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2. CONCEITOS E PRÁTICAS DE GESTÃO DE RISCOS NA CADEIA DE

2.3 Flexibilidade

2.3.3 Dimensões da flexibilidade

Os autores geralmente se referem à flexibilidade somente por mix ou volume, sendo que a maioria das literaturas identificadas ao longo da pesquisa, muitas não citadas no estudo, aborda a flexibilidade sem fazer qualquer menção ao seu tipo, ou dimensão e representam apenas uma destas duas dimensões. Para Slack (1993) flexibilidade de mix representa a habilidade de alteração da variedade de produtos na operação, dentro de um período de tempo determinado, e a flexibilidade de volume, a capacidade de alteração no nível agregado das saídas da operação.

A APICS (American Production and Inventory Control Society) utiliza o modelo SCOR® (Supply Chain Operations Reference Model) como referencial teórico para discussão sobre operações nas cadeias. Ela consolida a visão de profissionais de várias indústrias sobre aspectos relacionados à gestão de operações na cadeia de suprimentos. As métricas propostas pelo SCOR® para flexibilidade e adaptabilidade dentro do atributo de desempenho “agilidade” abordam somente a dimensão volume (SUPPLY CHAIN COUNCIL INC., 2008). Já Sharifi et al. (1998) abordam somente o mix, assim como Godinho e Fernandes (2005). Para Matson e McFarlane (1998), flexibilidade é a habilidade de mudança do mix, volume e tempo das saídas. Slack (1993) soma a estes a flexibilidade de novos produtos e denomina a dimensão tempo de entrega.

A dimensão de novos produtos representa a capacidade de introdução de novos produtos ou de modificação dos existentes e a dimensão entrega, a capacidade de mudança nas datas de entrega planejadas ou assumidas.

Anand e Ward (2004) não abordam entrega, apenas mix, volume e a flexibilidade de produtos e processos. Garvin (1993) aponta estas três últimas dimensões e o mix implícito em uma destas, derivando-as da seguinte forma:

a) flexibilidade de produtos; - novos produtos; - customizações; - modificações. b) flexibilidade de volume; - incerteza de previsões; - rampas de produção. c) flexibilidade de processos. - flexibilidade de mix;

- flexibilidade na troca de produtos; - flexibilidade de roteiros;

- flexibilidade de material;

- flexibilidade de sequenciamento.

Além destes pontos, Garvin (1993) aborda a flexibilidade de ordens e de expedição associadas ao objetivo estratégico de entrega, sendo que a primeira está relacionada aos limites de tamanho e diversidade de produtos por ordem, e a segunda em relação ao reagendamento de entregas (tempo ou entrega para outros autores).

Godinho e Fernandes (2005) apenas dividem a flexibilidade em 2 níveis (flexibilidade1 e flexibilidade2). Ambos se referem à diferenciação de produtos. Na primeira o processo é capaz de fornecer diferenciação, porém com pequena variedade de produtos alternativos e bastante similares e na segunda com grande variedade de produtos distintos. Sério e Duarte (2000) apresentam a flexibilidade de novos produtos.

Sério e Duarte (2000) também abordam mix, volume e entrega. Eles apresentam outras nove dimensões, que se confundem com objetivos e meios de se atingir a flexibilidade. Consideram que a flexibilidade possui significados distintos para diferentes pessoas. Por exemplo, para um engenheiro que trabalha na produção, pode significar produzir

diferentes produtos ou até capacidade de adaptação ou mudança, já para o cliente pode ser a habilidade de mudar datas programadas de entrega. Eles sugerem as seguintes dimensões:

a) flexibilidade social extraempresa: relativa à legislação e regulamentação social e sindical;

b) flexibilidade estratégica: capacidade de mudança da estratégia econômica, social, etc;

c) flexibilidade de novos produtos: habilidade de introdução de novos produtos ou modificação dos existentes;

d) flexibilidade de mix: habilidade de mudança da variedade de produtos dentro de um determinado período de tempo;

e) flexibilidade de volume: habilidade de mudança do nível agregado de saídas da operação;

f) flexibilidade de entrega: habilidade de mudança nas datas de entrega planejadas ou assumidas;

g) flexibilidade para suportar o mau funcionamento do processo produtivo: relativo à capacidade de resposta a imprevistos e incidentes na produção; h) flexibilidade para suportar problemas com fornecedores: referente a

problemas de qualidade como variabilidade de matéria prima e atrasos nas datas de recebimento;

i) flexibilidade para suportar erros de previsão: em relação direta com a acuidade, presteza e funcionalidade do sistema de informações para gestão, por exemplo, a capacidade para mudar a sequência da produção devido a problemas de previsão de vendas, ou necessidade de usar equipamento diferente do previsto para a produção de um dado mix e volume se o equipamento previsto estiver sendo utilizado para outra ordem de fabricação;

j) flexibilidade de tecnologia do processo: relacionado à flexibilidade de recursos;

l) flexibilidade das redes de suprimento: ter uma rede de suprimentos altamente flexível favorece aos consumidores que podem querer atrasar ou adiantar o recebimento de seus produtos.

A flexibilidade para suportar o mau funcionamento do processo produtivo, problemas com fornecedores ou erros de previsão são apenas fins para a utilização das outras anteriormente citadas. As dimensões tecnologia do processo, recursos humanos, social extraempresa e estratégica são apenas meios de alcançar os tipos de flexibilidade.

Slack (1993) apresenta outros fins para a utilização da flexibilidade. O aumento da variedade de produtos, a suplantação de incertezas no curto e longo prazo e a suplantação da ignorância, sendo que aconselha a não construção de flexibilidade para este último objetivo, pela sua ineficiência, por não se saber para o que a flexibilidade será utilizada.

Martins (1993) coloca como fins, a variedade de peças e produtos, o atendimento de variações de cargas de trabalho, suporte a erros de previsão e mau funcionamento do sistema, por exemplo, falhas no fornecimento.

Anand e Ward (2004) apresentam os conceitos de mobilidade (habilidade de alterar produção - mix/volume) e range (habilidade de gerenciar diversidade de produtos/ processos).

Gerwin (1993) aborda além da flexibilidade de mix, volume e tempo, a flexibilidade de inovação em produtos para extensão de seu ciclo de vida, a qual ele denomina transição. Esta dimensão é mais voltada à adaptabilidade do que à flexibilidade, pois sugere que há um aprendizado organizacional que leva a empresa a inovar antecipando tendências futuras que a farão ganhar competitividade no mercado. Também é proposta uma dimensão relacionada à alteração da qualidade dos produtos a partir da utilização de materiais com diferentes características, que pode ser considerada um meio para atingir a flexibilidade, e a flexibilidade de geração de características específicas dos produtos para atendimento das expectativas individuais dos clientes, a qual ele denomina modificação e que pode ser comparada à customabilidade, ou à flexibilidade 2 citada por Godinho e Fernandes (2005).

O Quadro 2.9 apresenta o resumo da abordagem dos autores sobre as dimensões da flexibilidade.

Quadro 2.9: Abordagem dos autores sobre as dimensões de flexibilidade.

Verifica-se que as dimensões de mix, volume, produtos/processos e tempo são as mais identificadas nesta ordem. Em relação a serviços poucos autores consideraram sua existência.