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QUADRO 1 – SUJEITOS DA PESQUISA

3.6 TÉCNICA DO GRUPO FOCAL

A escolha pela técnica do grupo focal, nesta pesquisa, teve a intenção de construir uma roda de conversa com as crianças e os adolescentes sobre o trabalho infantil. A motivação teve o intuito de estabelecer uma interação social pelo clima de entusiasmo mútuo entre os participantes, com possibilidade de aprofundar assuntos abordados nas seções painéis sobre o trabalho infantil.

O grupo focal, para Gatti (2005, p. 7), é uma técnica que possibilita a relação social de um grupo de discussão com a intenção de conseguir dados de caráter qualitativo. É uma técnica com critérios que articulam a percepção dos participantes sobre os temas em discussão. Ainda, privilegia a seleção dos participantes conforme alguns critérios: “ter alguma vivência com o tema a ser discutido, de tal modo que sua participação p ossa trazer elementos ancorados em suas experiências cotidianas” (GATTI, 2005, p. 7).

Nesse sentido, as crianças e os adolescentes da Amazônia paraense de alguma forma se ligam uns aos outros, por motivos relacionados ao compartilhamento de características demográficas, nível de escolaridade e por estarem em condição de ocupação no trabalho infantil.

A técnica do grupo focal permitiu que um conjunto de crianças e adolescentes escolhidas e agrupadas discutisse sobre o trabalho infantil. Gatti (2005) explica que na pesquisa científica “os participantes reunidos comentam a sua experiência pessoal” sobre um determinado tema escolhido pelo moderador. Diz ainda que “é uma técnica de levantamento de dados muito rica para capturar formas de linguagem, expressões, tipos de comentários de determinado segmento” (GATTI, Idem, p. 12).

A técnica do grupo, segundo Gatti (Idem, p. 22) trata da interação de grupos, de preferência entre seis e doze pessoas, principalmente, “para projetos de pesquisa e o ideal é não trabalhar com mais de dez participantes” (GATTI, 2005, p. 22).

Trabalhar com grupos maiores segundo Gatti (2005) pode restringir a participação mais ativa das pessoas, pode limitar as trocas dialógicas e dificultar os registros. Para ela “o emprego de mais de um grupo permite ampliar o foco de análise e cobrir variadas condições que possam ser intervenientes e relevantes para o tema” (GATTI, Idem, ibidem, p. 22).

Em razão de a nossa pesquisa ter sido realizada em quatro escolas, tivemos o cuidado de trabalhar, com os grupos composto por um número menor de participantes. A formação dos grupos não foi determinada inicialmente, mas a composição final contou com quatro crianças e adolescentes de cada escola, devido à saída de algumas crianças e adolescentes, conforme informado anteriormente na caracterização dos sujeitos.

Outro cuidado a ser tomado na realização do grupo focal tem relação com a escolha do local, que deve apresentar certa privacidade. Gatti (Idem, p. 24) diz que “o local dos encontros deve favorecer a interação entre os participantes”, deve ser bem arejado, espaçoso, sem barulho. No dizer de

Bakhtin (2003, p. 112) “um campo mais dialógico”, porque proporciona um lugar para o discurso do ser humano, mediado pela linguagem e pelo contexto histórico em que se insere o sujeito. Daí porque escolhemos as salas da biblioteca e do Programa Mais Educação53, por serem locais com menos barulho, que permitem os nossos momentos dialógicos nas escolas.

A escolha dos ambientes, tanto da Biblioteca como a Sala do Programa Mais Educação, se deu por serem espaços nas escolas que permitiram a organização da roda de conversa, do silêncio, da disponibilidade de uma mesa em formato redondo, com cadeiras, que de certo modo se constitui um lugar confortável e harmônico para a proposta do grupo focal.

Gatti (2005) explica que no ambiente da pesquisa os participantes “devem se encontrar face a face para que sua interlocução seja direta. Como os participantes permanecerão um tempo razoável em reunião, certo conforto é necessário” (GATTI, Idem, ibidem). Nesse sentido, as salas da biblioteca e do Programa Mais Educação foram organizadas antecipadamente com as arrumações das cadeiras em formato de roda de conversa, em torno da mesa central e as mesas dos colaboradores dispostas em posição de visualização de todo o processo de trocas entre pesquisados e pesquisadores.

Recriamos um espaço harmônico, colorido e afetivo para evitarmos acanhamentos, interrupções, barulhos e outras sonoridades que viessem atrapalhar o momento de interação e de escuta das vozes das crianças e dos adolescentes sobre o trabalho infantil.

Gatti (2005) fala que o ambiente deve ser agradável e receptivo, por isso a preferência pela sala da biblioteca que é um espaço bonito, carregado de outros saberes, da disposição dos livros, de jogos educativos

53Em três escolas (Leão, Trabalho e Peixe Azul) o grupo focal foi realizado na biblioteca e apenas na

e pela sala do Programa Mais Educação que é colorido, um lugar dos instrumentos musicais, das bolas etc.

Nos encontros do grupo focal, às crianças e os adolescentes eram recebidas com lanche (biscoitos, suco, chocolate e água), com a intenção de promover um momento de descontração. Cada criança e adolescente recebeu um crachá com o seu nome para facilitar o trabalho de registro da equipe - pesquisadores, bolsistas e profissionais da educação.

Nas quatro escolas, o grupo focal contou com a colaboração de duas profissionais da educação, (uma estudante do Curso de Pedagogia e uma Especialista em Psicopedagogia), que ficaram responsáveis pelos gravadores, pelos registros escritos e pela observação de possíveis acontecimentos como: nervosismo, choro, riso, conflito etc., uma vez que explica Gatti (2005, p. 27) “mesmo com as gravações, recomenda-se que se façam anotações escritas, que se mostram essenciais para auxiliar as análises”. Daí a participação de outras pessoas no grupo focal.

A colaboração das profissionais da educação serviu para facilitar o trabalho dos pesquisadores e do moderador, que promoveram a conversa com as crianças e com os adolescentes a partir de um roteiro, contendo algumas perguntas. Estas questões orientaram o moderador a trazer/manter o foco na discussão sobre o trabalho infantil.

A elaboração do roteiro de discussão guiou as interações no grupo focal, que partiu de uma abordagem geral sobre o trabalho infantil para depois permitir a participação de todos, com a intenção de envolver todas as crianças e os adolescentes na roda de conversa.

Estas conversas aconteceram de forma dialogada e os gestos, as pausas que ocorriam durante as falas foram atentamente observadas e se tornaram significativas, no momento de validar o que foi dito pelas crianças e pelos adolescentes sobre o trabalho infantil. Isso, de forma mais particular, possibilitou a coleta do corpus de análise da nossa pesquisa.

Cabe ressaltar que a pesquisa de base sócio histórica privilegia o discurso de crianças e de adolescentes e considera todas as informações possíveis sobre o fenômeno investigado, ainda deve o pesquisador respeitar as falas, os gestos, os aprendizados das crianças e dos adolescentes conforme a faixa etária.

O encontro do grupo focal em cada escola pesquisada aconteceu em três seções, com duração em média de duas horas e em dias diferentes, no sentido de se evitar o cansaço dos participantes. Ao mesmo tempo, em que se deve ter o cuidado com a pesquisa, principalmente por se tratar de crianças e adolescentes, com interesse de vida bem particular e com reações típicas da infância e da adolescência como de alta mobilidade e dificuldade de concentração. Compreendendo as singularidades desse grupo social foi necessário elaborar o planejamento das três seções em conformidade com o plano da pesquisa, respeitando as características que envolvem crianças e adolescentes.

A decisão tomada no planejamento das três seções justifica-se pela necessidade de se abordar aspectos que precisavam de maior investigação sobre o trabalho infantil nas falas das crianças e dos adolescentes da Amazônia paraense. Esses aspectos guiaram as seções:

1) Características de trabalho infantil. 2) Percepção sobre o trabalho infantil 3) Trabalho infantil e remuneração.

O roteiro mais específico das seções previa a duração de duas horas, em torno de três questões para cada seção, realizado com algumas indagações iniciais, a saber: “Vocês contaram em outro momento da pesquisa que trabalham; então, o que cada um de vocês tem a falar de sse trabalho infantil? Vocês também falaram que ganham dinheiro [...]; quantos vocês ganham? Ah! Porque vocês trabalham?”.

Na segunda seção perguntamos se o trabalho infantil contribu i para o aprendizado escolar; porque vocês gostam de frequentar a escola? Vocês consideram ou não importante estudar?

E na terceira e última seção os questionamentos se direcionaram para questões como: se vocês tivessem que escolher entre ganhar dinheiro e praticar outra atividade, tais como: como estudar, aprender tocar violão, brincar, jogar futebol etc., qual seria a sua escolha? O que é o trabalho infantil para vocês?

No último momento do grupo focal comunicamos às crianças e aos adolescentes que estava chegando o término de nossos encontros na escola. Comunicamos a eles que o nosso momento final, realizaríamos uma palestra sobre os perigos das drogas e do trabalho infantil54, Ainda, falamos que se houvesse necessidade de mais encontros que voltaríamos à escola.

O nosso momento final do grupo focal nas escolas foram seguid o de muita festa, de distribuição de lanche e muita musicalidade. Os pesquisadores disponibilizaram um tempo à escola para trabalhar atividades recreativas com as crianças e os adolescentes participantes da pesquisa.

Portanto, o plano de pesquisa para a aplicação da técnica do grupo focal atenderam os critérios de nossa pesquisa, ainda podemos dizer que os vários encontros com as crianças e os adolescentes nas escolas permitiram uma interação essencial e ativa entre os participantes e possibilitou a coleta de um rico material de análise, agrupados, ajudaram a emergir as categorias empírica e interpretativa. A compreensão gerada por uma análise preliminar das seções agrupadas e descritas, posteriormente subsidiaram o nosso retorno às escolas para aplicar a técnica do focal.

Na organização do tratamento dos dados, priorizamos o agrupamento dos painéis em categorias descritivas, que objetivamente subsidiaram a realização do grupo focal. Nessa organização, dadas às seções painel musical, painel do trabalho e cine prosa foi possível uma leitura do material e a descrição, divididas em três eixos:

 Percepção de criança e de adolescência;  Compreensão de trabalho;

54

Convidamos um profissional da Polícia Civil para falar de drogas nas escolas e uma Psicóloga para falar de afetividade na família.

 Sentido de trabalho infantil.

Com essa divisão pudemos compreender o sentido que as crianças e os adolescentes da Amazônia paraense atribuem a cada uma das categorias descritivas. Nesse sentido, consideramos relevante expor a fase de organização das categorias e os registros da descrição das seções painéis antes de apresentarmos o capítulo de análise.