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SÍNTESE DO CAPÍTULO

2. TRABALHO INFANTIL E TRABALHO EDUCATIVO

2.4 OUTROS PROGRAMAS OFICIAS DE ENFRENTAMENTO AO TRABALHO INFANTIL

decente. Entretanto, ainda que essas ações e os programas tenham trazido melhorias na vida de muitas crianças e adolescentes da classe trabalhadora, ainda carece ser mais bem trabalhadas, no sentido de ampliar as políticas públicas integralizando a garantia de direitos das crianç as e dos adolescentes e da permanência na escola de qualidade. Isso porque o discurso das crianças e dos adolescentes entrevistados na nossa pesquisa revela que o trabalho infantil ainda é muito presente na vida da classe trabalhadora.

2.4 OUTROS PROGRAMAS OFICIAS DE ENFRENTAMENTO AO TRABALHO INFANTIL

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), que sobreveio do Plano para Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil (PEETI/1996), criado pela resolução nº 37/2004, primou por eliminar o trabalho infantil, formular programas e projetos que contribuíssem para permanência das crianças e dos adolescentes na escola. Ainda ofertou a jornada escolar ampliada com foco nas atividades socioculturais, tais como práticas esportivas, aulas de informática etc., e na “permanência de criança e de adolescente na escola, fomentando um segundo turno de atividades” (BRASIL, 2003, p. 19).

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil procurava articular diferente órgãos das esferas de governo (federal, estadual e municipal) e sociedade civil, tendo como prioridade a prevenção e erradicação do trabalho infantil. O seu objetivo principal foi retirar crianças e adolescentes com menos de 18 anos de atividades da Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil.

O controle das ações do PETI39 estava articulado com mais três

grandes eixos, “os programas de concessão da Bolsa Criança Cidadã, Jornada Ampliada (atividades culturais, esportivas realizadas em horário contrário ao da escola)” (BRASIL, 2003, p. 19). Ainda, envolveu as famílias nos projetos de geração de renda com crianças em atendimento e atendeu mais de 820 mil crianças e adolescentes afastados do trabalho em mais de 3,5 mil municípios (BRASIL, 2012).

Ao ingressar no PETI a família tem acesso à transferência de renda do Programa Bolsa Família. “A articulação dos dois programas fortalece o apoio às famílias, visto que pobreza e trabalho infantil estão amplamente relacionados às regiões de maior vulnerabilidade” (BRASIL, 2003).

O Programa Bolsa Família (PBF)40 “é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o País” (BRASIL, 2008, p. 5). Os participantes do programa são compromissados a matricular e garantir a permanência das crianças e dos adolescentes na escola.

O Programa tem a sua gestão compartilhada entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios (BRASIL, 2008, p.16), assim como devem trabalhar em parceria para a execução efetiva do programa, com isso, possui três eixos principais que são voltados à transferência de renda e a condicionalidades, ações e programas complementares. A transferência de renda promove o investimento social às famílias da classe trabalhadora; as condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social. E as ações e os programas complementares têm como objetivo fortalecer o desenvolvimento das famílias para a superação de vulnerabilidade social (BRASIL, 2008, p. 17).

39 Na sua estrutura organizacional, o PETI compõe o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), Centro de

Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Ver Manual do PETI, 2003.

40

Foi criado em 20 de outubro de 2003 pela Medida Provisória Nº 132, convertida na Lei nº 10.836 de 09 de janeiro de 2004.

Segundo o relatório do Ministério do Desenvolvimento Social (2011), o Programa Bolsa Família atende mais de 13 milhões de famílias em todo território nacional. “Os valores dos benefícios pagos do PBF podem variar entre trinta e dois reais a trezentos e seis reais” (BRASIL, 2008, p. 24), pois é considerada a renda mensal da família por pessoa, o número de crianças e adolescentes, gestantes e mulheres que amamentam.

SÍNTESE DO CAPÍTULO

Nesse capítulo, analisamos a gênese do trabalho infantil entre o século 20 e as primeiras décadas do Século 21. A leitura de documentos, leis e autores do campo da História e da Sociologia foram fundamentais para compreendermos a relação do trabalho infantil e a idade das crianças como marco da infância. Além disso, utilizamos as Constituições brasileiras para apreendermos como o trabalho infantil foi sendo identificado e previsto na legislação brasileira e as ações dos programas que visam combate -lo.

O trabalho infantil está relacionado à condição de pobreza das crianças e dos adolescentes da classe trabalhadora, ao modo de produção capitalista que subsumiu a força infantil para tirar proveito e produzir mercadorias e serviços com baixo custo. É aceito como punição, doutrinação e afastamento da criminalidade para as crianças em situação de abandono.

Nas instituições e fundações o trabalho infantil foi defendido como educação, modo de reabilitação da moral e inculcava boas maneiras de vida em sociedade por meio do trabalho. O trabalho era visto como algo muito bom: forma de regenerar e impedir o ócio pela educação no trabalho.

Daí porque essa forma de trabalho não assume caráter educativo, na perspectiva do pleno desenvolvimento humano, revelando-se pernicioso à saúde das crianças e dos adolescentes. Na sociedade capitalista, o trabalho, de uma só vez, é a atividade negadora da humanização do homem, trabalho alienado; de outro modo, tem o sentido de base da vida social e atividade criadora de riquezas materiais e culturais nunca observadas.

O trabalho infantil explora a força das crianças e dos adolescentes que cumpre função econômica no processo de reprodução do capital, expondo a infância a uma condição moralmente degradante e prejudicando - a na sua escolarização. Compreendemos também que o trabalho infantil é justificado pela ideologia liberal, que responsabiliza o indivíduo por seu

sucesso econômico, e ainda aceito na contemporaneidade como alternativa à pobreza e ao ócio de crianças e de adolescentes da classe trabalhadora.

O trabalho infantil, mesmo sendo admitido como atividade de exploração de crianças e adolescentes, como atividade árdua, é historicamente justificado pela ideia de educação no trabalho e como forma de doutrinação e impedimento do ócio.

O trabalho infantil aparece nas vozes das crianças e dos adolescentes da Amazônia paraense como uma atividade que as impede de viverem plenamente a infância, contrário a dimensões humana de base do trabalho como princípio educativo.

Portanto, descrevemos no próximo capítulo, metodologicamente com base no método do materialismo histórico, um conjunto de técnicas utilizadas, que foram necessários para a coleta dos dados empíricos, que nos permitiu observar a realidade do fenômeno social no discurso das crianças e dos adolescentes.