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3 FORMAÇÃO DE PROFESSOR DIALOGANDO COM A LITERATURA

3.1 CONCEITUANDO FORMAÇÃO E FORMAÇÃO INICIAL

O ato de pensar sobre a formação dos professores implica,, necessariamente, na busca pela compreensão do termo “formação”, que tem sua raiz no verbo formar, e este está carregado de ambiguidades.

A palavra “formação” tem a sua origem no Latim, etimologicamente vem de formatione, que significa ato, efeito, modo de formar. De acordo com o dicionário Aurélio (2009), o termo “formação” significa ato ou efeito ou modo de formar algo; constituição, caráter. Nesta definição, percebe-se que, pela ação demonstrada pelo verbo formar, existe uma ação que leva o objeto ou pessoa a ter uma forma, pela qual será reconhecida. Assim, a forma é o elemento que ajuda a reconhecer um determinado objeto e a sua utilidade.

No que concerne ao ser humano, com certeza esse processo torna-se mais complexo, na medida em que existem outros fatores que vão além das intenções planejadas; isto porque existem questões da ordem das interações sociais.

De acordo com as perspectivas anteriores, portanto, “formar um educador” significa criar condições para que o indivíduo na posição de educando ganhe forma de educador e desempenhe sua função da melhor maneira possível, no ambiente social em que se integra. Segundo Luckesi (2003), esta perspectiva pode ser vista sob dois ângulos diferentes e antagônicos. De um lado, o modelo essencialista, metafísico e abstrato entende que a forma é a essência do educador – já está pronta e o educador deve ajustar-se ou enquadrar-se nessa forma. Este processo de formar é feito de tal modo que, em situações análogas, juntamente com outras, mostrem que os formados apresentam sempre as mesmas respostas ou fazem uso de um determinado tipo de conhecimento comum.

Entende-se que o modelo essencialista está longe de perceber o formando como dotado de autonomia, não respeita as singularidades e nem reconhece que existem especificidades dos sujeitos que também precisam ser valorizadas no processo de formação.

De outro lado, encontra-se o modelo existencialista, que entende a formação como processo em que o educador constrói sua forma, que se dá pelo seu

caminhar, pelo seu fazer. Então, entende-se que esta última é a forma mais coerente em termos da compreensão da formação, na medida em que apresenta o educador como ser dinâmico em um processo de constante busca da sua própria construção.

No entender de Freire (1996), formar não é a ação em que um sujeito dá forma, jeito ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Para ele, “[...] formar é muito mais que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas” (p. 14). Assim, formação é, sobretudo, exercício no sentido de entender a própria maneira de ser e estar na realidade, proporcionando mudanças qualitativas, e levando a uma nova visão de mundo.

Faz-se necessário deixar claro que, pela sua complexidade, o ato formação não deve ser entendido como algo que se processa em uma simples mágica; nem através de inspirações de momento do formado ou do formando, mas que compreende um envolvimento compromissado; apresentando-se o processo a partir da articulação entre a ação e a reflexão, e consubstanciando, assim, o conhecimento teórico-prático.

3.1.1 Formação Inicial

A concepção de formação inicial varia basicamente entre dois pólos. De um lado, o modelo de racionalidade técnica, que entende a formação como situações em que um indivíduo adquire certo grau de conhecimento teórico e técnico profissional para ser aplicado futuramente, considerando como secundário o aspecto relativo aos problemas que ocorrem na prática docente. De acordo com Goméz (2006), o professor nesta perspectiva é entendido como um técnico que deve apreender conhecimentos e desenvolver competências para sua intervenção na prática, apoiado no conhecimento que os outros produzem.

Contrariamente a essa concepção, a racionalidade prática prioriza a reflexão sobre a prática e o professor. Como afirma Goméz (2006, p. 363): “o professor tem que desenvolver sua sabedoria experiencial e sua criatividade para enfrentar as situações únicas, ambíguas, incertas e conflitantes […]”.

Neste sentido, para Freire (1996, p. 39), é “por isso que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a

prática. É pensando criticamente a prática de hoje, ou de ontem, que se pode melhorar a próxima prática”.

Então, Freire acrescenta:

[...] por isso é fundamental que, na prática da formação docente, o aprendiz de educador assuma que o indispensável pensar certo não é presente dos deuses nem se acha nos guias de professores que iluminados intelectuais escrevem desde o centro do poder, mas, pelo contrário, o pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador (p. 38-39).

No que diz respeito à formação inicial, Torres, apud Mizukami (2002, p. 23), faz uma crítica aos organismos internacionais, principalmente no que concerne ao financiamento. Ele assegura que,

[...] hoje, ao se falar de formação ou capacitação docente, falar-se de capacitação em serviço. A questão formação inicial está se diluindo, desaparecendo. O financiamento nacional internacional destinado à formação de professores é quase totalmente destinado a programas de capacitação em serviço.

Falar de formação inicial de professores implica, obviamente, falar de instituições que programam as políticas públicas de formação, na medida em que desempenham um papel importante de preparação do futuro docente para atuar no contexto educativo, levando em conta sua complexidade. Sobre isso, Imbernón (2006, p. 61) deixa claro que,

[...] as instituições ou cursos de preparação para a formação inicial deveriam ter um papel decisivo na promoção não apenas do conhecimento profissional, mas de todos os aspectos de profissão docente, comprometendo-se com o contexto e a cultura em que esta se desenvolve devem ser instituições “vivas”, promotoras da mudança e da inovação.

Assim, pode-se afirmar que a formação inicial, a despeito de desempenhar um papel importante na formação dos professores, especialmente quando encarada na direção da racionalidade prática, sozinha não contempla toda a tarefa de formação de professores.

É consensual, entre os gestores do sistema educativo, que apostar na formação, no seu fortalecimento e, sobretudo, na valorização do professor constitui uma tarefa indispensável, não só porque se caracteriza como ator indispensável do

processo educativo, mas também porque a sua efetiva participação, no processo, pode trazer mudança na educação.