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SÍNTESE DA CATEGORIA

4.2 TRABALHO INFANTIL COMO ALIENAÇÃO DO TRABALHO

4.2.2 TRABALHO INFANTIL COMO ALIENAÇÃO DA ATIVIDADE

Marx (2010b) diz que a alienação da atividade do trabalho se mostra também no ato da produção, dentro da própria atividade produtiva, da relação existente entre o trabalhador e a atividade. O trabalhador também não controla o processo de produção da sua atividade, não controla os meios de produção e causa o estranhamento entre o trabalhador e a atividade do seu trabalho.

A relação do trabalho infantil com o ato da produção no interior do trabalho revela-se na atividade como fonte de desgosto porque para as crianças e os adolescentes o trabalho é uma obrigação, não é algo que, ao fazer, promove prazer, decerto causa a fadiga. Como afirma o discurso da criança entrevistada. (GARÇA, 11 ANOS). “O trabalho é por obrigação, para ajudar no trabalho doméstico [...]. Às vezes fico aborrecida e doente [...] Não quero fazer nada [...] ter um tempo livre”.

Nesse sentido e de acordo com Marx (2010b) as crianças e os adolescentes da Amazônia paraense não desenvolvem “livremente suas energias mentais e físicas”, mas estão fisicamente esgotadas e mentalmente despedaçadas. Ainda segundo Marx (2010b, p. 83), a alienação da atividade tem causa o embrutecimento do homem, pois “a relação do trabalhador com a sua própria atividade lhe é estranha, não pertencente a ele, portanto atividade como miséria, a força como impotência, a procriação como castração”.

Trata-se, portanto de o trabalho infantil determinar às crianças e aos adolescentes um ritmo de trabalho contínuo, com extensa jornada trabalhada e como único modo de subsistência. Por meio do trabalho infantil, portanto as falas manifestam um tipo de trabalho forçoso que expressa fadiga, que não permite às elas satisfazerem suas necessidades fora dele, como limita o desenvolvimento da energia física e espiritual livre.

O trabalho infantil, portanto é exterior ao prazer da vida humana das crianças e dos adolescentes, manifesta-se como negador do ser social, o seu trabalho não é, portanto voluntário, mas forçado, trabalho obrigatório, não para satisfazer necessidades vitais, mas apenas como meio para suprir outras carências.

A atividade produtiva do trabalho das crianças e dos adolescentes não lhes pertence, pressupõe uma atividade forçada, conforme observamos a partir da fala da criança entrevistada; (JAÇANA, 10 ANOS) “O trabalho é uma troca, moro com minha “tia” para poder estudar [...] É, trabalho doméstico [...] não tem fim [...]”.

Da fala da criança entrevistada acima, portanto se confirma o estranhamento do objeto do seu trabalho, como manifesta a exploração da sua força infantil, ao negá-las o trabalho “como atividade vital”, socializador das relações humanas, como auto-organização da vida, mostra a contradição da humanização do ser social “aparece como estranhamento, a autoatividade como atividade para outro e como atividade de outro” (MARX, 2010b, p. 83).

É nesse sentido que podemos compreender o discurso do adolescente entrevistado sobre a atividade do seu trabalho – “Eu trabalho ajudando o meu irmão na feira a vender e matar o frango [...]. É para ajudar a nossa mãe com as despesas [...]” (PATATIVA, 12 ANOS). A fala do adolescente permite-nos observar o trabalho infantil como alienação do trabalho, como a atividade negadora da infância e da adolescência, quando transforma a vida simplesmente em meio de subsistência e a existência

física aparece como único meio de satisfação de uma necessidade que é a sobrevivência, negando o trabalho como atividade autocriação.

O trabalho infantil como alienação da atividade produtiva desumaniza as crianças e os adolescentes da Amazônia paraense ao manifestar o estranhamento e a privação dos meios de apropriação do produto do seu trabalho, quando manifesta a separação entre a execução do trabalho e a reflexão sobre o que se faz. Assim, revela a criança entrevistada; (ARARA AZUL, 10 ANOS). [...] “Eu ajudo o meu pai. [...] Porque o que ele ganha no trabalho é pouco. [...]. Ajudante de pedreiro bate a massa [...] Muito pesado, tenho que ficar no sol, na chuva e carrego peso”.

O discurso das crianças e dos adolescentes da Amazônia paraense revela a alienação na realização da atividade produtiva do seu trabalho, quando realizam atividades como vender, lavar e o trabalho doméstico, pois efetivam o ato da produção sem mostrar domínio da apropriação da mesma, apenas fazem porque são obrigadas, revelam que o seu trabalho é apenas um meio de satisfazer necessidades fora dele, ou seja, é apenas um meio de subsistência.

(JURUTI, 10 ANOS). [...] Vender churrasquinho é um tipo de

trabalho que parece simples, é pesado [...]. É um trabalho cansativo, deixa o corpo quente, mas tem que ser feito [...]. Tenho a obrigação de ajudar em casa com a comida.

(GARÇA, 11 ANOS). Eu cuido da casa porque moro de favor,

então é para ajudar no trabalho. O trabalho é uma obrigação [...]. Se não fizer certinho, às vezes sou punida, [...] quando faço algo de errado.

(ANDORINHA, 13 ANOS). O trabalho de doméstica poderia

ser diferente, ser leve. Cuidar da casa e das crianças é muito pesado [...]. Tenho que fazer muitas coisas [...], até durante a noite, também, [...] Já estou esgotada e só quero deitar e dormir.

Tal qual explicado por Marx (2010b) o trabalho como alienação torna-se externo ao trabalhador, isto é não pertence ao seu ser, pois os

homens não se relacionam mais como seres humanos, tão somente como trabalhadores, o homem é estranho ao próprio homem.

É nesse sentido, de acordo com Marx (2010) que as crianças e os adolescentes da Amazônia paraense revelam que no processo de produção da sua atividade efetiva-se a alienação do trabalho, um trabalho enfadonho, como também o estranhamento, quando elas no ato de produção negam -se nele, não se percebe como crianças e adolescentes, mas somente como trabalhadores.

A efetivação do trabalho infantil como alienação aparece no discurso das crianças e dos adolescentes da Amazônia paraense, tanto como o estranhamento do produto do seu trabalho e como da produção da sua atividade, determinando alienação espiritual. Marx explica (2010b, 85) que “a execução do trabalho aparece tanto como uma perversão que o trabalhador se perverte até o ponto de passar fome. A objetivação aparece tanto como uma perda do objeto que o trabalhador é despojado das coisas mais essenciais não só da vida, mas também do trabalho”.

Marx (Op. Cit.) explica que o ato do estranhamento de alienação da atividade humana prática no trabalho se realiza na relação com o ato da produção no interior do trabalho. A alienação do trabalho, portanto, consiste em ser o trabalho externo ao trabalhador, por não fazer parte de sua natureza e não permitir a realização do ser humano no seu trabalho, “mas negar a si mesmo, ter um sentimento de sofrimento em vez de bem-estar, não desenvolver livremente suas energias mentais e físicas, mas fica fisicamente exausto e mentalmente deprimido” (Idem).

As crianças e os adolescentes da Amazônia paraense ao dizerem que trabalham por obrigação, para ajudar a família e pela própria subsistência revelam a alienação no trabalho, pois não se reconhecem como trabalhadores, como também estão estranhados do produto do seu trabalho, porque o acesso da vida humana lhes é negado.

Nossa compreensão evidencia que o fenômeno da objetivação no trabalho das crianças e dos adolescentes da Amazônia paraense confirma

ao mesmo tempo a alienação do produto do seu trabalho e a alienação e perda da sua atividade produtiva. Para tanto, destes dois aspectos do trabalho infantil como alienação do processo de produção do produto do trabalho e alienação da atividade produtiva, consideremos, uma terceira determinação do trabalho estranhado que é a alienação espiritual.