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CONCEITOS: PONTES OU PAREDES PARA A EFETIVAÇÃO DOS PROCESSOS

Como já salientei, a inclusão da pessoa com deficiência no Brasil é um direito que está ancorado em inúmeras leis que tornaram esta uma obrigatoriedade legal. Porém, também entendo que é importante refletir em que contexto as pessoas com deficiência estão sendo

recebidas, que recursos estão sendo oferecidos a este público de forma a favorecer o processo de inclusão, e de que forma os conceitos estão envolvidos neste processo.

Tal como já relatei, a história da inclusão no Brasil teve um maior movimento inclusivo nas ultimas três décadas. A elaboração e a implementação de leis específicas sobre o tema abriu espaço para diversas iniciativas inclusivas. Volto a ressaltar que a lei é bastante clara quando se refere à inclusão, quanto à necessidade de oferecer atendimento e acessibilidade adequados a este público, ainda que nem sempre esses preceitos sejam seguidos conforme determina a legislação vigente.

Bersch (2013, p. 1) enfatiza que muitas vezes “não se considera que as pessoas com deficiência são diferentes entre si, vivem em contextos diferentes e enfrentam problemas únicos de participação e desempenho de tarefas, nos lugares onde vivem”. Assim, vale destacar que não existe um conceito universal de inclusão que abrangerá todas as necessidades de todas as pessoas com a mesma deficiência, cada processo inclusivo deve ser pensado considerando as necessidades singulares de cada ser humano de forma individualizada.

Na conclusão de seu relato de pesquisa, Martins e Silva (2007, p. 12) afirmam “[...] que a deficiência não é o único fator que provoca exclusão, mas que as diferenças individuais – muitas vezes – são determinantes para a não aceitação”. Sendo assim, entendo que é necessário um trabalho maior de conhecimento e reconhecimento da necessidade de respeito à diversidade humana e seus diversos aspectos singulares.

É desta forma que podemos perceber como o conceito que se faz acerca das deficiências e, consequentemente, das pessoas com deficiência, pode ser um fator relevante que pode culminar com a construção de pontes ou de paredes nos processos inclusivos.

Quando falo de pontes e paredes, refiro-me às pontes que simbolizam a aproximação, o respeito às diferenças, uma ligação entre partes opostas e distintas. Já com a imagem das paredes, gostaria de simbolizar os obstáculos que funcionam de forma inversamente proporcional à ideia de pontes, estando intimamente relacionados com os preconceitos que

impossibilitam o entendimento do outro, e em virtude disso precisam ser derrubadas. Neste sentido, para elaborar esta reflexão, encontrei inspiração na sabedoria popularizada por

Saint-Exupery que dizia serem as pessoas solitárias por que constroem paredes em vez de pontes13.

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Os conceitos podem situar-se como aliados dos processos inclusivos referentes às pessoas com deficiência, e seu correto entendimento pode significar avanços e contribuir de forma efetiva para a inclusão propriamente dita. Entretanto, gostaria de afirmar a necessidade de ampliação das discussões sobre o tema, para facilitar e favorecer a compreensão deste por uma quantidade mais abrangente de pessoas, bem como a realização de novos estudos e maior engajamento quanto às práticas das políticas públicas já existentes que favorecem o acesso das pessoas com deficiência aos diversos contextos sociais.

Desta forma, percebo que para todos os envolvidos com processos inclusivos é muito importante aprender a utilizar bem os conceitos de forma que estes não sirvam como alimentos para antigos e novos preconceitos.

Qualquer forma de preconceito é prejudicial aos processos inclusivos, tanto do ponto de vista individual, quanto do coletivo. Assim é preciso combater os preconceitos através da adoção de meios para difusão de informações, ampliação de acesso à educação e convivência com o diferente, já que somos todos diferentes. A socialização e a inclusão da pessoa com deficiência pode auxiliar nos processos de desmistificação de estereótipos oriundos de conceitos equivocados e de preconceitos, ainda que latentes.

E finalmente, mas de forma não menos importante, entendo que é necessário um investimento maciço na preparação mais abrangente da sociedade como um todo e especialmente de profissionais para atuação com pessoas e crianças com deficiência de forma a potencializar o desenvolvimento delas. Esse é um processo que implica numa construção diária de pontes que intermedeiem processos de inclusão. Este é um caminho possível para que possamos estabelecer relações humanas minimizadoras das limitações, estimuladoras de potencialidades e mediadoras da inclusão, contribuindo assim para a remoção de velhas paredes e construção de novas pontes.

3 BASES METODOLÓGICAS

A ciência não corresponde a um mundo a descrever. Ela corresponde a um mundo a construir. (BACHELARD, apud GOLDENBERG, 2011, p. 13)

De forma mais ampla e abrangente pode-se entender a pesquisa como um “conjunto de atividades orientadas para a busca de determinado conhecimento” (RUDIO, 2012, p. 9). Para o autor:

A fim de merecer o qualitativo de científica, a pesquisa deve ser feita de modo sistematizado, utilizando para isto método próprio e técnicas específicas e procurando um conhecimento que se refira à realidade empírica. Os resultados obtidos devem ser apresentados de forma peculiar. Desta maneira, a pesquisa científica se distingue de outra modalidade qualquer de pesquisa pelo método, pelas técnicas, por estar voltada para a realidade empírica e pela forma de comunicar o conhecimento obtido. (RUDIO, 2012, p. 9)

De acordo com o que enfatiza Goldenberg (2011), gostaria de destacar que não é possível controlar totalmente uma pesquisa, prevendo seu “início, meio e fim”, e por este motivo “o pesquisador está sempre em estado de tensão porque sabe que seu conhecimento é parcial e limitado – o „possível‟ para ele.” (GOLDENBERG, 2011, p. 13)

Desta forma, baseada na afirmativa de Goldenberg (2011) supracitada, admito as limitações desse estudo e de sua metodologia. Assim, por questões humanas, por reconhecer ainda escassa minha experiência com o fazer da pesquisa, quero deixar claro que utilizei a melhor metodologia possível dentro das minhas limitações, mas com a dedicação e a ética imprescindíveis à realização de uma pesquisa de cunho social que tem por objetivo maior contribuir com a construção de uma sociedade mais inclusiva.

Assim, objetivando a construção de uma “ponte” que faça a mediação do percurso entre o conhecimento teórico e a realidade empírica, descrevo neste tópico os aspectos referentes à caracterização do estudo, do objeto estudado e dos participantes, bem como os métodos e técnicas de pesquisa que foram utilizados.

Gil (2012) entende o método como uma rota para se chegar a determinado fim e o método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para a construção do conhecimento. Concordo com Goldenberg (2011) quando este autor considera a metodologia como o caminho da pesquisa científica, afirmando que existem vários caminhos metodológicos possíveis e o que determina a direção a ser seguida é o problema

com o qual trabalhamos, ou seja, “só se escolhe o caminho quando se sabe aonde se quer chegar.”. (GOLDENBERG, 2011, p.14)