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2. CONCEITOS E PRÁTICAS DE GESTÃO DE RISCOS NA CADEIA DE

2.1 Resiliência organizacional

2.1.1 Conceitos gerais e definições

Resiliência está diretamente associada à capacidade da empresa ser sustentável no longo prazo por meio do uso de práticas que mitiguem riscos associados às suas atividades de agregação de valor a seus produtos e serviços (PONOMAROV; HOLCOMB, 2009).

De acordo com Ponomarov e Holcomb (2009), a resiliência é um tema multidisciplinar, inicialmente estudado nas disciplinas de psicologia e ecossistemas, passando a ser mais estudado ultimamente na gestão de riscos e na gestão da cadeia de suprimentos. Eles ainda afirmam que mesmo nas disciplinas mais desenvolvidas as definições de resiliência são bastante contraditórias e confusas e que uma teoria universal sobre resiliência está em desenvolvimento. No entanto, é possível verificar que todas as definições dentre as perspectivas sociais, psicológicas, econômicas, ecológicas, e organizacionais (Quadro 2.1) são semelhantes em sua base e estão relacionadas ou à manutenção de suas condições ao longo do tempo, ou à recuperação após uma ruptura.

Perspectiva Definição para resiliência Autor

Ecológica Grau, forma e ritmo da restauração da estrutura e função inicial em um ecossistema após distúrbios. (WESTMAN, 1978; CLAPHAM, 1971)

Social Capacidade de um sistema, comunidade ou sociedade, potencialmente expostos a riscos, de se adaptar, resistindo ou se modificando, para alcançar e manter um nível aceitável de funcionamento e estrutura.

(UNITED NATIONS, 2005)

Psicológica

A capacidade de ser resiliente não é limitada aos

indivíduos. Resiliência é uma capacidade universal que se estende por vários níveis, de indivíduos a comunidades, para planejar, responder e se recuperar da adversidade.

(GROTBERG, 1995)

Financeira

Em geral, a resiliência econômica estática refere-se à habilidade ou capacidade de um sistema absorver ou atenuar os danos ou perdas. Uma definição mais geral, que incorpora considerações dinâmicas, é a capacidade de um sistema de se recuperar de um choque severo ou estresse. Um pressuposto da teoria do sistema é que os sistemas tentam manter a sua estabilidade mesmo quando eles mudam.

(HOLLING, 1973; PERRINGS, 1994)

Organizacional

Capacidade de ajustar e manter as funções desejáveis sob condições desafiadoras ou variantes.

(WEICK et al., 1999; BUNDERSON; SUTCLIFFE, 2002; EDMONDSON, 1999)

Capacidade dinâmica de adaptação organizacional que cresce e

desenvolve ao longo do tempo. (WILDAVSKY, 1988);

A habilidade de se recuperar de eventos que geraram rupturas ou

adversidades. (SUTCLIFFE; VOGUS, 2003)

Quadro 2.1: Definições de resiliência sob a perspectiva de diferentes disciplinas.

Fonte: Adaptado de Ponomarov e Holcomb (2009).

O Quadro 2.2 apresenta algumas definições para a resiliência a partir da abordagem de gestão de riscos na cadeia de suprimentos. Elas se assemelham à abordagem da perspectiva organizacional e a maior parte das definições apresenta um caráter reativo, pois estas geralmente estão associadas à recuperação de rupturas.

Perspectiva Definição para resiliência Autor

Gestão de riscos na cadeia de suprimentos

Habilidade de reação a rupturas inesperadas causadas por eventos como ataques terroristas ou desastres naturais e restauração das condições normais de operação.

(RICE; CANIATO, 2003) Habilidade de retomada de um nível de desempenho normal ou de

um novo estado mais desejável, após uma ruptura ou perturbação que podem ser causadas por desastres ambientais, disputas industriais, terrorismo ou expectativas de guerra.

(CHRISTOPHER; PECK, 2004)

Habilidade de retorno rápido às condições normais de operação após a falha de um ou mais componentes da cadeia.

(WILLIS; ORTIZ, 2004) Habilidade de um sistema retornar a seu estado original ou

desejado após um distúrbio. (PECK, 2005)

Habilidade de retomada de um nível de desempenho normal

(produção, serviços, atendimento, etc) após uma ruptura. (SHEFFI, 2006)

Capacidade da cadeia de suprimentos em se preparar para eventos inesperados, responder a perturbações e se recuperar mantendo a continuidade das operações no nível desejado de conectividade e de controle sobre a estrutura e função.

(PONOMAROV; HOLCOMB, 2009)

Quadro 2.2: Definições de resiliência sob a perspectiva da gestão de riscos na cadeia de suprimentos.

Rice e Caniato (2003) identificaram que o termo resiliência advém da ciência dos materiais e representa a habilidade de um material recuperar sua forma original após uma deformação que não exceda seu limite elástico.

Sheffi (2006), Peck (2005), Willis e Ortiz (2004) consideram que para as companhias, a resiliência representa sua habilidade de retomada de um nível de desempenho normal (produção, serviços, atendimento, etc) após uma ruptura ou distúrbio que pode ser causada, segundo Christopher e Peck (2004), por desastres ambientais, disputas industriais, terrorismo, bem como expectativas de guerra, e que para eles, além de retornar ao seu estado original, as organizações podem se mover para um novo estado, mais desejável, após a ruptura ou perturbação. Rice e Caniato (2003) apontam a resiliência como a habilidade de reação a rupturas inesperadas e afirmam que as organizações podem se preparar previamente para que a reação seja conseguida após as rupturas, porém não necessariamente a resiliência está relacionada apenas à ocorrência de distúrbios críticos como os apontados por eles.

Correa e Slack (1996) atribuíram ao termo robustez a habilidade de um sistema produtivo manter seus objetivos frente a distúrbios originados de fornecedores ou internamente ao sistema produtivo. Esta definição se aproxima do conceito de resiliência.

Para Hamel e Välikangas (2003), o mundo está se tornando turbulento mais rapidamente do que as empresas estão se tornando resilientes. O impacto de fatores como comportamentos irregulares de demanda, medidas para redução de custos, upgrades da tecnologia de informação, projetos de melhoria contínua, mudanças e evolução das especificações de produtos e tecnologias, e reconfigurações nas redes de suprimentos indicam que mesmo as cadeias com produtos estabelecidos no mercado, são caracterizadas por um alto grau de incerteza e constante mudança (PECK, 2005), e do mesmo modo, mesmo redes muito estáveis como os keiretsus no Japão apresentam dificuldades em manter sua estabilidade (DEDOUSSIS, 2001).

Há um exemplo de duas empresas europeias que passaram pela mesma ruptura na sua cadeia e tiveram resultados muito distintos. Ambas dependiam da mesma unidade produtora de chips para a fabricação de seus produtos. Quando ocorreu um incêndio nesta fábrica, houve uma ruptura na sua cadeia. Uma das empresas identificou o problema antes mesmo de serem informados e o chefe do grupo de melhorias imediatamente reuniu trinta peritos para viajar pela Europa, Ásia e Estados Unidos em busca de uma solução. O projeto dos chips foi alterado, um projeto para aumento de capacidade produtiva foi acelerado e sua influência foi usada para a obtenção de chips de outros fornecedores. A outra empresa, com poucos sistemas à prova de falhas e de solução de problemas, deixou de adquirir milhões de chips para o lançamento de um novo produto, perdendo participação de mercado em 3% para a concorrente (NORRMAN; JANSSON, 2004; STARR et al., 2003; RICE; CANIATO, 2003).

Os impactos na cadeia podem ocorrer tanto pela ocorrência de rupturas que afetam profundamente e repentinamente os resultados das empresas, como por meio de perdas de rendimento ou de resultados de forma gradual. Desta forma, considerando a revisão bibliográfica realizada, é concluído que a resiliência representa a capacidade da organização retomar um nível de desempenho normal ou superior após uma ruptura, ou a manutenção da estabilidade de seus resultados.