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SÍNTESE DA CATEGORIA

4.2 TRABALHO INFANTIL COMO ALIENAÇÃO DO TRABALHO

4.2.1 TRABALHO INFANTIL COMO ALIENAÇÃO DO PRODUTO

A alienação do trabalhador em relação ao seu produto, prossegue, o autor (Idem, p. 80) significa não só que o trabalho se transforma em objeto e assume uma existência externa, mas que existe independentemente, fora dele e a ele estranho, e se torna um poder autônomo em oposição a ele; que a vida que deu ao objeto se torna uma força hostil e antagônica.

Observa-se que o trabalho alienado para Marx (2010b) é alienação do homem no produto do seu trabalho, sua natureza externa, sua vida espiritual e sua vida humana. “O seu trabalho não é, portanto, voluntário, mas forçado, trabalho obrigatório” (2010b, p. 83).

Do mesmo, também se manifesta o trabalho infantil entre as crianças e os adolescentes entrevistados: como atividade que transforma o trabalho essencial em simples meio de sobrevivência e forma de exploração de sua força, “o produto do seu trabalho não lhe pertence, não supre as suas carências, mas somente um meio para satisfazer necessidades fora dele”.

(UIRAPURU, 11 ANOS). [...] Em casa todos as pessoas são

pai não paga as despesas do aluguel, da comida [...]. Eu trabalho na feira vendendo camburão e catando latinha para vender [...]. Eu recebo por semana R$15,00.

(PATATIVA, 12 ANOS). Eu trabalho na feira vendendo frango

com o meu irmão é para ajudar a nossa mãe a comprar comida. Eu ganho R$20,00 por semana [...] não é muita coisa, mas ajuda a comprar algo para comer.

Como necessidade de sobrevivência o trabalho infantil produz a alienação do produto do trabalho, que tem em comum na sua base constituinte de produção material o regime de servidão, ou seja, eles ganham somente para suprir minimamente o alimento. Marx (2010b, 80) afirma “o objeto que o trabalho produz, o seu produto, se lhe defronta como um ser estranho, como um poder independente do produtor”, portanto as crianças e os adolescentes da Amazônia paraense são despojadas dos artefatos necessários à vida e dos objetos do trabalho.

(JURUTI, 10 ANOS). [...] Eu trabalho por obrigação. [...]

Vender churrasquinho é muito pesado [...] Se eu não trabalhar não tenho o que comer. [...] O dinheiro serve para comprar alimentos. Não ganho muito... Mais ou menos R$80,00 por mês.

(JAÇANÃ, 10 ANOS). Eu trabalho de babá, não tenho tempo

para cuidar de mim e nem de estudar. [...] Eu ganho R$100,00 por mês e às vezes recebo como pagamento objetos. [...] O dinheiro serve para sustentar meus irmãos pequenos. Algumas vezes me sobra R$10 até R$20 [...].

Das falas das crianças entrevistadas o produto do seu trabalho lhe é estranho, não lhe pertence, do mesmo modo é um trabalho forçado, pela qual esses produtos são criados. Aparece a elas separadas de si mesmo, pois esse produto não permite o reconhecimento da sua humanidade. Assim, “quanto mais o trabalhador se desgasta trabalhando, tanto mais poderoso se torna o mundo objetivo, alheio que ele cria diante de si, tanto mais pobre se torna ele mesmo, seu mundo interior e tanto menos o trabalhador pertence a si próprio” (MARX, 2010b, p. 81).

(ROUXINOL, 13 ANOS). Cuidar de crianças e trabalhar na

casa das pessoas é cansativo. O que eu ganho compro comida [...] Comecei a trabalhar para ajudar em casa, depois

para juntar dinheiro [...] Desejei comprar computador e internet [...]. Não foi possível, o que ganho é pouco.

A fala do adolescente entrevistado permite observar que o processo de produção do produto do trabalho no dizer de Marx (idem, idem) “lhe é hostil e estranha”, ou seja, realiza-se a “perda do objeto, do seu produto” e se torna um escravo do seu objeto; porque o homem recebe trabalho e os meios de subsistência. Para Marx (idem, idem) “o auge desta servidão é que somente como trabalhador ele pode se manter como sujeito físico e apenas como sujeito físico ele é trabalhador”. A relação das crianças e dos adolescentes com o produto do trabalho é um dos aspectos da alienação do trabalho das crianças e dos adolescentes na produção sob a lógica do capital.

Na sociedade capitalista, sob o ponto de vista histórico , alienação produtiva pelo trabalho infantil se expressa no objeto estranhado, em que as crianças e os adolescentes quanto mais trabalham menos. Consiste, portanto a negação da dimensão humana desse grupo social, quando deveria, por essência, desenvolver o princípio da liberdade, da criatividade e da humanização, na perspectiva gramsciana do trabalho como princípio educativo.

Entretanto, aparece no discurso das crianças e dos adolescentes o trabalho infantil como fonte de servidão ao objeto, como objeto est ranhado limita o desenvolvimento das dimensões da vida social. Assim, relata a adolescente entrevistada: [...] Eu cuido da casa e das crianças. É um trabalho pesado e de responsabilidade, que me causa muito aborrecimento [...]. Eu acordo muito cedo para trabalhar, para cuidar das crianças [...] não tenho tempo para os estudos (BEIJA FLOR, 13 ANOS).

Com base na fala da adolescente acima citada, esse tipo de ocupação, como o trabalho infantil doméstico, se revela “como [com] um objeto estranho”, quando cuidam de outras crianças e não tem quem a cuide dela, por conseguinte, “quanto mais o trabalhador se desgasta trabalhando,

tanto mais poderoso se torna o mundo objetivo, alheio que ele cria diante de si” (Op. Cit.).

Nesse sentido, da alienação, o trabalho das crianças e dos adolescentes aparece como objeto estranho a ela, pertencendo a outra pessoa. Marx (2010b) explica que se trata da alienação do trabalhador em relação ao seu objeto, ou seja, quanto mais o trabalhador produz, mais valor ele cria e menos valor ele tem.

O trabalhador encerra a sua vida no objeto, mas agora ela não pertence mais a ele, mas sim ao objeto. [...] quão maior esta atividade, tanto mais sem-objeto é o trabalhador. Ele não é o que é o produto. [...] quanto maior este produto, tanto menor ele mesmo (MARX, 2010b, p. 81).

Assim, portanto, o trabalho infantil manifesta a exteriorização das crianças e dos adolescentes trabalhadores em seu produto como um objeto, além disso, no dizer de Marx (Op. Cit.) “que se torna uma existência que existe fora dele, independente dele e estranha a ele”. O produto do trabalho não pertence a elas, pois não satisfaz uma carência do contrário é tão somente um meio para satisfazer necessidades fora do trabalho, “a necessidade de manutenção da existência física”.

Para Marx (Idem, p. 82) “a relação imediata do trabalho com os seus produtos é a relação do trabalhador com os objetos da sua produção”.

O produto é, de fato, apenas a síntese da atividade, da produção. Consequentemente, se o produto do trabalho é alienação, a própria produção deve ser alienação ativa - a alienação da atividade e a atividade da alienação. A alienação do objeto do trabalho simplesmente resume a alienação da própria atividade do trabalho (MARX, 2010b, p. 82).

É nessa perspectiva, então, que se pode compreender o trabalho infantil, que se transforma em um objeto, em que às crianças e os adolescentes só conseguem ter acesso com muito esforço físico e social. “A apropriação do objeto aparece como alienação a tal ponto que quanto mais objetos o trabalhador produz tanto menos pode possuir e tanto mais fica dominado pelo seu produto, o capital” (Op. Cit.).

Do mesmo modo, é o trabalho infantil, que não é voluntário, porém imposto às crianças e aos adolescentes, que explora a sua força de trabalho, tornando-os alienados, consequentemente o estranhamento do produto do seu trabalho e da atividade prática. Manifesta, portanto um tipo de trabalho como exploração, como miséria contra o caráter emancipatório do trabalho essencial a vida que os realiza. O “trabalho no qual o homem se exterioriza, é um trabalho de autossacrifício, de mortificação” (MARX, Idem, p. 83).