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Produções de Hollywood e expansões constantes (2007-2017)

3. ESTUDO DE CASO SOBRE A FRANQUIA TRANSFORMERS

3.2 Os 35 anos de história

3.2.5 Produções de Hollywood e expansões constantes (2007-2017)

Durante os primeiros anos do século XXI, a franquia se sustentava de forma relativamente estável, mas não era o suficiente para a Hasbro. A empresa acreditava que o momento estava chegando para que a franquia retornasse às telas de cinemas, mas não com um desenho animado tradicional, e sim com uma produção milionária em live-action, ou seja, com atores reais. Tecnicamente, os robôs continuariam sendo animações, criadas através da tecnologia mais avançada de

CGI14 disponível em Hollywood, que os tornaria tão verossímeis aos nossos olhos quanto os próprios veículos que seriam filmados na vida real para interpretá-los.

Figura 17 – Pôster do filme Transformers, 2007.

Fonte: TFWiki. <https://tfwiki.net/wiki/Transformers_(film)>. Acesso em 02/12/2019.

Lançado mundialmente em 2007, o primeiro filme live-action da franquia, intitulado apenas Transformers (figura 17), foi dirigido pelo famoso diretor americano Michael Bay e produzido pelos estúdios de Hollywood, Paramount e Dreamworks. Carros e veículos militares de diversas marcas foram usados como os modos alternativos dos Transformers no filme, mas uma parceria especial com a General Motors15, mantenedora da Chevrolet, garantiu a participação da fabricante na produção e divulgação do filme (figura 18). Para a linha de brinquedos, foi seguido o exemplo de Alternators e as licenças da maioria das fabricantes dos veículos reais foram adquiridas.

O filme causou a maior divisão na opinião dos fãs desde Beast Wars, com alguns elogiando os seus efeitos especiais de última geração e o novo patamar de reconhecimento e sucesso atingido pela franquia, enquanto outros criticaram ferozmente a nova estética dos robôs e a qualidade duvidosa de outros aspectos da produção, em especial a direção de Michael Bay, que se tornou alvo de muita

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CGI, ou computer-generated imagery (imagens geradas por computador), é um recurso comumente utilizado no cinema desde a década de 1990 para criar cenas impossíveis ou muito difíceis na realidade.

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General Motors é uma fabricante de automóveis norte-americana fundada em 1908. Criou a sua subsidiária mais conhecida, a Chevrolet, em 1911.

comoção no fandom. Por ser um lançamento de Hollywood, milhares de pessoas de todas as idades e de fora do fandom assistiram à produção, incluindo críticos profissionaisdecinema,queemsuamaioriativeramasmesmasopiniõesencontradas entre os fãs. Mas o importante, especialmente para a Hasbro, é que o sucesso de bilheteria do filme e das vendas de seus brinquedos tornou a franquia bilionária, e é graçasaesseimpulsoqueosoutrossetoresdafranquia,comoosdesenhosanimados e as linhas para colecionadores, são capazes de sustentar seus custos de produção.

Figura 18 – Bumblebee em cenas do filme Transformers, 2007. (No topo, seu modo robô, mostrando a complexidade da nova estética visual e a qualidade do CGI. Embaixo, seu modo alternativo de Chevrolet Camaro,

mostrando a parceria da produção com a fabricante de veículos).

Fonte: Adaptado de TFWiki. <https://tfwiki.net/wiki/Bumblebee_(Movie)>. Acesso em 02/12/2019.

Devido ao novo visual extremamente detalhado dos robôs, diferente de qualquer interpretação no passado, os brinquedos também se tornaram mais complexos em seus mecanismos, e passaram a preencher um nicho do mercado antes pouco explorado: adolescentes e jovens adultos, mais velhos para os brinquedos dos desenhos animados e ainda muito novos para as figuras destinadas aos colecionadores adultos. A linha manteve o uso das classes de tamanho, mas popularizou outra estratégia que favoreceu ainda mais as suas vendas: lançar um mesmo personagem em duas classes ou mais (figura 19), dando assim uma maior opção de escolha ao consumidor. A menor figura do Optimus Prime pode ser a única acessível ao bolso de alguns fãs, enquanto outros podem e querem investir na figura maior, mais cara e que possui recursos eletrônicos. As classes também permitem ao

personagem que esteja disponível em diferentes níveis de complexidade; podem haver uma versão mais fácil e rápida de converter para as crianças, e outra versão mais bem elaborada que desafie até os adultos. O importante é fornecer a todos os públicos a chance de possuir cada personagem em suas coleções.

Figura 19 – Comparação entre várias figuras do Optimus Prime, todas da linha de 2007. (Cada uma pertence a uma classe diferente, que define características

como tamanho, complexidade e preço).

Fonte: Adaptado de Seibertron. <https://bit.ly/34LVH1s>. Acesso em 04/12/19.

Durante os 10 anos seguintes, Michael Bay dirigiu quatro sequências do filme (figura 20): Transformers: Revenge of the Fallen (Transformers: A Vingança dos

Derrotados, 2009); Transformers: Dark of the Moon (Transformers: O Lado Oculto da Lua, 2011); Transformers: Age of Extinction (Transformers: A Era da Extinção,

2014); e Transformers: The Last Knight (Transformers: O Último Cavaleiro, 2017).

Figura 20 – Pôsteres dos quatro filmes lançados entre 2009 e 2017. (Da esquerda para direita: Revenge of the Fallen,

Dark of the Moon, Age of Extinction e The Last Knight).

Apesar das críticas ficarem mais negativas a cada lançamento, a bilheteria manteve-se em um crescimento constante, até atingir seu ápice com a quarta produção, que obteve o maior arrecadamento mundial de 2014. O quinto longa, porém,foiumverdadeirofracassodebilheteria,alémdereceberasmaisdurascríticas por seu roteiro incompreensível, o que causou o diretor a abandonar a franquia.

Durante esse período, cada filme recebeu sua própria linha de brinquedos, com a linha de Revenge of the Fallen sendo a maior em número de produtos e a mais elogiada. No entanto, cada linha subsequente foi trazendo menos produtos ao mercado, chegando ao ponto de a linha do quinto filme ser encerrada como uma das menores de todas as eras da franquia. Sofrendo o mesmo destino do filme no qual foi baseada, a linha The Last Knight foi a mais decepcionante em termos de vendas e satisfação dos consumidores.

A influência que a série de filmes teve na franquia como um todo não pode serignorada.Bumblebee,umpersonagemcompletamenteausentedesdeGeneration 2, fez seu grande retorno como o principal Autobot no elenco, agora transformando-

se em um Chevrolet Camaro de última geração. A sua popularidade com o público de dentro e fora do fandom levou ao lançamento de centenas de brinquedos baseados em sua imagem (muitas vezes mais do que qualquer outro personagem), garantiu a sua presença com relevância em todas as mídias subsequentes da franquia e ainda colaborou com a popularização e o sucesso de vendas do novo Camaro.

Figura 21 – Pôster da série animada Transformers Animated, 2008.

Em 2008, foi lançada a série Transformers Animated (figura 21), que se aproveitou de muitos temas e conceitos apresentados ou popularizados pelo filme de 2007, apesar de possuir uma estética muito diferente e estilizada de acordo com as tendências em animações da época. Animated foi bem recebida e é considerada por uma parcela do fandom como a melhor encarnação da franquia, mas sofreu um fim prematuro em 2009, quando foi cancelada devido a mudanças nos planos da Hasbro.

Desde o princípio, a ficção de Transformers funciona como um “multiverso”, ou seja, se divide em múltiplas narrativas que não são conectadas. O desenho animado e os quadrinhos da Geração 1, por exemplo, não se encaixam em uma única linha do tempo, pois possuem eventos inconciliáveis; logo, cada mídia constitui um universo diferente dentro do multiverso. Do mesmo modo, nem todas as séries animadas compartilham do mesmo universo, e a maioria delas possui adaptações em jogos e quadrinhos que contam versões alternativas de suas histórias. Durante a década de 2010, porém, a Hasbro decidiu experimentar com uma nova estratégia de narrativa transmídia: o plano visava acabar com as múltiplas encarnações e unificar todas as mídias em um único universo, uma única linha do tempo.

Figura 22 – Pôster da série animada Transformers: Prime, 2010.

Fonte: TFWiki. <https://tfwiki.net/wiki/Transformers:_Prime_(cartoon)>. Acesso em 02/12/2019.

Essa nova encarnação da franquia, apelidada pelos fãs de “Aligned” (alinhado, em inglês), contou com as seguintes mídias: dois jogos de múltiplas plataformas, Transformers: War for Cybertron em 2010 e Transformers: Fall of

(figura 22), Transformers: Rescue Bots de 2011 a 2016 (figura 23), e Transformers:

Robots in Disguise de 2015 a 2017 (não relacionada à série de mesmo nome de

2001); quatro livros, Transformers: Exodus em 2010, Transformers: Exiles em 2011,

Transformers: The Covenant of Primus em 2013 e Transformers: Retribution em

2014; e algumas histórias em quadrinhos. Mesmo que cada produto midiático tivesse seu próprio público-alvo – com Rescue Bots sendo criada especificamente para crianças pré-escolares, enquanto Prime direcionava-se a um público adolescente –, todos foram idealizados para poderem se encaixar em uma grande narrativa contínua. Apesar dessa unificação, porém, muitos fãs se recusam a aceitar as conexões ou são simplesmente ignorantes à existência delas; para eles, os jogos não ocorrem antes dos eventos de Prime, que por sua vez não deveria ter ligação com Rescue Bots e assim por diante, mesmo quando existem evidências na ficção e declarações oficiais da Hasbro que corroboram com as conexões.

Figura 23 – Segunda abertura da série animada Transformers: Rescue Bots, 2016.

Fonte: TFWiki. <https://tfwiki.net/wiki/Transformers:_Rescue_Bots_(cartoon)>. Acesso em 02/12/2019.

Durante todo esse período, a IDW continuou publicando a sua encarnação da Geração 1 em seus quadrinhos, ganhando uma enorme popularidade com o lançamento do título The Transformers: More than Meets the Eye em 2012. A saga chamou a atenção de leitores de quadrinhos que tiveram seu primeiro contato com a franquia através dela, mas também se tornou alvo de críticas por “humanizar” demais os Transformers, especialmente através de relacionamentos românticos

entre robôs. No entanto, nem todos os fãs foram contrários às novas ideias, levando muitos a considerá-la como a sua interpretação favorita da franquia.

Enquanto isso, as linhas de brinquedos focadas em colecionadores adultos não pararam de crescer; Classics foi seguida pela linha Transformers Universe em 2008 e depois por Transformers Generations em 2010, que continua desde então. Semelhantemente, a linha Masterpiece teve um crescimento significativo, produzindo um número cada vez maior de figuras por ano. Nesse período, os brinquedos se tornaram o foco principal da TakaraTomy, que, muitas vezes, lançava versões consideradas superiores em comparação às suas contrapartes produzidas pela Hasbro (figura 24); muitos fãs passaram a preferir tanto as pinturas mais detalhadas das versões japonesas que começaram a importá-las direto do Japão para suas coleções, sem se preocupar com os preços elevados, evitando consumir as versões americanas. Além dos brinquedos, o Japão passou a produzir pouco conteúdo para a franquia, limitando-se a apenas uma curta série animada em 2013 e alguns quadrinhos esporádicos.

Figura 24 – Comparação entre duas versões de uma mesma figura do personagem Blurr, de 2016. (À direita, a versão Hasbro, lançada na linha Generations. À esquerda, a versão TakaraTomy,

considerada por muitos a versão superior devido à sua pintura muito mais elaborada).

Fonte: TFormers. <https://bit.ly/2OQe0gE>. Acesso em 04/12/2019.

A partir de 2007, houve um reposicionamento visando a globalização por parte da TakaraTomy. Tradicionalmente, muitos nomes eram modificados para melhor se adaptarem à língua japonesa; Optimus Prime era chamado de “Convoy” e

Bumblebee, de “Bumble”, por exemplo. Para o filme de 2007, porém, o país oriental manteve os nomes americanos, se referindo ao “Convoy” como Optimus Prime pela primeira vez. Desde então, a TakaraTomy passou a usar os nomes americanos em todas as novas encarnações da franquia; no entanto, tudo que se refere ao que veio antes de 2007, como a Geração 1, ainda preserva os antigos nomes japoneses.