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CONCEITOS DE “ADOÇÃO” E “IRREVOGABILIDADE”

No documento http://conpdl.com.br/anaisconpdl7 (páginas 183-185)

CRIANÇAS ADOTADAS E RESPONSABILIDADE CIVIL

CONCEITOS DE “ADOÇÃO” E “IRREVOGABILIDADE”

A adoção é o procedimento pelo qual uma criança ou adolescente é colocado em nova família substituta sem vínculo sanguíneo, extinguindo os laços de parentesco com seus genitores, criando um novo vínculo de filiação com os adotantes. Para Paiva (2003), a adoção é o mecanismo jurídico pelo qual uma criança privada de família é colocada em um lar substituto para que refaça seus laços de filiação. Para Peiter (2011, p. 17), “adoção é uma forma de filiação instituída por lei, que tem caráter irrevogável e coloca pais e filhos em condições jurídicas idênticas à filiação e à paternidade biológica”.

As adoções sempre existiram nas civilizações humanas, conforme observado por Ghirardi (2015). No entanto, após a promulgação da Constituição Federal de 1988 e do ECA em 1990, os interesses da criança passaram a ser prioritários, vigorando a doutrina da proteção integral.

É nesse cenário atual, no qual vigora a doutrina da proteção integral e há foco no melhor interesse da criança, que lançaremos luz sobre este tema e analisaremos as situações de devolução de crianças. PROCEDIMENTO DA ADOÇÃO

Antes de prosseguir, é importante fazer um breve esclarecimento sobre o procedimento da adoção. A pessoa que deseja adotar uma criança precisa passar por uma etapa de entrevistas pela equipe de psicólogos e assistentes sociais.

Essas entrevistas são fundamentais para alinhar as expectativas dos adotantes com as características reais das crianças ou adolescentes. Peiter (2011) afirma que muitos dos adotantes ficam extremamente desconfortáveis e insatisfeitos com a ideia de seleção de candidatos, pois

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para se tornar pai biológico não há necessidade de aprovação prévia, então na adoção esse processo seria desnecessário.

Entretanto, esta autora destaca que essa preparação e seleção de candidatos e seu acompanhamento é essencial para aumentar as chances de uma adoção bem-sucedida (Peiter, 2011). Como a criança já sofreu uma situação traumática é preciso ter cautela com a escolha dos adotantes para evitar sua exposição a uma nova situação de rompimento e abandono psíquico. Ocorre que, na prática, nem todas as Varas possuem psicólogos ou assistentes sociais em seus quadros de funcionários “do que se pode concluir que alguns candidatos não estão sequer sendo entrevistados antes de formalizar uma adoção”, conforme destaca Paiva (2003, p. 52). A ausência da avaliação prévia dos candidatos é fato extremamente grave, pois provavelmente muitas adoções estão sendo formalizadas sem o devido preparo dos pais adotivos, possivelmente contribuindo para os casos de devolução.

Posteriormente ao preparo dos candidatos, é feita uma aproximação gradativa da criança e dos candidatos na instituição de acolhimento. Quando a equipe técnica entende que os adotantes e o adotando já formaram certo vínculo afetivo, é autorizado que os adotantes levem a criança ou o adolescente para viver com eles, de modo que é concedida a guarda provisória e inicia-se o estágio de convivência, período mais crítico do processo de adoção por ser quando ocorrem as devoluções das crianças e adolescentes.

Ao constatar que a criança já está suficientemente adaptada ao novo ambiente familiar, o juiz profere a sentença constituindo o vínculo da adoção permanentemente, tornando-se irrevogável (Art. 39, §1º, ECA).

A DEVOLUÇÃO

Muitas obras tratam do tema da adoção, mas pouquíssimos autores abordam o tema da devolução de crianças e adolescentes, especialmente no âmbito jurídico. Para Ghirardi (2015), que aborda o assunto do ponto de vista psicanalítico, o tema é tratado como um tabu pelos profissionais que lidam com adoção, pois a devolução pode representar um fracasso do trabalho da colocação da criança em adoção. Como bem aponta Carvalho (2017, p. 103-104), “não falar sobre devolução, não fará com que o fenômeno deixe de existir”.

É importante observar que o termo “devolução” é inapropriado, pois traz a ideia de restituir algo ao dono verdadeiro, como se o devolvido nunca tivesse pertencido àquele que o detinha. Segundo o dicionário Aurélio, “devolver” significa mandar de volta algo que foi entregue, remetido, esquecido, restituir algo ao dono, entregar de volta à origem ou entregar algo cuja apropriação foi indevida, algo que não lhe pertence.

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Em verdade, este é o termo utilizado pelos pais que desistem da adoção, pois reflete sua sensação de que aquela criança nunca foi seu filho de fato. Entretanto, a devolução como desistência não é direito dos adotantes, pois, iniciado o estágio de convivência, entende-se que o adotante já tomou a decisão de adotar, restando apenas a adaptação da criança ao novo lar para que seja formalizada.

Para Ghirardi (2015), os pais que devolvem evidenciam que não se sentem legitimados em relação à paternidade e maternidade daquele filho, apesar da determinação judicial nesse sentido. O modo de filiação não biológico é sentido pelos adotantes como algo ilegítimo, como se houvessem outros pais – os ‘verdadeiros’ – que geraram a criança e que, portanto, os adotivos teriam fantasias de haverem se apropriado indevidamente da criança.

Esses elementos contribuem para que as tentativas de adoção sejam frustradas, pois os adotantes se deparam com uma criança diferente da sonhada e não a aceitam como filha. Entretanto, os motivos que levam os pais a devolver uma criança são de extrema complexidade e não é possível determinar uma única causa, cabendo à psicologia analisar com mais profundidade os possíveis motivos da devolução. No presente trabalho trataremos especificamente dos aspectos jurídicos relativos do processo de adoção que resultam na devolução.

No documento http://conpdl.com.br/anaisconpdl7 (páginas 183-185)

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