para a prática, a parte fundamental é onde eles exercitam e se desenvolvem na modalidade em questão e a parte final, serve para os alunos culminarem todo o processo que foi efetuado ao longo da sessão e retornarem à calma (Siedentop et al., 1986). – averiguei eu.

- Eu no treino, dedico entre cinco a dez minutos para o aquecimento. Para mim, é importante que os meus atletas aumentem a frequência cardíaca para estarem aptos e corresponderem aos objetivos da sessão (Tenroller e Merino, 2006). – afirmou a Inês.

- De um modo geral, decidi efetuar uma ativação geral através de um aquecimento mais específico. Enquanto que nas UD de ginástica de solo, badminton e ginástica acrobática, optei por iniciar a aula com um circuito de treino funcional adaptado a cada modalidade, com estações que englobavam o

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trabalho das articulações mais recorridas durante a prática, a força, velocidade, flexibilidade e coordenação, na UD de andebol optei por realizar uma ativação geral através de jogos lúdicos que faziam transfer para a prática da modalidade, pelo motivo de todas as aulas terem sido praticadas no exterior e o transporte e montagem do material para o circuito de treino funcional me retirar muito tempo à parte fundamental da aula. O mesmo ocorreu na minha turma de 5º ano que, por sugestão do meu PC, decidi aplicar o circuito de treino funcional, contendo apenas exercícios que utilizavam o peso do corpo. Aqui, quer o facto de a turma ser indisciplinada, quer o tempo desperdiçado em montar e arrumar o material utilizado, percebi que os alunos se aplicavam mais na tarefa e que rendiam melhor através de jogos lúdicos.

- Até porque, nas faixas etárias mais baixas, o meio mais motivacional para preparar os alunos para a prática são os jogos. – referiu a Eva.

- Segundo Fonseca (2015), a parte fundamental é onde tu inseres situações de ensino-aprendizagem de forma sequenciada e organizada e que respeitem os objetivos estipulados no plano de aula. O que eu quero dizer é que tens de delinear ao pormenor todos os exercícios pensados e adequá-los, uma vez que tens como objetivo ensinar sob a orientação do sucesso dos conteúdos da tua UD, no teu grupo de alunos. – salientou a Inês. – Em contrapartida, não podes exagerar na quantidade de exercícios que planeias, nem no seu tempo de execução. Pois, corres o risco de não cumprir o plano de aula, assim como de não atingir os objetivos que pretendias. No plano de aula, tens de ter em conta às interrupções para instruíres, para formação de grupos, para a transmissão de

feedbacks, bem como, para a montagem e arrumação de material. Isto implica a

que efetues o plano de aula de forma cuidadosa, refletida e crítica.

- Estou impressionada contigo, Nês, quem te viu e quem te vê. – comentou a Eva, surpreendida.

- Eu também. Tu não és nada destas coisas, manita. – concordei eu com a Eva – Mas compreendi e estou em sintonia contigo, Inês. Por exemplo, quando ensinava uma situação de ensino-aprendizagem nova, tinha consciência que iria despender mais tempo nesse exercício. Uma das estratégias que usei para tornar o tempo útil, foi utilizar várias variantes no mesmo exercício que potenciassem a exercitação das habilidades motoras que eu desejava. E, como toda gente sabe, quantidade não é sinónimo de qualidade. Preferi efetuar planos

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com poucos exercícios e eficazes do que planos com muitos exercícios, onde os alunos não conseguiam apreender nada, pelo curto período de tempo que estava atribuído à exercitação. Tinha de respeitar o ritmo de aprendizagem dos meus discentes, mesmo que isto me obrigasse a adiar a abordagem de um novo conteúdo. Percebi que não poderia avançar, se os alunos não possuíssem as bases suficientemente consolidadas para transitarem para um novo conteúdo. Com isto, posso afirmar que optei por efetuar poucos exercícios e com maior número de repetições dos mesmos ao longo da UD. Porém, sem cair no erro de tornar as aulas repetitivas ou iguais umas às outras. É de salientar que sempre dei ênfase em inserir algo novo em todos os exercícios que punha em prática, de modo ao meu trabalho não cair na monotonia. Acrescentava mais uma variante, aumentava o nível de complexidade, criava competições ou trocava, simplesmente, os pares.

- A parte final, tal como tu disseste, Rita, destina-se, essencialmente, a diminuir o batimento cardíaco com retorno à calma, através de um alongamento final e de uma conversa com a turma sobre a sessão (Tenroller e Merino, 2006). – transmitiu a Inês.

- Eu conversava muito com os meus alunos no final de todas as aulas. Destinava os últimos 5 minutos para refletirmos em conjunto os pontos mais e menos fortes da sessão, promovendo desta forma a capacidade crítica e reflexiva. Aqui, os alunos informavam o que mais e menos gostavam nas aulas, o que necessitavam de melhorar, qual teria sido o objetivo da aula, assim como pediam conselhos para evoluir. Estes 5 minutos eram fundamentais para a construção do plano seguinte, pois para além da observação da prática, tive de ter em conta ao que os alunos sentiam e corresponder às suas necessidades, para os manter motivados. – referi eu.

- Rita, não me leves a mal, mas vou ter que ir embora. O Porto joga hoje. – avisou a Eva.

- Estou a ver que continuas a mesma. – respondi-lhe eu. – Mas vamos todas, também tenho de ir para casa. Aproveito e vou escrever sobre este assunto no meu relatório. Depois combinamos um dia para estarmos juntas com mais tempo, mas que não seja daqui a um ano de preferência.

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Despedimo-nos com um forte abraço de grupo. E, mais uma vez, dirigi- me ao meu refúgio de eleição para a escrita, a minha casa. Liguei o computador, abri o meu relatório e aqui estou eu, a escrever.

Enquanto no início do EP, o plano de aula revelou-se um documento difícil de planear e de executar, devido à minha inexperiência e desconhecimento das reações e comportamentos dos meus alunos, com o decorrer do ano letivo fui aprendendo a ultrapassar as barreiras que me estavam a ser colocadas neste aspeto, através das reflexões individuais e com o NE, da colaboração do meu colega de estágio e do meu PC quando esclareciam as minhas dúvidas e questões e dos restantes docentes que integravam o grupo de EF, o que facilitou e beneficiou a construção do meu plano de aula, tornando-o num documento simples de realizar e de pôr em prática.

Também posso afirmar que, no início, possuía a necessidade de consultar o plano de aula durante a sessão, de modo a cumprir o tempo e não perder o fio condutor da aula. Algo que depois se tornou automático, quando me tornei mais segura na minha atuação, consultando o plano apenas quando sentia que me estava a falhar algum aspeto. Com isto, fez com que me centrasse apenas nos alunos, ao invés da gestão da aula propriamente dita. Não descurei este último aspeto, mas senti-me mais à vontade para retribuir a atenção que os discentes precisavam, isto é, estar mais presente e ativa na prática.

Por fim, é de salientar que o professor deve planear tendo em conta o contexto e tornar o plano flexível, pois o sofrimento de alterações devido às situações imprevistas irá ocorrer e é necessário que o docente esteja preparado para ajustar o plano e orientá-lo no sentido do cumprimento dos seus objetivos.