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CAPÍTULO 2. PROCESSO DE PROJETO

2.2 CARACTERIZAÇÃO DAS FASES

2.2.1 Concepção (idealização e análise)

Figura 2.18 – Esquema geral da fase de concepção.

Natureza. Fase de idealização do produto e análise de viabilidade com decisões de natureza estratégica e tática, cujo processo deve conduzir a elaboração do briefing (necessidades do cliente/ usuário), acompanhado do estudo preliminar de arquitetura (EP- A). Segundo MELHADO (2004), o propósito da idealização consiste em produzir definições preliminares do produto (objetivos, padrão de construção, restrições), do processo (prazos, recursos, necessidade de procedimentos externos) e do programa de necessidades do produto. Na atividade de análise é realizada uma avaliação da solução inicial adotada através de parâmetros de custo, tecnologia, adequação ao usuário e restrições legais. Durante a idealização há um forte foco no cliente final, para a elaboração das estratégias do empreendimento, cuja abordagem predominante passa pelo critério de valor deste cliente. Alguns critérios de valor foram identificados e ilustrados na figura 2.19.

Figura 2.19 – Foco no cliente – valores 46

Durante a análise de viabilidade, utiliza-se a documentação proveniente da fase de idealização (briefing: requisitos descritivos, restrições de projeto e diretrizes das soluções adotadas) com o objetivo de fundamentar a análise e reduzir falhas decorrentes da falta de informação adequada. Como o desempenho funcional dos ambientes é mais que o desempenho individual de seus componentes e varia em disposição no arranjo físico do edifício, desenvolvem-se propostas de concepção geométrica que resultam no EP-A, cuja

46 Adaptação de notas de aula. Disciplina “Gestão da qualidade e produtividade na construção civil”, 03/05/2006.

DEMC-EE/UFMG. I I I F I $I I I I I I$I I I <C ?=<F?DE4 ?7_=<L ?7_=<L

elaboração e análise é orientada pelas diretrizes, requisitos e restrições de planilhas e relatórios. Uma delimitação das especificações materiais é realizada por definições de “padrão de construção”, que depende de requisitos culturais dos ambientes, desempenho técnico aceitável, disponibilidade e custo. As possibilidades construtivas são dependentes das limitações e experiência da base técnica instalada para execução (grupo de construção) (estruturas metálicas ou em concreto armado moldado “in loco”; alvenaria de tijolo cerâmico, tijolo de concreto ou sistema “dry-wall”, apenas para exemplificar). Cada sistema construtivo adotado exige uma informação e uma organização mais adequada. A seleção de materiais e sistemas deve atender requisitos de produto (funcional e desempenho técnico) e de processo (fornecedores, transporte, manuseio, ferramentas/equipamentos, mão de obra, etc.).

A análise de construtibilidade das opções tecnológicas deve considerar fatores de capacidade técnica (demanda por recursos materiais e humanos) e exigências de documentação (tipo, qualidade, acessibilidade e formato). Uma elaboração, nesta fase, de diretrizes, recomendações e check-list de orientação para análise de custo e tempo da execução, exigem uma integração precoce de profissionais de implementação e concepção, com o objetivo de consolidar definições geométricas e materiais que simplifiquem os processos.

Dificuldades e conflitos. Segundo RYD (2001b) apud RYD (2004), a cooperação entre agentes, nas fases iniciais do projeto não é bem documentado. Em geral as decisões são tomadas sem uma análise metódica das conseqüências futuras. Na etapa de incorporação, o desenvolvimento de processos para a busca e análise de terrenos com o melhor potencial construtivo, do ponto de vista do tipo de empreendimento, é uma importante iniciativa. Além de características construtivas, restrições de infra-estrutura adequada ao empreendimento e, a própria burocracia do processo, existem os processos informais de cooperação. Para BALLARD e KOSKELA (1998), a fase inicial é de difícil avaliação e controle, principalmente pela ausência de resultados físicos mensuráveis. Do ponto de vista das abordagens presentes (técnica e empresarial), surge uma situação de conflito “clássica” associada a definição de metas comerciais para os resultados de projeto. Em relação aos profissionais de projeto (arquitetura e engenharia), a realização de negócios com requisitos de qualidade da edificação, requer adaptações na orientação e preocupações que tradicionalmente orientam a elaboração de resultados. Segundo MAHFUZ (2004), o ambiente construído, enquanto produto de mercado, objetiva alcançar outras metas. Em relação ao produto, esta situação implica na associação de dois conceitos de valor: “uso” da edificação (trata do

“ambiente construído” como meio para a satisfação das necessidades do usuário) e valor de “troca” da edificação (trata do “produto comercial” como meio para a reprodução de capital). Uma valorização do produto comercial, uma vez respeitados os critérios de qualidade da construção e, mediante um adequado atendimento das necessidades do usuário, parece uma relação favorável à realização de projetos em ambientes empresariais. Por outro lado, a problemática recai sobre a capacidade de parâmetros reguladores da relação produto de AEC e produto comercial (lei de uso e ocupação do solo, código de obras, legislação ambiental) e nos métodos (técnicos e gerenciais) utilizados para a tradução de necessidades em especificações. O alinhamento das qualidades do produto com a estratégia de negócio, na etapa de concepção, indica um caminho frutífero para as empresas do setor. A determinação das necessidades do cliente/ usuário, de maneira geral, chamada “conversão de marketing”, entendida como a interpretação de dados de marketing, apresenta dificuldades discutidas pelas áreas de marketing (JURAN, 1997) e por áreas metodológicas como APO (ORNSTEIN, 1992). Em relação ao produto, pode ser exemplificadas algumas dificuldades práticas. Exemplo: a dificuldade em determinar parâmetros de valor que associem o critério técnico objetivo “nível de ruído” ao critério de qualidade subjetivo “barulho”; a dificuldade em associar o critério técnico objetivo “temperatura” ao critério de qualidade subjetivo “frio ou quente”. Outras dificuldades percebidas nesta fase são a escassez de capital, já que o crédito e financiamento privilegiam a etapa de implementação, o que desestimula práticas de projeto participativo e gera precariedade na qualidade da informação obtida.

Métodos e ferramentas. A perspectiva técnica para a elaboração do briefing, tem desenvolvido métodos para auxiliar na tradução das informações provenientes da interação com o cliente/usuário em especificações e requisitos. As contribuições do uso do método QFD (Quality Function Deployment) são reconhecidas em áreas de concepção de produto (CHENG, 1995; BAXTER, 1998: 214), assim como, aplicações do AHP (Analytic Hierarchy Process) (RHEINGANTZ et al., 2000; SOUZA e SABBATINI, 2004). Sob o ponto de vista do empreendimento, a elaboração do briefing deve ser um processo estratégico, ou seja, deve conduzir a uma maior compreensão dos requisitos que fazem do empreendimento de construção, uma situação de negócio bem sucedida. Para auxiliar a perspectiva do negócio, após a realização de estudos empíricos, RYD (2004) identifica algumas ferramentas de briefing estratégico, com familiaridade maior sobre aspectos táticos e operacionais. A pesquisadora destaca que para ser capaz de atender as necessidades do cliente é necessário compreender adequadamente a situação do cliente. Nesse sentido, o cliente

deve ser capaz de expressar suas necessidades sem o uso imediato de aspectos ou especificações de construção.

Durante a análise de viabilidade, um método de suporte nesta fase deve orientar a escolha material que atenda os requisitos de produto e permita flexibilidade ou adaptabilidade de processo executivo. A TPA (Teoria de Projeto Axiomático) (SUH, 2001) é uma metodologia que objetiva dar suporte a decisão em etapas de concepção do projeto, principalmente após a elaboração das necessidades do cliente. Segundo esta metodologia, as idéias e o acesso a base de conhecimento dos profissionais começa a se formar a partir das discussões sobre o projeto a ser desenvolvido (predomínio de comunicação verbal). Nesta fase, apesar do esforço em documentar aspectos relevantes47 para o produto e processo, há um relaxamento da formalidade do processo decorrente de ações estruturantes48 em pelo menos dois momentos: na idealização do perfil do empreendimento e na idealização do perfil formal do produto. PERRY e SANDERSON (1998) constataram duas principais formas de comunicação: a primeira, são seqüências de comunicação prolongada que ocorrem para discutir um problema não muito bem compreendido (discutem sobre o que cada um sabe do problema49, formas de resolvê-lo e conseqüências), e nem sempre concluem com uma solução; a segunda, são seqüências breves que envolvem perguntas cujas respostas não são conhecidas, orientadas a um problema compreendido, ou seja, aqui podem ser usados critérios ou métodos de solução.

Nesta fase, resultados coordenados podem ser obtidos mediante reuniões informais regulares combinadas, sem a necessidade de procedimentos formais (PERRY, FRUCHTER e ROSENBERG, 2000; PERRY e SANDERSON, 1998). Reuniões podem ainda ser diferenciadas entre reuniões técnicas (discussões em torno de propriedades e características) e reuniões procedimentais (discussão e distribuição de atividades e compromissos recíprocos). Desta fase resulta uma adequada modelagem do empreendimento e aprovação pelo cliente. Esta aprovação pode ser um marco inicial de compromissos contratuais e início dos preparativos para a fase de implementação (ver figura 2.20), o que gera complexidade adicional ao processo. Este marco pode representar

47 Os critérios de relevância e precisão nesta fase tem implicações sobre o que deve ser considerado crítico, do

contrário, todas as especificações passam a ser consideradas críticas, o que exige uma inspeção pesada e acarreta grande perda de tempo, sem agregar valor. Um determinado fornecedor ou a gerência da obra poderia propor alterações em especificações que não fossem críticas para a qualidade do produto, o que não acarretaria atividades de revisão e novas tomadas de decisão no processo.

48 Processo intelectual: ações sobre condições iniciais não claramente definidas.

49 Este é um procedimento de grande importância e a qualidade dos resultados depende do nível de exposição de

uma situação de compressão da fase de desenvolvimento, agravada pela falta de controle sobre as circunstâncias geradas por aprovações legais (atividades externas).

Figura 2.20 – Esquema geral da fase de concepção e implementação.