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Relacionamento da gestão de riscos na cadeia de suprimentos, flexibilidade e

2. CONCEITOS E PRÁTICAS DE GESTÃO DE RISCOS NA CADEIA DE

2.4 Relacionamento entre os conceitos abordados

2.4.2 Relacionamento da gestão de riscos na cadeia de suprimentos, flexibilidade e

Alguns fatos levantados ao longo da revisão bibliográfica são base para a construção do relacionamento entre os conceitos.

A crescente volatilidade dos mercados associada aos eventos de risco que ocorrem ao longo da cadeia e a dificuldade de reação ou prevenção destes aumentam as incertezas e a imprevisibilidade dos negócios, pois os comportamentos de seus agentes se tornam mais imprevisíveis.

Esta menor previsilibilidade está presente tanto à jusante quanto à montante da cadeia e em conjunto com as premissas de alta eficiência em custos e na gestão de ativos, originada da concorrência entre as organizações e pela disputa com os demais elos da cadeia, e com o maior grau de exigência dos clientes em relação a preço, variedade de produtos e excelência no atendimento, gera uma grande complexidade no entendimento e atendimento da demanda.

Esta maior complexidade associada à crescente busca pela eficiência operacional e à dificuldade de controle dos eventos de riscos nas cadeias, aumentam significativamente a vulnerabilidade e o risco de rupturas nas organizações e em suas cadeias.

Além disso, tal complexidade originada muitas vezes da estratégia de terceirização de atividades que aumenta a complexidade de gestão ou de internalização de atividades não centrais que exige mais controle de seus ativos, gera para as empresas uma grande dificuldade de alinhamento entre os atributos de desempenho e um desdobramento das estratégias selecionadas para a cadeia.

simultâneas configurações organizacionais para atendimento de distintas oportunidades, podendo ser necessária a criação de múltiplas cadeias, distintas entre si e com estratégias diferenciadas, buscando-se o alinhamento dinâmico entre os distintos comportamentos, a estratégia da empresa, pessoas e as operações. Neste sentido, o mau entendimento da demanda e do comportamento de compra dos clientes, associado ao desalinhamento da cadeia geram uma maior possibilidade de ocorrência de rupturas. Além disso, como apresentado anteriormente, o alinhamento dinâmico depende do momento no qual as organizações estão e situações às quais elas são submetidas, bem como da forma de competição no mercado. Monopólios, por exemplo, requerem diferentes configurações da cadeia e distinta relevância dos atributos de desempenho, assim como momento de baixa demanda requerem diferentes modelos de cadeia e de negócio, em relação a momentos nos quais a demanda excede a capacidade das organizações.

A redução da complexidade e vulnerabilidade da cadeia e o melhor alinhamento desta, gerados pelos pontos abordados anteriormente, promovem o aumento da resiliência, principalmente pela manutenção da estabilidade ao longo do tempo. Da mesma forma, para a recuperação após as rupturas, os fatos apresentados e seus efeitos, com auxílio da redução de complexidade, exigem das organizações uma maior capacidade de resposta, seja por redundância ou por readequação ágil de suas operações (flexibilidade).

Além disso, quanto maior a integração dos fluxos de materiais e de informações ao longo da cadeia e quanto mais eficientes são estas, mais atenção deve ser dada à gestão de riscos, pois maiores são os riscos e as consequências das rupturas, pois seus efeitos se espalham rapidamente afetando todo o restante da cadeia.

Neste sentido, com o maior risco de rupturas e suas consequências cada vez mais críticas, faz-se necessária a construção de uma cultura de gestão de riscos na cadeia de suprimentos que suporte a utilização de práticas que auxiliem a organização na busca pela resiliência.

Figura 2.12: Relação entre gestão de riscos na cadeia de suprimentos, flexibilidade e fatos relacionados.

Retomando outros pontos da revisão bibliográfica, pode-se dizer que a criação de visibilidade é um dos principais desafios das cadeias, porém não é tratada como prioridade. Uma maior visibilidade e controle por meio da gestão de eventos podem ser providos por cadeias mais colaborativas, permitindo maior agilidade na identificação de variabilidades e na tomada de ações corretivas ou medidas preventivas. Todavia, a cadeia deve estar preparada para reagir aos eventos de maneira flexível, reduzindo riscos de rupturas e as incertezas ao longo da cadeia e consequentemente auxiliando na manutenção da estabilidade e evitando a necessidade de recuperação após eventuais rupturas. A redução da complexidade pode ainda ser obtida a partir da redução dos lead times da cadeia, ou seja, por meio da busca pela rapidez.

A falta de confiança em uma cadeia leva os gestores a tomar decisões que podem aumentar a exposição ao risco, afetando o nível de serviço e o custo de servir da empresa. A colaboração é uma forma de mitigação dos riscos, pois a troca de informações reduz as incertezas bem como o compartilhamento de informações entre os membros da cadeia acerca do comportamento e características da demanda e a colaboração interna nas organizações podem gerar incrementos na resiliência. Igualmente, junto com uma maior visibilidade e controle e com a maior integração e alinhamento da cadeia são formas de aumentar a confiança nestas e podem auxiliar na gestão coordenada dos riscos elevando a transparência e o conhecimento desta, permitindo um maior controle sobre sua complexidade

e vulnerabilidades e auxiliando em uma eventual redefinição dos atributos de desempenho, sua reconfiguração e o realinhamento das cadeias e complementarmente estimular a agilidade de toda a cadeia para suplantar eventuais perturbações.

Para permitir que estas reconfigurações e realinhamento das cadeias sejam efetivos e que as ações para mitigação dos riscos sejam adequadas, a empresa deve se preocupar em formar lideranças que estimulem a criação de uma cultura de aprendizagem e adaptação, compromisso com as pessoas, respeito pela inovação e geração de aprendizagem.

Os conceitos de adaptabilidade sugerem que as organizações mudam e conseguem se manter transformadas ao longo do tempo. A inovação e o realinhamento de recursos podem ser formas preventivas de adaptação frente a mudanças que podem gerar rupturas e de alcance de resiliência estratégica de acordo com Välikangas e Merlyn (2005).

A capacidade de ser flexível não necessariamente leva a empresa a ser adaptável, pois a organização pode não conseguir manter as mudanças ao longo do tempo. Para se adaptar a empresa precisa mudar sua configuração, se antecipando a mudanças no ambiente em que ela se encontra buscando a manutenção de seu status ou sua superação. A flexibilidade está associada a mudanças rápidas de forma geralmente reativa frente a estímulos. Estes estímulos podem ser variabilidades dos processos, quando passíveis de serem identificadas, rupturas ou mesmo necessidades de clientes. Não basta a flexibilidade, pois a mudança pode não ser sustentável ao longo do tempo e não basta a apenas a adaptabilidade, pois em algumas ocasiões ela deve responder rapidamente a eventos disruptivos (de forma reativa), mesmo que não seja necessária a sustentabilidade de tais mudanças. Esta visão contraria o SCOR® (SUPPLY CHAIN COUNCIL INC., 2008), pois ele pressupõe que as mudanças oriundas da flexibilidade são sustentáveis no longo prazo. Podem ser, mas não necessariamente.

Além da flexibilidade, os outros atributos de desempenho indicados pelo SCOR® (SUPPLY CHAIN COUNCIL INC., 2008) podem auxiliar as organizações e cadeias na busca pela resiliência. Na verdade, um bom alinhamento entre os atributos é necessário para se alcançar um bom balanceamento das operações, e uma clareza de regras e premissas para atendimento dos clientes e execução das operações. Esta visão é compartilhada por Ponomarov e Holcomb (2009).

Cadeias mais rápidas e sincronizadas possibilitam a redução de incertezas e consequentemente da vulnerabilidade das cadeias, sendo uma das formas para alcance de

resiliência, permitindo que as cadeias sejam mais direcionadas ao mercado do que à operação, aproximando o momento da produção e da demanda e possibilitando uma menor necessidade de manutenção de estoques.

O alinhamento entre os atributos de desempenho (confiabilidade, rapidez, flexibilidade, eficiência em custos e eficiência na gestão de ativos) e a interação do início ao fim da cadeia podem aumentar sua resiliência.

Por fim, uma maior resiliência da cadeia de suprimentos, leva a uma maior sustentabilidade no longo prazo, que pode ser conseguida a partir da utilização de ferramentas como o BCP (Business Continuity Planning) apresentado por Rice e Caniato (2003), que compreende o desenvolvimento de planos para alcance de resiliência, tendo como base o quanto as organizações desejam ser resilientes, como conseguir atingir os níveis desejados de resiliência e a partir de que medidas e como desenvolver sistemas de backup, por exemplo.

Todas as relações apresentadas nesta etapa estão consideradas na Figura 2.13 e o diagrama geral, com todos os conceitos apresentados anteriormente, está representado na Figura 2.14. Tal relacionamento e o esclarecimento dos conceitos analisados direcionou a elaboração do questionário para realização da pesquisa de campo.

O diagrama de relação entre os conceitos é uma sintetização realizada a partir de todos os conceitos verificados, não existindo na literatura e sendo desta forma uma proposição deste trabalho. Este diagrama é retomado na seção de análises de resultados, uma vez que ele representa a relação de causa e efeito entre os conceitos de flexibilidade, gestão de riscos na cadeia de suprimentos e resiliência, relação esta que valida parte do primeiro objetivo específico de pesquisa determinado.