• Nenhum resultado encontrado

4 POLÍTICAS PÚBLICAS, NEOLIBERALISMO E FORMAÇÃO DE PROFESSOR

4.3 A FORMAÇÃO DOCENTE ANTE OS DESAFIOS DA CHAMADA SOCIEDADE GLOBALIZADA

Indubitavelmente, vivemos em um mundo transformado pelas céleres mutações no campo econômico, político e técnico-científico. Essas mudanças abarcam o todo social e atingem, sobretudo, a identidade das pessoas. Isso pode ser, nitidamente, percebido quando pessoas de diferentes lugares assumem papel diferente de acordo com a realidade social em que se encontram, levando-os à assimilação da cultura dos outros e mesmo a perda do costume, da cultura; inclusive do próprio sentimento de pertencimento.

Não é raro ouvir indivíduos expressarem que nasceram num determinado país, cresceram em outro e, no presente, estão num lugar diferente dos anteriores. E que nem sabem de onde são e que só sabem que são cidadãos do mundo, ou seja, o sentimento de pertencimento nessas pessoas é praticamente inexistente, e a identidade acaba por ser fragmentada.

As sociedades sofreram mudanças drásticas devido aos impactos dos acontecimentos. A grande mudança, sem dúvida, encontra-se no fenômeno da globalização. Todas essas mudanças ocorridas têm a ver com interesses econômicos, com a produção, o mercado, com o jogo de poder entre as grandes potências e o desejo exacerbado de apropriação de novos mercados a qualquer custo.

Neste cenário de globalização de capital, os países periféricos procuram, muitas vezes sem grandes êxitos, manter-se em condições que lhes favoreçam a competitividade, e para não correrem o risco de ficar fora da corrida, aderem a todas as regras ou critérios estipulados a nível mundial no sentido de se enquadrarem aos padrões macroeconômicos, acabando por perder a própria autonomia e tendo que sempre obedecer a determinações externas. No entender de Ianni (1997, p.90), “cabe, pois, repensar o lugar e o tempo da sociedade nacional, começando por reconhecer que a globalização abala os seus significados empíricos e metodológicos, ou históricos e teóricos”.

Segundo Bauman (1999, p. 73),

a ‘globalização’ nada mais é que a extensão totalitária de sua lógica a todos os aspectos da vida. Os Estados não têm recursos suficientes nem liberdade de manobra para suportar a pressão – pela simples razão de que

“alguns minutos bastam para que as empresas e até Estados entrem em colapso”.

O fenômeno da globalização apresentou-se ao mundo com inúmeras promessas, entre as quais a de rompimento das fronteiras, proporcionando igualdade na distribuição dos bens, e a da utilização da alta tecnologia como forma de integrar as sociedades e de solucionar muitos problemas sociais nos seus diversos níveis.

Infelizmente, os impactos acontecem para e sobre alguns: os países mais pobres continuam sofrendo, a despeito dos avanços tecnológicos e científicos. Isto denota que a globalização é um paradoxo, pois os seus efeitos beneficiam poucos e deixam de lado muitos, que ficam sem saída para as mazelas sociais, cada vez mais gritantes.

A “globalização” não diz respeito ao que todos nós, ou pelo menos os mais talentosos e empreendedores, desejamos ou esperamos fazer. Diz respeito ao que está acontecendo a todos nós. A idéia da “globalização” refere-se explicitamente as “forças anônimas” de Von Wright operando na vasta “terra de ninguém” – nebulosa e lamacenta intransitável e indomável – que se estende para além do alcance da capacidade de desígnio e ação de quem quer que seja em particular. (BAUMAN, 1999, p. 68).

Percebe-se que convivemos com aspectos positivos e negativos derivados da “mundialização”. Por exemplo, a comunicação entre as diversas culturas é facilitada com o advento da Internet; grande desenvolvimento da capacidade de produtividade das empresas nacionais e multinacionais; o conhecimento direto e simultâneo dos grandes acontecimentos a nível mundial. Por outro lado, temos a dinâmica dos tráficos, a venda e o grande consumo das drogas; as falências de pequenas empresas que são “engolidas” (através da incapacidade financeira) por outras bem mais capitalizadas; o que traz como consequência o desemprego. Junto a tudo isso, vem o “gemido” da natureza por causa da poluição, a extrema pobreza e o sofrimento humano.

Neste cenário, a educação, enquanto fenômeno social, não fica isenta dessas influências, passando a ser vista como o meio ideal para inserir os países em desenvolvimento na conjuntura produtiva. Assim, não foram medidos esforços no sentido de adequar a educação à nova realidade do mercado, o que levou também a pensar em um novo tipo de trabalhador que se adequasse à essa realidade. Com

esse mesmo entendimento “no campo da formação de professores, novas diretrizes foram gestadas e orientadas pelos organismos internacionais que tiveram uma forte influência na elaboração das políticas públicas educacionais”. (BARBOSA, 2009, p. 2).

Como parte desta sociedade globalizada, nunca foi tão necessário repensar a educação pela sua finalidade, e, em especial, por entender que esta se apresenta como a essência do desenvolvimento da pessoa humana.

La educación y su papel en la sociedad han sufrido una serie de câmbios importantes como consecuencia de los cambios que se producen en la misma sociedad y su sistema de producción. Consecuentemente, El papel Del profesor necesita ser acomodado a las nuevas necesidades de una sociedad más dinámica y pluralista, que precisa de una educación de sus miembros a lo largo toda a su vida como necesidad ineludible para que éstos puedan asumir esos cambios y participar en la dinámica de la cultura, no quedando de espectadores desenganchados de la misma. (SACRISTÁN e FERNÁNDEZ apud LAMPERT, 1999, p. 115).

Nesta conjuntura, refletir sobre a política de formação do educador configura-se como necessário, haja vista que vivemos em um contexto de rápidas e profundas mudanças (culturais, ideológicas, econômicas, sociais e profissionais), em que, com facilidade, as coisas ficam obsoletas e a necessidade de acompanhar as mudanças é cada vez mais indispensável. Daí a necessidade de uma formação que vislumbre essa necessidade como algo premente. Imbernón (2006, p. 39) assegura que “o eixo fundamental do currículo de formação do professor é o desenvolvimento da capacidade de refletir sobre a própria prática docente com o objetivo de aprender a interpretar, compreender e refletir sobre a realidade social e a docência”.

Frente ao exposto, devemos evitar a perspectiva “técnica” ou “racionalidade técnica” como aconselha Imbernón (2006). Deve-se apostar na política de formação que valoriza a relação teoria-prática; a análise crítica sobre os avanços e retrocessos ou estagnação da ação educativa sobre o desenvolvimento profissional do docente, entre outros aspectos.

Pensar criticamente sobre a formação dos professores, no contexto que vivemos, nos remete a pensar em novas formas de organização e gestão das escolas e escolas de formação, novas concepções curriculares, etc. Tudo isso nos leva a pensar e questionar os investimentos para a formação de professores, sobre que tipo de profissional e de instituição educativa queremos para o futuro, e que formação será necessária. Para tanto, “A formação deveria dotar o professor de

instrumentos intelectuais que sejam úteis ao conhecimento e à interpretação das situações complexas em que se situa […]” (IMBERNÓN, 2006, p. 40).

Nessa perspectiva, Nóvoa (1992) vai além, afirmando que no contexto que vivemos se faz necessário falar de professores críticos, reflexivos, mas também é importante refletir sobre o investimento na formação docente, por serem esses processos necessários para estimular o desenvolvimento profissional dos professores.