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DEFICIÊNCIA: PROCESSOS DE DESCENTRALIZAÇÃO, DESCONCENTRAÇÃO E MUDANÇAS NAS PARCERIAS PELA INCLUSÃO

4.2 INTEGRAÇÃO E/OU INCLUSÃO?

Nesta seção apresentam-se os principais resultados encontrados na pesquisa, buscando analisar os discursos, manifestos e latentes, e práticas relativas às relações estabelecidas entre Estado e sociedade civil em torno da integração e inclusão. A análise do tema se servirá do exame de relatórios de gestão da SEESP, leis e pronunciamentos entre o período de 1996 a 2006, além das entrevistas feitas para esta investigação e estatísticas oficiais. Busco, dessa forma, recompor os cenários em que se desenvolvem as aproximações e confrontos do governo com as organizações especializadas.

A análise dos Relatórios de Gestão da SEESP / MEC não permitiu, em muitos aspectos, a comparação de dados dos programas e projetos desenvolvidos em parceria com as organizações especializadas, tendo em vista que eles não apresentam nenhum tipo de padronização quanto à forma e ao conteúdo de um ano para outro. Outrossim, não há uma regularidade de publicação destes, já que anteriormente não existia uma exigência oficial nesse aspecto. Somente foi criada uma cultura de demonstração de resultados da SEESP, a partir de 1998, por determinação da então Secretária Marilene Ribeiro121. Surge, então, o primeiro documento analisado que sintetiza resultados dos anos de 1994 a 1998.

Considerando tais limites, não se pretendeu esgotar a análise de dados e informações contidas nos documentos e entrevistas, mas pontuar aspectos julgados relevantes no contexto do tema aqui estudado, na dinâmica da Política da Educação

Especial e nas propostas de integração e inclusão. Por meio da leitura crítica dos resultados dos programas e projetos da SEESP descritos e da utilização dos termos inclusão / integração por diferentes atores, pode-se chegar à divisão de três períodos distintos no período pós LDBEN / 96 que categorizaram as relações intersetoriais em nome da inclusão / integração:

– De 1996 a 1999 – A Transição e Adequação do Discurso da Integração e Inclusão. – De 2000 a 2002 – O Aperfeiçoamento e as Tensões nos Discursos e Práticas em Nome da Inclusão.

– A partir de 2003... – A Revolução nas Práticas das Parcerias em Nome da Inclusão

4.2.1 De 1996 a 1999 – A transição e adequação do discurso da integração e da inclusão

De acordo com os discursos e fatos encontrados, considerei o período entre 1996 a 1999 como de transição e adequação de falas, posturas e ações voltadas à integração e inclusão, e de implicações nas relações entre a SEESP e as organizações especializadas.

O Relatório de Gestão da SEESP 1994-1998 (versão ampliada) analisado traz um memorial mostrando a retomada do status da Educação Especial pela SEESP, entre 1990 e 1992. Mostra-se, desse modo, a ênfase na busca do lócus da Educação Especial. Do ponto de vista político, criou-se uma secretaria própria no mesmo nível hierárquico de outras secretarias do MEC, ampliaram-se os recursos financeiros e a melhorou-se a infra-estrutura física e humana da SEESP. Do ponto de vista técnico, desenvolveu-se ações que “asseguraram a expansão e melhoria da qualidade da Educação Especial em todo o país” (BRASIL, 1998, p. 1). A prioridade era a definição da Política Nacional de Educação Especial, que até então não estava consolidada em um único documento e que era cobrada pelos segmentos sociais envolvidos com área da pessoa com deficiência.

Levantavam-se como principais problemas, além do preconceito social, dificuldades quanto à rede física, às metodologias, aos meios pedagógicos e à insuficiência de recursos humanos qualificados. O objetivo principal declarado era

a “universalização do atendimento educacional especializado a todo o alunado que dele necessita, e cujas diferenças individuais devem ser respeitadas” (BRASIL, SEESP, 1998, p.2). Para isso, propunha-se ampla mobilização do governo e sociedade, num relacionamento consentido, em que se dá total ênfase às parcerias. Exemplo disso é o relato das ações desenvolvidas em 1995, em que aparecem como principais ações “o fortalecimento das instituições especializadas, visando, na perspectiva dos alunos, à melhoria para sua efetiva integração na sociedade” (BRASIL, SEESP, 1998, p. 4, grifo meu). O governo buscava melhorar os mecanismos de articulação com as organizações especializadas, no que se refere ao repasse de recursos financeiros e à reorganização dessas entidades, direcionando-as pelas orientações técnico-pedagógicas da Secretaria.

No final de 1996, com a LBDEN, já comentada no capítulo anterior, caracteriza-se um marco reforçador e organizador da Política de Educação Especial. Considerada um avanço em termos de garantia da educação para as pessoas com deficiência. De um lado, promete lutar pelo acesso ao ensino comum e, por outro, fortalece e posiciona a oferta de ensino especializado no âmbito das organizações privadas. Mesmo com as interpretações diversas quanto aos sentidos da integração, fundamentados pelo acesso preferencial às escolas comuns, percebe-se que a nova proposta vai sendo professada cuidadosamente.

Um tema relevante encontrado nas entrevistas e documentos diz respeito ao reforço à legalidade das parcerias, explicitada na LDBEN, no Art. 60, quando garante que o Estado irá apoiar técnico e financeiramente as organizações especializadas, independentemente da integração preferencial dos alunos na rede pública de ensino comum. Nesse sentido, a Lei demonstra um avanço no ponto de vista da sociedade civil, como afirmado por um dos entrevistados (OE 2):

É claro que a LDB trouxe impactos. Primeiro, que é uma referência legal para que você possa fazer a exigência, não é mais uma base altruística ou poética... Temos um marco e referencial legal que propicia a chegar já com alguma autoridade. Em segundo lugar, a LDB propiciou também que o Ministério [MEC], os conselhos estaduais, municipais e nacional de educação tivessem que se manifestar legalmente com relação a questão da

organização do atendimento ao aluno com deficiência. Então, isso tem

dado para nós uma condição de organização que antes não existia, e que era o que deixava a educação especial muito perdida, porque inclusive quem a fazia, criava o seu próprio modelo educacional. (grifos meus)

Percebe-se, assim, o quanto a LDBEN / 96 representa, no âmbito político, enquanto instrumento de defesa e proteção legal, e, no âmbito técnico, quanto à