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3. ESTUDO DE CASO SOBRE A FRANQUIA TRANSFORMERS

3.2 Os 35 anos de história

3.2.1 Lançamento e sucesso imediato (1984-1985)

Os dois primeiros anos da franquia foram um verdadeiro sucesso comercial, e várias estratégias se tornaram conhecidas por serem as razões por trás disso. A Hasbro havia criado uma marca poderosa, com uma rica identidade visual que apelava para as maiores tendências da época. Dois slogans foram criados e usados extensivamente já no primeiro ano: “More than meets the eye” (Mais do que o olho pode ver) e “Robots in disguise” (Robôs disfarçados). A rima entre os dois é intencional, pois ambos foram usadas como versos do jingle ouvido nos comerciais de televisão e, eventualmente, na música-tema de abertura da série animada. Além do jingle, muito cuidado foi tomado na criação do “som de transformação” emitido pelos robôs toda vez que eles mudam de forma; as cinco notas – em ritmo crescente

na mudança de veículo para robô e decrescente, de robô para veículo – tornaram-se o som incidental mais lembrado e adorado entre fãs e espectadores casuais.

Figura 5 – Cena da série animada The Transformers, 1984.

Fonte: TFWiki. <https://tfwiki.net/wiki/More_than_Meets_the_Eye,_Part_1>. Acesso em 02/12/2019.

Tanto o jingle quanto o som de transformação continuam em uso em quase todas as mídias audiovisuais produzidas até hoje, com uma melodia instrumental baseada no ritmo de “More than meets the eye” tornando-se também uma espécie de marca sonora da franquia. Outros slogans já foram usados no decorrer dos anos, como o semelhante “Change before your eyes”, mas os dois originais continuam sendo os mais frequentes, inclusive também sendo usados como subtítulos de algumas mídias da franquia.

Cada facção, como são chamadas as equipes do bem e do mal, possuía sua própria insígnia, que era estampada por todos os lados nas embalagens, nos brinquedos e em todos os produtos licenciados, tornando-as facilmente reconhecidas; a insígnia dos Autobots, em particular, tornou-se equivalente ao logo oficial da própria franquia. A popularidade desses símbolos é tamanha que, até hoje, é comum o seu uso em diferentes contextos por pessoas que os admiram, especialmente em tatuagens no corpo e adesivos em carros. Uma identidade visual mais sútil, mas que constantemente se faz presente em embalagens e catálogos de divulgação, é a associação dos Autobots com a cor vermelha, enquanto os Decepticons são associados à cor roxa (figura 6).

Figura 6 – Divulgação da linha The Transformers, 1984.

(Todos os produtos na imagem são relançamentos de Diaclone Car Robo e Micro Change. Note o uso da cor vermelha para destacar os Autobots e da cor roxa para os Decepticons).

Fonte: Botch the Crab. <https://bit.ly/2R5HkRL>. Acesso em 01/12/2019.

Uma estratégia envolvendo os brinquedos em si, que favoreceu muito o crescimento da linha, foi a reutilização de moldes para criar mais de um personagem (figura 7); ou seja, lançar uma mesma figura em duas ou mais variações de cores, dando nomes e perfis diferentes para cada uma, essencialmente resultando em mais produtos individuais que o consumidor sentirá a necessidade de comprar. Se comprar duas figuras do mesmo molde, ele não sentirá que possui uma repetida, pois cada uma tem seu próprio nome, sua própria personalidade, sua própria vida; ele precisa do produto “repetido” para completar a sua coleção, ou simplesmente para ter os seus personagens favoritos. Na maioria dos desenhos animados e quadrinhos, os personagens parecem ser cegos ao fato de serem “idênticos” a um ou mais de seus colegas, ou simplesmente preferem ignorar esse detalhe; mas existem exceções, como no caso do esquadrão de jatos Decepticons, os “Seekers”, em que todos os membros têm a mesma aparência como uma espécie de “uniforme”.

Apesar de levantar discussões frequentes entre consumidores que questionam a moralidade da estratégia de reutilizar moldes, a mesma sempre se provou eficiente e lucrativa para a Hasbro, pois é muito menos custosa do que a criação do zero de um novo molde para cada novo personagem. Existem diferentes níveis de reutilizações de moldes, cada um identificado por um termo diferente:

de cores diferentes; repaint, quando a diferença de cores é apenas na pintura, não no plástico (muitos fãs ainda confundem redecos com repaints); e retool, quando uma ou mais peças do molde são modificadas de uma figura para outra, como a adição de umacabeçadiferenteouumaalteraçãofeitaaomodoveículo.Emanosmaisrecentes, as técnicas de retool da Hasbro e da TakaraTomy vêm se tornando cada vez mais sofisticadas, levando fãs a se surpreenderem quando descobrem que uma nova figura é, na verdade, uma versão bastante modificada de outra previamente lançada.

Figura 7 – Exemplos de redeco e retool.

(Starscream, à esquerda, e Thundercracker, ao centro, de 1984, são redecos um do outro, sendo idênticos além das cores e adesivos. Já Ramjet, à direita, de 1985, é um retool, pois

possui novos pares de asas e acessórios, enquanto reaproveita o restante do molde).

Fonte: Adaptado de TFWiki. <https://tfwiki.net/wiki/Starscream_(G1)/toys>. Acesso em 02/12/2019.

Mas uma das estratégias mais importantes, se não a mais importante de todas, para que a franquia se tornasse tão apelativa a muitos consumidores, foi a criação dos personagens pela Marvel Comics. Dentre os mais populares e inesquecíveis estão: Optimus Prime, o nobre líder dos Autobots que vira um caminhão; Bumblebee, o melhor amigo dos humanos que vira um fusca; Megatron, o maníaco líder dos Decepticons que vira um revólver; e Starscream, o traiçoeiro segundo-em-comando que vira um jato; além de dezenas de outros personagens. Essas características permitiam que o público se identificasse diferentemente com cada robô e tornava as suas interações na ficção mais realistas e expressivas. Todas as embalagens dos brinquedos vinham com uma ficha completa com a personalidade, a função e as estatísticas de cada robô (figura 8), que eram seguidas

de acordo por suas encarnações na série animada e nas histórias em quadrinhos, com algumas exceções; o Decepticon Shockwave, por exemplo, era leal ao seu líder Megatron na animação, mas o odiava nos quadrinhos.

Figura 8 – Ficha do personagem Megatron, presente na embalagem de seu brinquedo de 1984.

Fonte: Seibertron. <https://seibertron.com/vsd/character/megatron/2/>. Acesso em 02/12/2019.

Em 1985, a linha de brinquedos seguia firme e forte nas prateleiras das lojas, já tendo triplicado a quantia de produtos disponíveis. Dezenas de novos modelos vindos do Japão foram lançados nos Estados Unidos; alguns haviam sido originalmente planejados para a linha Diaclone, mas, no lugar, foram lançados diretamente na linha The Transformers, levando a sua precursora a ser descontinuada. Nesse período, foram introduzidos dois novos tipos de Transformers, que se tornaram extremamente populares: os “Triple Changers”, que possuem três modos, um de robô e dois de veículos diferentes; e os “Combiners”, equipes de cinco a seis robôs que podem se unir e formar um robô maior. Essas características se tornariam cada vez mais constantes nas linhas de brinquedos da franquia com o passar dos anos.

Buscando ainda mais expansão à sua oferta, a Hasbro adquiriu diversos moldes de robôs transformáveis criados por outras empresas e adicionou todos eles ao catálogo de The Transformers; felizmente, essa atitude não abalou as suas relações com a Takara, que apenas optou por não incluir os robôs terceirizados em sua versão da linha, lançada a partir de 1985 com o nome Tatakae! Chō Robotto

Seimeitai Transformers (“Lutem! Super Formas de Vida Robóticas Transformers”).

Enquanto isso, o desenho animado já estava em sua segunda temporada e acrescentava novos personagens a cada episódio; até então, todos vinham sendo bem recebidos pelos espectadores e consumidores, mas essa receptividade estava prestes a mudar devido a uma das decisões mercadológicas mais equivocadas da história da franquia.