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Conceitos e significados das parcerias entre Estado e sociedade civil

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2.4 AS VÁRIAS FACES DAS PARCERIAS ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL

2.4.1 Conceitos e significados das parcerias entre Estado e sociedade civil

Procurando evitar o simplismo ao buscar o entendimento do significado da palavra parceria, encontramos, no Dicionário Aurélio Eletrônico (FERREIRA, 1999) os significados: “[Por *parceiria < parceiro + -ia.] S. f. 1. Reunião de pessoas para um fim de interesse comum; sociedade, companhia. 2. Bras. Grupo de dois ou mais compositores de música popular”. Essa definição remete a expressão parceiro, que possui diferentes acepções: “Do lat. partiariu, por via popular. Adj. 1. Igual, semelhante, parelho, par. S.m. 2. Aquele que está de parceria; comparte, quinhoeiro, sócio. 3. V.

cúmplice (2). 4. Par, companheiro, consorte. 5. Pessoa com quem se joga. 6. Pop.

Finório, espertalhão”.

Observa-se que a palavra parceria, embora diga respeito ao

compartilhamento de interesses comuns por parceiros comporta, conforme expresso na

língua portuguesa, significados complementares: 1. como adjetiv., significa aqueles que possuem características semelhantes e/ou equivalentes; 2. como substantivo

masculino, remete à pessoa ou coisa que está na parceria, participante, solidário; 3.

remete a cumplicidade, colaboração; 4. igual, que acompanha, cônjuge. Porém nas duas últimas significações, inclusive na linguagem popular, trazem, sentidos que, se comparados aos anteriores, são contraditórios: 5. jogador; 6. indivíduo sagaz, esperto,

ladino, malicioso, astuto, intelectualmente fino. Logo, além de entender o conceito de parceria, é necessário conhecer as várias nuances sobre os parceiros, assim como, em qual situação e disciplina as expressões são utilizadas.

Na abordagem da Economia, o conceito de parceria é originado a partir da Teoria dos Jogos. Segundo Gremaud e Braga (2001) essa teoria, datada de 1944, a partir de Von Neumann e Morgenstern, baseia-se em um conjunto de regras que descrevem uma realidade, delimitando as ações possíveis dos agentes (jogadores), nos quais estes tomam decisões de modo racional e maximizador, baseando-se no conjunto de informações e de resultados (payoff’s – “pagamento de dívidas”). Daí nascem jogos não-cooperativos e cooperativos; os primeiros, caracterizados pela tomada de decisões baseadas na lógica da “dominância” e “maxmin”, os segundos, na busca do conceito de equilíbrio e de não arrependimento, com base na lógica das parcerias.

Para a Sociologia Relacional54, enfatizada por Tenório (2000, p. 21), as parcerias são:

processos de ação recíproca, nos quais os interesses devem ser compartilhados em prol de objetivos comuns [...] tendo como característica o fato de serem relações sociais sob as quais nexos são estabelecidos entre diferentes atores – organizações, Estados, pessoas, comunidades, etc –, numa perspectiva de que os interesses sejam atendidos de comum acordo.

No âmbito psicosocial, Moura (1995, p.163) conceitua parceria como “a condição de ‘ser parte’ que, na sua essência, supõe igualdade, que está baseada no ‘ser’. A parceria só se realiza por meio da criação de uma comunidade (comum- unidade, que é também comum-identidade)”.

Trazendo o conceito para o âmbito das relações entre Estado e sociedade civil, remete-se aos distintos campos do saber, já citados anteriormente, e às concepções políticas e interesses de quem os define.

54 Para Marques apud Tenório (2000, p.41), a Sociologia Relacional, “parte de uma série de situações

concretas para investigar a interação entre, de um lado, as estruturas presentes, constituídas pelos padrões de interações e trocas e as posições particulares dos vários atores, e, de outro, as ações, estratégias, constrangimentos, identidades e valores de tais agentes”.

Sobre o significado da parceria como estratégia de terceirização, ou compra de serviços - como proposto por Bresser Pereira, Bacchetto (1998, p.67) alerta que “[...] estabelecer uma parceria não é a mesma coisa que comprar serviços de terceiros...”, ou seja, não significa uma “privatização rentável” conforme explicado anteriormente, “significa compartilhar decisões e dividir responsabilidades no esforço de alcançar objetivos comuns”.

Aproximando-se desse ponto de vista, Soares (2001, p. 5) afirma que

quando falamos em parceria, estamos falando de uma relação que é muito mais do que simplesmente “nós pagamos, vocês executam”, ou “nós apoiamos, vocês fazem nosso comercial”. A relação de parcerias exige um comprometimento de todos para o alcance dos resultados desejados, mesmo

que os objetivos dos parceiros sejam diferentes, mas o interesse maior

deve ser comum. (grifo meu)

Estudando as relações entre Estado e sociedade civil no Brasil, sob o olhar de teóricos ingleses e americanos, Mendonça (2003, p. 9) reporta-se ao conceito de “sinergia”, definido por Evans (1997), para descrever o compromisso público e civil em direção a uma boa governance. Como requisito para tal, identifica duas formas de relação entre Estado e sociedade civil: complementarity (“complementaridade”), que consisti nas relações de suporte mútuo, sugere uma clara divisão de trabalho e baseia- se nas diferentes características das instituições públicas e privadas. Seria uma combinação entre os paradigmas da economia institucional e da administração pública; e embeddedness (“enraizamento, encaixamento”), conexões entre cidadãos e funcionários públicos acima da divisão público / privado, tendo por base o conceito de capital social55.

Na mesma direção, Lustosa (2001, p.5), discutindo a gestão pública empreendedora, define a necessária parceria “como uma ação conjunta que presume compartilhar objetivos, preservar a individualidade, dividir o ônus e o bônus...”

Longe da pretensão de estabelecer uma definição, mediante os conceitos apresentados, entendo as parcerias como um processo dialético em construção no

55 O conceito de capital social está ligado a “valores sociais compartilhados, a capacidade para atuar

sinergicamente e de gerar redes e sistemas de colaboração no interior da comunidade” (KLIKSBERG

Brasil, que realmente pressupõe a complementaridade para consecução de objetivos, respeitando as individualidades dos parceiros. Ou seja, trata-se de um processo de mobilização social56, que necessita de prévia negociação e do planejamento à avaliação de ações, para superar as possíveis divergências e otimizar as convergências de identidade. Deve-se, assim, buscar estabelecer relações institucionais e organizacionais baseadas na cultura do ganha-ganha57, e não na cultura impositiva do

“se você fizer isso, ganha tanto” ou “o recurso só será liberado mediante esta condição” (ARAÚJO, 2002a).