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QUADRO 1 – SUJEITOS DA PESQUISA

5) Conceituando o trabalho infantil

Para as crianças e os adolescentes da Amazônia paraense o trabalho infantil tem o sentido de sofrimento, aparece como algo pesado, tem relação com exploração, representa uma atividade intensa, é um trabalho árduo e cansativo, somente praticado pelo filho da classe trabalhadora, pois o filho do rico não trabalha, apenas estuda.

A definição de cada categoria descritiva permitiu o agrupamento dos elementos manifestados das falas das crianças e dos adolescentes que constituíram as categorias interpretativas.

3.7.2 Categorias interpretativas do grupo focal

As categorias descritivas foram agrupadas em três categorias interpretativas com base no materialismo histórico dialético, porque obriga o olhar manifestado tanto da exploração como das condições de saída que as crianças e os adolescentes buscam burlar no trabalho infantil.

1) Trabalho infantil como sofrimento 2) Trabalho infantil como alienação

3) Trabalho infantil como uma pedagogia

Com a intenção de interpretar o discurso de crianças e de adolescentes sobre o trabalho infantil, abarcando assim, a base teórica marxista da pesquisa, com a teoria da análise do discurso, buscamos agrupar as categorias descritivas em categorias interpretativas , que será tratada no quarto capítulo.

Todavia, antes de trazer os resultados das categorias interpretativas fez-se necessário apresentar as descrições de forma breve das seções painéis, que juntas permitiram revelar o sentido de infância e de adolescência, do sentido e significado da categoria trabalho e da aproximação entre pesquisadores e pesquisados. Ainda, as seções painéis permitiram identificar o envolvimento das crianças e dos adolescentes no trabalho infantil.

3.8 REGISTRO DA DESCRIÇÃO DO PAINEL

As crianças e os adolescentes pesquisados assumiram uma concepção de criança relacionada com o ato de brincar, com diversão, com o prazer e o como condição de ser feliz. Para elas a adolescência tem relação com liberdade, com o namoro, com usar roupa da moda, usar perfume, sair livremente para passear.

O trabalho para as crianças e os adolescentes é assumido como um fazer, uma atividade pesada, tem relação com um modo de exploração pelo outro (patrão), aparece como uma atividade que causa sofrimento e aborrecimento. Está relacionada com ganhar dinheiro e pela necessidade de ajudar a própria família no seu sustento.

Para as crianças e os adolescentes o trabalho não tem relação com prazer, com o crescimento profissional, do contrário tem relação com obrigação/servidão e condição econômica. Por outro lado, revelam que o

trabalho tem relação com o tráfico e passa a ser percebido como uma atividade leve ao permitir que ganhe dinheiro “sem muito esforço”.

Em suas vozes as crianças e os adolescentes revelam que o trabalho do professor é pesado, muito estressante, pois relacionam esse laboro com o barulho na sala de aula, com os gritos, as conversas entre os alunos e as reiteradas vezes em que o professor solicita que façam silêncio na sala de aula.

Por outro lado, as crianças e os adolescentes percebem a profissão do jogador de futebol como um trabalho leve, uma atividade de muito reconhecimento social, principalmente pela fama e pelo reconhecimento nas mídias. Para eles o trabalho de jogador é um trabalho de elite, de pessoas com muito dinheiro, ainda é um tipo de atividade que possibilita ganhar muito dinheiro sem fazer esforços e o de ter uma boa vida.

De modo geral as seções painéis; painel musical, painel do trabalho e cine prosa cumpriram o objetivo de aproximar pesquisadores e pesquisados, mas, particularmente, de identificar as crianças e os adolescentes em condição de trabalho infantil.

SÍNTESE DO CAPÍTULO

A escrita desse capítulo objetivou descrever a escolha do método de base do materialismo histórico dialético e explicar a escolha da técnica da Análise do Discurso baseada na teoria de Bakhtin. Apresentamos o campo teórico metodológico de base sócio histórica para dizer o caminho que guiou a metodologia para a escolha das crianças e dos adolescentes, da coleta dos dados e como se organizou os dados de análise do corpus.

É importante dizer que o percurso metodológico para aproximar pesquisadores e pesquisados sobre o trabalho infantil desenvolveu-se a partir da elaboração do plano de trabalho da pesquisa apresentado às quatro escolas. As atividades (painel da música, painel do trabalho e cine prosa) serviram para aproximar os sujeitos envolvidos na pesquisa e na identificação de crianças e adolescentes envolvidas no trabalho infantil.

O plano de trabalho contemplou as atividades dividas em seções, que serviram para identificar e selecionar os sujeitos da pesquisa ─ as crianças e os adolescentes em condição de trabalho cujas famílias são beneficiadas pelo Programa Bolsa Família, para então, posteriormente, participarem da técnica do grupo focal.

Os instrumentos de coleta de dados em conjunto (atividades de painéis e grupo focal) efetivamente permitiram a construção do material coletado sobre o trabalho infantil, que guiaram as categorias interpretativas; trabalho como sofrimento, trabalho alienante e pedagogia do trabalho infantil.

Na nossa pesquisa a utilização da técnica do grupo focal teve particularidades que merecem cuidados, principalmente por se tratar de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, entendo -os “enquanto grupos sociais distintos, com vivências e culturas diferentes” (DEMARTINI, 2009, p. 2). Uma das peculiaridades foi atentar para o fato de que existem outras infâncias e adolescências na Amazônia paraense, que se diferenciam pela luta de classes.

Existem crianças e adolescentes que, privados de bens econômicos, sociais e culturais, têm vivência precoce no trabalho infantil, que é contrário ao desenvolvimento de forma plena, enquanto que crianças e adolescentes de família em condição econômica privilegiada vivenciam o trabalho como auto-organização da vida social.

E aqui na pesquisa abordamos relatos de um grupo social em condição de vulnerabilidade social, pertencentes à classe dos trabalhadores. São crianças e adolescentes com pouca ou nenhuma chance de viverem plenamente a sua infância, de viver um período da sua vida. A infância, a adolescência que é “um período estrutural da vida” (CORSARO, 2011, p. 57), uma fase transitória.

O processo metodológico de base sócio histórico adotado na nossa pesquisa foi necessário e fundamental para a construção do corpus de análise, principalmente, da diversidade de informações que surgiram das rodas de conversas entre pesquisadores e pesquisados nas escolas. As conversas caminharam no sentido de promover informações sobre trabalho infantil em um dado contexto social das crianças e dos adolescentes de escolas de Belém para a produção do corpus de análise da nossa pesquisa apresentada no próximo capítulo.

Do mesmo modo, apresentamos no próximo capítulo as categorias teórico/interpretativas construídas pelo referencial marxista, o que contribuiu para essa construção e permitiu uma principal leitura dos dados. Nesse contexto, a teoria de base no materialismo histórico dialético e o sentido da teoria da análise do discurso constituíram um campo de significados para posterior análise.

4. DISCURSO DE CRIANÇAS E DE ADOLESCENTES DA AMAZÔNIA