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3. ESTUDO DE CASO SOBRE A FRANQUIA TRANSFORMERS

3.1 A concepção da franquia Transformers

A franquia Transformers é, acima de tudo, uma marca conjunta pertencente a duas empresas especializadas em brinquedos e entretenimento: a Hasbro, que opera nos Estados Unidos e na maior parte do mundo, e a TakaraTomy, exclusiva

ao Japão e alguns locais da Ásia. As origens da franquia estão intrinsecamente atreladas à relação e influência que ambas as empresas exerceram uma na outra ao longo de duas décadas, antes mesmo de unirem suas forças. É provável que, sem a participação de qualquer uma delas, a franquia nunca tivesse sido concebida.

Fundada em 1923 como Hassenfeld Brothers nos Estados Unidos, a Hasbro mudou seu nome para o atual em 1968. Seu primeiro brinquedo de sucesso foi o “Sr. Cabeça de Batata” (Mr. Potato Head)10

em 1952, mas a sua criação que mais revolucionou a indústria foi o G.I. Joe (conhecido no Brasil como Falcon) em 1964, a primeira “figura de ação”11

, que representava homens das mais variadas áreas do exército e algumas outras profissões; a linha foi o carro-chefe da empresa por mais de uma década, quando caiu em popularidade. A solução foi encontrada em 1982 com uma completa reinvenção da linha em uma nova escala, com novos brinquedos, novos personagens, um desenho animado na televisão e uma série de histórias em quadrinhos para promovê-la; essa nova versão foi chamada de G.I. Joe: A Real

American Hero (Comandos em Ação no Brasil).

Enquanto isso, durante a década de 1950, a parceria entre os governos dos Estados Unidos e do Japão auxiliava o país oriental a se recuperar dos danos causados pela Segunda Guerra Mundial. Utilizando-se de materiais descartados por bases militares, a empresa Sato Vinyl, criada em 1955, ganhou popularidade produzindo carrinhos de brinquedo e robôs de corda; essa empresa mudou de nome para Takara em 1960. Em 2005, a Takara se fundiu com outra fabricante de brinquedos japonesa, a Tomy, que já existia desde 1924; juntas, as empresas passaram a ser conhecidas como TakaraTomy.

3.1.1 Takara: a origem japonesa

Durante a década de 1960, a Takara havia mudado seu foco para a fabricação de bonecas para meninas. Procurando por um brinquedo que pudesse ser direcionado aos meninos, a empresa teve o seu primeiro contato com a Hasbro ao comprar dela a licença para fabricar e vender a linha G.I. Joe no Japão; porém, a

10 A versão original do “Sr. Cabeça de Batata” era constituída apenas por peças, como olhos, boca e

nariz, para serem encaixadas em batatas reais não incluídas. O corpo em formato de batata de plástico foi introduzido apenas em 1964.

11 O termo “figura de ação”, ou “action figure”, foi criado para atrair a atenção do público masculino e

diferenciar os G.I. Joe de bonecas consideradas femininas. O termo é utilizado até hoje para se referir a qualquer brinquedo articulado.

temática de homens militares não foi bem recebida pelo público japonês, que ainda se sentia desconfortável com o assunto. Após observar as tendências no mundo dos desenhos animados e quadrinhos do momento, a empresa percebeu que robôs ainda estavam em alta, e assim decidiu modificar o molde do G.I. Joe de um ser humano para uma figura robótica com peças metálicas, batizando-o de Henshin Cyborg12.

Devido a uma crise de petróleo em 1973, a fabricação do Henshin Cyborg encareceu, o que levou a Takara a substituí-lo por uma linha de robôs menores, chamada Microman (figura 2). No decorrer da década, as primeiras características transformáveis começaram a surgir, com alguns robôs podendo assumir formatos veiculares. Com o sucesso de Microman, em 1980, a Takara lançou uma linha paralela de robôs ainda menores, com cerca de três centímetros de altura, mas que pilotavam naves espaciais capazes de se transformar em verdadeiros robôs “gigantes”; essa linha chamava-se Diaclone.

Figura 2 – Divulgação da linha Microman, 1974.

Fonte: EdailyTV. <https://bit.ly/2P5VDCW>. Acesso em 01/12/2019.

Em 1982, o interesse por naves espaciais e carros futuristas havia desaparecido, o que levou a Takara a reinventar suas linhas mais uma vez, dando origem à Diaclone Car Robo (figura 3), com robôs que se tornavam carros, caminhões e aviões realistas em escala 1:16 (um centímetro do brinquedo equivale

12 “Henshin” significa “transformação” em japonês. Por coincidência, é possível que o uso da palavra

a 16 centímetros do tamanho real do veículo), e à Micro Change, com robôs que se tornavam “objetos do cotidiano” em escala 1:1, como relógios, toca-fitas, carrinhos de brinquedo e até mesmo revólveres. Tantas novidades garantiram à Takara mais um ano de vendas bem-sucedidas.

3.1.2 Hasbro: a origem americana

Em 1982, a Hasbro desfrutava do lançamento de G.I. Joe: A Real American

Hero e já estava pronta para aplicar as mesmas estratégias à uma nova linha. Em

uma visita a uma feira de brinquedos japonesa no mesmo ano, representantes da empresa ficaram surpresos com a popularidade de robôs transformáveis no oriente, visto que muitas fabricantes além da Takara estavam apostando em brinquedos do tipo. Acreditando no potencial de vendas que os robôs teriam no mercado ocidental, os americanos tiveram a ideia de comprar todos aqueles produtos; a Takara, se mostrando muito mais interessada na proposta do que as outras fabricantes, ofereceu à Hasbro um acordo de longo prazo. Com isso, as duas fecharam um negócio pela segunda vez, dando início à uma parceria permanente.

Figura 3 – Divulgação da linha Diaclone Car Robo, 1982. (Todos os produtos nesta imagem foram relançados pela Hasbro).

Fonte: TransformerLand. <https://bit.ly/2Dy3Z0Y>. Acesso em 01/12/2019.

O acordo entre as empresas resultou na Hasbro adquirindo todas as figuras das linhas DiacloneCarRoboe MicroChange, apesar de algumas poucas terem sido

excluídas do lançamento americano. As primeiras mudanças determinadas pela Hasbro, de forma quase imediata, foram a exclusão dos pilotos de Diaclone,

reforçando a ideia de que os robôs teriam “vida própria”, e a união das duas linhas em uma única, batizada finalmente de The Transformers (“transformadores” em inglês), nome que, apesar de simples, provou-se forte e memorável entre os consumidores.

Contudo, a Hasbro sabia que os brinquedos não iriam se vender sozinhos, e nada era mais garantido do que reutilizar a mesma estratégia que revitalizou G.I. Joe:

contar a história dos personagens através de desenhos animados e quadrinhos. Porém, tendo descartado o pouco de ficção que acompanhava Diaclone e Micro

Change, a empresa precisava criar seus personagens do zero, baseando-se apenas

naaparênciadosbrinquedosquehaviaadquirido,ecriarumahistóriaquefuncionasse para o público americano, pois este não tinha a mesma familiaridade com figuras de robôs que o público japonês tinha. Para essa tarefa, foi terceirizado o serviço da Marvel Comics13, a qual também ficaria responsável pelos quadrinhos (figura 4).

Figura 4 – Capa da revista em quadrinhos The Transformers #1, 1984.

Fonte: TFWiki. <https://tfwiki.net/wiki/The_Transformers_(issue)>. Acesso em 01/12/2019.

Em 1983, com um prazo de menos de uma semana para apresentar resultados,oescritoreilustradorBobBudiansky,comajudadealgunspoucoscolegas, criou nomes e perfis para os primeiros personagens que teriam seus brinquedos lançados no início de 1984 e estrelariam as revistas em quadrinhos e o desenho

13

Marvel Comics é uma das mais populares editoras de revistas em quadrinhos do mundo, sendo a dona de super-heróis famosos como o Homem-Aranha, os Vingadores e os X-Men.

animado.Ahistóriacriadaparaaficçãodafranquiaapresenta osTransformerscomo robôs alienígenas do planeta Cybertron, divididos entre os heroicos Autobots e os malignosDecepticons,quelutampelapossedosúltimosrecursosdoplanetaantesde virempararna Terraembuscade novosrecursos.Chegando aonossoplaneta,eles usam suas habilidades de mudar de forma para se disfarçarem e não serem percebidospelahumanidade.Seguindoessapremissa,aprimeiraediçãodarevistafoi lançadanosEstadosUnidosemmaiode1984,enquantooprimeiroepisódiodasérie animada(figura5)foilançadoemsetembrodomesmoano.