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2.2. Valores organizacionais

2.2.1. Conceituação de valores organizacionais

Os valores organizacionais referem-se aos valores compartilhados pelos membros de uma organização, caracterizando sua cultura como distinta das demais. De acordo com Enz (1988), os valores estão relacionados à ênfase sobre preferências que os indivíduos ordenam e sustentam em relação a meios e fins desejados e que as organizações adotam.

Meglino e Ravlin (1998) salientam que os valores dos membros de uma organização podem determinar os valores da organização como um todo. Argumentam que, da mesma forma que os valores pessoais norteiam o comportamento dos indivíduos, os valores de uma organização compõem a sua cultura e indicam o comportamento necessário para sua adaptação e sobrevivência no ambiente, bem como conduzem as interações entre os funcionários no ambiente de trabalho.

Conforme Schein (1992), a cultura de uma organização envolve elementos cognitivos, emocionais e comportamentais dos grupos que a integram, é construída através da história e das experiências compartilhadas pelos membros desses grupos e constitui-se como uma forma de integração, envolvendo rituais, valores e comportamentos compartilhados entre os grupos.

De acordo com Schein (1992), a cultura de uma organização pode ser estudada através da análise de seus artefatos (os quais envolvem a tecnologia, os produtos, as características do ambiente interno); dos valores esposados (que constituem as justificativas, estratégias observadas e os objetivos das organizações, sendo que podem ser compartilhados entre os membros como algo que identifica a forma de agir da organização); e das crenças, percepções, pensamentos e sentimentos dos membros da organização como um todo. Nesta perspectiva, os valores esposados podem ser identificados através de documentos e são declarados pela organização, bem como identificados por seus funcionários.

Kabanoff e Daly (2002) realizaram um estudo no qual identificaram tipos de organizações, levando em conta seus valores declarados no que se refere à centralização e hierarquia em termos estruturais, refletindo a distribuição do poder na alocação dos recursos;

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e à forma como ocorrem os processos internos, no que tange às políticas e práticas internas das organizações. Estes autores fazem a consideração de que os valores, sendo declarados e podendo ser utilizados em proveito dos objetivos dos gestores das organizações, inclusive no que se refere à relação da organização com seus stakeholders, podem influenciar as práticas organizacionais, embora não correspondam aos valores organizacionais compartilhados entre os membros da organização.

Tamayo (1998) considera que os valores organizacionais correspondem aos valores percebidos pelos funcionários como característicos de uma organização, e que tornam-se importantes na própria construção da identidade da organização.

Os valores organizacionais podem ser definidos como “princípios ou crenças, organizados hierarquicamente, relativos a estados de existência ou a modelos de comportamento desejáveis, que orientam a vida da empresa e estão ao serviço de interesses individuais, coletivos ou mistos” (TAMAYO e GONDIM, 1996, p. 63). Neste sentido, os valores organizacionais são compartilhados pelos membros da organização e têm implicações em seus comportamentos, não sendo necessariamente declarados por documentos da organização, mas sim percebidos e compartilhados por seus membros.

Deve-se observar, como colocam Tamayo, Mendes e Paz (2000), que a pesquisa que procura identificar valores organizacionais não pode se resumir à análise dos documentos formais de uma organização, sendo que existe, normalmente, uma incongruência entre os valores declarados nos papéis e os valores realmente praticados e percebidos no ambiente de trabalho das organizações.

Murphy e Davey (2002), ao realizarem um estudo de caso no qual compararam os valores declarados nos documentos e nas comunicações realizadas por uma empresa, com a percepção de seus funcionários quanto aos valores de fato compartilhados (que permeavam suas ações, decisões e comportamentos, expressos nas rotinas de trabalho), constataram essa incongruência à qual se referem Tamayo, Mendes e Paz (2000).

Conforme Tamayo e Gondim (1996), a definição de valores organizacionais envolve aspectos cognitivos e motivacionais, bem como a função e a hierarquização dos valores numa organização. Os aspectos cognitivos dizem respeito aos valores se constituírem em crenças existentes na organização, relacionadas às formas de se conhecer a realidade organizacional e às respostas aos problemas organizacionais. Os aspectos motivacionais referem-se ao fato de que os valores expressam interesses, desejos e metas da organização. A função dos valores consiste na orientação da organização, guiando o comportamento de seus membros na forma

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de pensar, agir e sentir, e no julgamento dos demais, constituindo uma espécie de ideologia. A hierarquização dos valores influencia a participação da organização no ambiente, conforme uma escala de importância dos valores, desenvolvida no decorrer do tempo.

De acordo com Tamayo e Gondim (1996), a percepção da estrutura axiológica da organização (sistema estável de valores que determina e sustenta a cultura organizacional) é um elemento cognitivo que permite aos funcionários criar uma representação mental da organização, levando a que as formas de pensar e agir sejam influenciadas pelos valores compartilhados.

No sentido de que funcionam como guias para a ação, os valores organizacionais dizem respeito à solução de conflitos entre indivíduos e grupos quanto a metas e interesses, ao próprio funcionamento da organização e à sua relação com o ambiente, como comentam Tamayo, Mendes e Paz (2000).

Beyer (1981) apresenta alguns resultados de estudos que tratam de ideologias e valores e sua relação com a tomada de decisão nas organizações. A autora aponta que: os indivíduos diferem em seus valores devido às suas experiências nas respectivas culturas, sociedades e papéis sociais; as organizações absorvem e adaptam valores do ambiente; as organizações também transferem valores para o ambiente; os valores organizacionais tendem a ajustar as características do ambiente com as condições internas da organização por meio de um processo de feedback; as organizações usam valores para legitimar as suas atividades e justificar as suas decisões perante os seus membros e o ambiente; os indivíduos comportam-se de acordo com os seus valores.