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4.3 ESCOLA RESPEITO

4.3.2 O que dizem as professoras da Escola Respeito

4.3.2.3 Professora Ivone

A professora Ivone está atuando, neste ano de 2015, exclusivamente como professora de inglês do Ensino Fundamental I, em diversas turmas. Conforme a mesma relatou, no ano passado atuava com o quarto ano em um turno e no outro como professora de inglês.

De todas as docentes entrevistadas a professora Ivone foi a que possuía mais tempo de docência entre todas as participantes desse estudo, com 31 anos de experiência na educação. Ela trabalha nos dois turnos na Escola Respeito, há 15 anos. De acordo com a professora ela tem um bom tempo de atuação com alunos com deficiência, porém a mesma informou que de forma mais precisa seriam uns 10 anos.

Formada em Magistério, com graduação em Letras, sendo a única, entre as nove entrevistadas para este estudo, a cursar um curso no nível de pós-graduação (Psicopedagogia). Apesar da correria no dia-dia da professora Ivone, a mesma se dispôs pronta e voluntariamente a participar desse estudo, e por conta do tempo corrido realizamos a entrevistas em dois períodos, sendo no intervalo e no final das aulas, no turno vespertino. Por esse motivo a entrevista da professora ficou com dois arquivos de áudios gravados.

O relato da professora Ivone foi de uma riqueza incrível, a mesma colocou de forma literal toda sua experiência profissional em seu relato para este estudo, tanto na entrevista quanto em conversa informal.

A professora enfatizou que sua principal preocupação quanto ao aluno com deficiência é:

Que ele não vai ser igual aos outros, mas ele precisa caminhar do jeito dele. Eu preciso fazer com que ele aprenda alguma coisa. Se ele sair aprendendo o nº 1 eu já fiz alguma coisa. Ele não precisa ser igual a ninguém não. (IVONE, ESCOLA RESPEITO, 2015, grifos meus)

A avaliação fisioterapêutica, realizada no início de uma terapêutica e em períodos alternados ao longo da mesma, é baseada na funcionalidade, como dito anteriormente. Assim, ainda que a patologia tenha obviamente um peso na decisão terapêutica, um dos pontos mais importantes é a questão funcional. Desta forma, como já dito anteriormente, o tratamento fisioterápico é, ou deveria ser, totalmente individualizado, uma vez que a mesma patologia pode ter impactos completamente diferenciados em duas pessoas distintas.

De acordo com O‟Sullivan e Schmitz (2010):

Uma tomada de decisão clínica organizada permite que o terapeuta planeje sistematicamente tratamentos eficazes. [...] A participação do paciente no planejamento é essencial para garantir resultados bem sucedidos. A prática baseada em evidência permite que o terapeuta selecione intervenções que possa fornecer uma alteração significativa na vida dos pacientes. Inerentes ao sucesso do terapeuta nesse processo são uma base de conhecimento e experiência adequadas, estratégias de processamento cognitivo, estratégias de auto monitoramento e habilidades de comunicação e ensino. (O‟SULLIVAN; SCHMITZ 2010, p. 22)

Desta forma, chamo a atenção para a importância do saber avaliar e respeitar as diferenças de cada um, como na própria declaração da professora, ao afirmar que “ele não precisa ser igual a ninguém.” e nos preceitos de avaliação na Fisioterapia tal parâmetro configura-se como de extrema importância.

No capítulo inicial do seu livro, Fisioterapia Pediátrica, intitulado “Atendendo às necessidades das crianças e de suas famílias”, Effgen (2007) orienta aos fisioterapeutas que:

Nossa responsabilidade é dar suporte, orientação e atendimento específico, assim como preparar a criança e sua família para quando os nossos serviços não forem mais necessários. Fisioterapeutas competentes esgotam os limites da função. Isso não quer dizer que todas as crianças atinjam as metas e objetivos desejados, mas que nós podemos ajudá-las a alcançar o máximo de seu potencial e reconhecer quando não mais podemos contribuir para seu desenvolvimento em relação à essas metas e esses objetivos. (EFFGEN, 2007, p. 3, grifos meus)

Perguntei a professora, durante a entrevista, sobre o que seria necessário para um melhor aprendizado da criança com deficiência, a professora respondeu que se faziam necessários:

[...] Recursos, acolhimento, o espaço e o próprio Estado, o governo fazer alguma coisa para capacitar os professores gratuitamente. Hoje muita informação que você tem o professor tem que pagar. Ele não tem acesso a ficar fazendo só gratuito não. É tudo pago. O que ele faz como estágio de faculdade não é suficiente. Então o governo teria que pagar. Olhe você quer trabalhar com deficiência? Então vou pegar você e capacitar. (IVONE, ESCOLA RESPEITO, 2015, grifos meus)

E acerca da participação do aluno nas atividades propostas, a mesma destacou que:

Se ele é estimulado, se ele é monitorado, ele vai ter um bom rendimento. Apesar de que tem alunos que tem dificuldade de concentração. Aluno com retardo mental, às vezes ele fica impaciente e não consegue entender e não quer fazer mais. Você precisa estar estimulando o tempo todo, colocando ele no meio do grupo. Vai fazer uma dramatização, você coloca. Vai fazer uma atividade total, você coloca... Dá um exemplo de uma atividade na sala, se você coloca, ele se sente no meio daquilo, fazendo parte daquilo. (IVONE, ESCOLA RESPEITO, 2015, grifos meus)

Acredito que um dos textos mais pertinentes para este momento seja um dos muitos escritos por Rubem Alves. Ao compartilhar seus saberes e sua experiência na Escola da Ponte, em seu livro “A escola que sempre sonhei sem imaginar que já existia”, Rubem Alves (2012) narrou o que viu da seguinte forma, e é o que, de certa forma, desejo ver na escola regular brasileira:

Na Escola da Ponte é assim. As crianças que sabem ensinam as crianças que não sabem. Isso não é exceção. É a rotina do dia a dia. A aprendizagem e o ensino são um empreendimento comunitário, uma expressão de solidariedade. Mais que aprender saberes, as crianças estão aprendendo valores. A ética perpassa silenciosamente, sem explicações, as relações naquela sala imensa. Na outra parede encontrei dois quadros de aviso. Num deles estava afixada a frase: “Tenho necessidade de ajuda em...”. E no outro, a frase: “Posso ajudar em...”. Qualquer criança que esteja tendo dificuldades em qualquer assunto coloca ali o assunto em que está tendo dificuldades e o seu nome. Um outro colega, vendo o pedido, vai ajudá-la. E qualquer criança que se ache em condições de ajudar em algum assunto coloca ali o assunto em que se julga competente e o seu nome. Assim vai se formando uma rede de relações de ajuda. (ALVES, 2012, p. 45, grifos meus)