4 POLÍTICAS PÚBLICAS, NEOLIBERALISMO E FORMAÇÃO DE PROFESSOR
5 POLITICA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO
5.4 AÇÕES IMPLEMENTADAS PARA ATENUAR O PROBLEMA DA FALTA DE PROFESSORES QUALIFICADOS
5.4.2 Organização e Metodologia do Curso
Quanto ao procedimento de organização do CFaD, verificou-se que nem todos os professores poderiam participar. Segundo a entrevista de S3, os candidatos foram selecionados através de concurso documental, e os critérios utilizados foram:
exercício da docência no minimo de três anos, avaliação11 mínima de “bom” no
desempenho, ter o 10o ano de escolaridade ou equivalente para o curso de 5
semestres; e 12 o ano de escolaridade para o curso de 4 semestres. Foi estabelecido
para cada conselho uma quantidade de cursistas de acordo com a necessidade dos mesmos.
O curso foi organizado por módulo e houve componente que foi presencial e
também à distância12, em exercício. Este curso teve cinco unidades curriculares,
sendo elas: (i) Ciências de Educação; (ii) Línguas; (iii) Ciências Integradas; (iv) Expressões; (v) Prática e Reflexão Educativa.
Dentre as unidades curriculares, chama atenção a unidade V – Prática e Reflexão Educativa. De acordo com o projeto base, essa unidade tem por objetivo realizar a integração teórico-prática, desenvolvendo-se ao longo do curso, com início no segundo semestre, e realizada em três momentos:
11 De acordo com Estatuto do Pessoal Docente, no artigo 30, a avaliação de desempenho do pessoal
incide sobre a atividade letiva desenvolvida pelos docentes na educação e no ensino, tendo em conta as suas qualificações profissionais e científicas e é reportada a períodos de tempo específicos. Ainda no artigo 31, apresentam os tipos de avaliação, que podem ser comum ou especial. O processo comum de avaliação de desempenho efetua-se anualmente e em relação ao ano letivo anterior, tendo lugar nos meses de julho a setembro. O processo especial de avaliação visa proporcionar aos docentes: a) A possibilidade de acelerar a promoção na carreira por força da especialização; b) A correção de classificação negativa na avaliação de desempenho.
De acordo com Decreto Regulamentar no 10/2000 de 4 de setembro, as classificações a atribuir na avaliação de desempenho do pessoal docente são as seguintes: a) Muito Bom, de 17,5 a 20; b) Bom, de 13,5 a 17,4; c) Suficiente, de 9,5 a 13,4; d) Deficiente, de 0 a 9,4.
De acordo com o que consta no artigo 14 do estatuto, são competentes para a avaliação dos docentes os diretores ou gestores dos respectivos estabelecimentos de ensino que, para tanto, deverão ouvir previamente os conselhos ou núcleos pedagógicos.
Avaliação é feita em conformidade com os seguintes indicadores: Qualidade do processo ensino- aprendizagem; Aperfeiçoamento profissional; Inovação pedagógica; Responsabilidade; Relações humanas no trabalho; Atividades não letivas.
12 A parte presencial é garantida (i) pelo professor/mestre (professor do IP), no início de cada
módulo; (ii) pelo tutor local, semanalmente e ao longo do módulo.
A parte a distância é garantida pelo professor/mestre do IP e é viabilizada com recurso a programas
radiofônicos (três sessões semanais, sendo duas com conteúdos novos e uma de repetição) e sessões de esclarecimento, apresentação de trabalhos de grupo, através da Internet, manual do formando, textos de apoio, fichas de acompanhamento e de avaliação. CfaD
- O 1o Momento, que ocorre ao longo do 2o semestre, tem por finalidade, por um lado, a auto-reflexão sobre a prática pedagógica e, por outro, o diagnóstico das competências técnicas e científicas do professor/estagiário.
- O 2o Momento, que ocorre ao longo do terceiro semestre, tem a
finalidade, por um lado, de fazer a auto-reflexão sobre a prática pedagógica, o exercício de uma boa prática docente, a intervenção sobre a comunidade educativa, com incidência na sala de aula, na escola e na comunidade e; por outro lado, o diagnóstico da evolução das competências do professor estagiário.
- O 3o Momento, que ocorre ao longo do quarto semestre, tem por
finalidade a apresentação dos resultados da implementação dos projetos de intervenção educativa. (CfaD, p. 7, grifo meu).
A reflexão sobre a prática é, sem dúvida, um dos momentos mais relevantes no processo de formação de professores, principalmente quando o grupo alvo tem certa experiência. Esse processo dialógico, entre a teoria e a prática, deve proporcionar aos professores momentos de reflexão profunda em que se apresentam não como consumidores de conhecimento produzido por outros, mas como produtores de seus próprios conhecimentos, o que não ficou claro nos três momentos acima citados.
Quando é citado que o professor faz a autorreflexão, deixa transparecer que esse processo dá-se numa situação solitária. Isto porque a expressão está presente nos dois primeiros momentos do curso, sem alusão a reflexão em grupo por parte dos professores. Sabendo-se que essa reflexão teórico-prática deve auxiliar na geração de conhecimentos pedagógicos, para intervenção no contexto social e escolar, e pela complexidade do cenário educativo, entende-se que ela deveria ser mais colaborativa do que individualista. No entender de Imbernón (2006, p. 68)
essa crescente complexidade social e educativa da educação (ainda maior no futuro) deveria fazer com que a profissão docente se tornasse, em consonância, menos individualista e mais coletiva, superando o ponto de vista estritamente individual aplicado ao conhecimento profissional, em que a colaboração entre companheiros está ausente, já que o professor se converte em um instrumento mecânico e isolado de aplicação e produção, com algumas competências limitadas à aplicação de técnicas em sala de aula.
A reflexão colaborativa da prática permite aos professores a construção de conhecimentos, cujo objetivo primordial é “aprender a interpretar, compreender e refletir sobre a educação e a realidade social de forma comunitária” (IMBERNÓN, 2006, p. 68).
Neste sentido, Silva (2002, p. 12) assegura que a formação de professor, nesse molde, “pode levar a um reducionismo, a uma visão estreita e individual dos problemas educacionais e sociais em que se obedecerá à lógica neoliberal das saídas individuais; do ‘salve-se quem puder’; sem a expressão da busca coletiva para a educação pública”.
A formação em exercício não deve ser entendida somente como uma formação em que os professores se alimentam de aspectos científicos e pedagógicos e a obtenção de graus; mas como processo de descobertas de teorias em que se deve contrastá-las com a prática, aceitando-as ou rejeitando-as em
função do contexto, removendo o sentido pedagógico comum, o que resulta em
refazer o equilíbrio entre aspectos teóricos e práticos.
5.5 APREENDENDO AS VOZES NO PLANO CURRICULAR DE FORMAÇÃO