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CAPÍTULO 3. GESTÃO DO PROJETO

3.1 PANORAMA HISTÓRICO

3.1.1 Métodos e Ferramentas

3.1.1.1 Engenharia Simultânea (“Concurrent Engineering”)

Em MALONE (1994) a engenharia simultânea (ES) desenvolvida nos termos de CARTER e BAKER (1992) é entendida enquanto um tipo de “Projeto Participativo”, que foi desenvolvido com o intuito de atender as relações de produção e consumo em sua dependência de usabilidade (“usability”). Essa relação da ES com relações de produção e consumo encontra fundamento em sua origem vinculada ao processo de desenvolvimento de produto, na área de projeto de produto e manufatura (BALLARD, 2000a)52. BAXTER (1998) assume o desenvolvimento de produtos como uma abordagem conjunta de mercado e engenharia, o que significa uma identificação e satisfação das necessidades do consumidor, cuja percepção do produto é amplamente afetada pela cultura (GUILHOTO, 2001). Em seguida ocorre a geração e projetação de um produto. A origem do design de produto se encontra vinculado ao sistema de divisão de trabalho e desenvolvimento industrial53, o que torna o design fortemente orientado aos processos de fabricação. Recentemente o design de produto e o projeto de arquitetura, ou domínio de projeto clássico segundo GEDENRYD (1998), têm tomado orientações conciliadoras e em sentidos opostos: o design de produto no sentido de resgatar a dimensão do usuário; e o projeto de arquitetura no sentido de resgatar a dimensão da produção (ROMEIRO, 2006).

O termo “concurrent” é entendido enquanto a consideração dos diversos critérios de projeto de forma simultânea ou integrada. Uma crítica, que se aplica a proposta de ES, advém de seu contexto de processo enquanto modelo de conversão, e que vai de encontro as observações presentes em HUOVILA et al (1994) e BALLARD (2000a): no modelo de conversão os processos de geração e aplicação dos critérios de projeto não são explicitados, decorrente da consideração dos fluxos apenas quando entram ou saem dos processos de conversão. AMARAL e ROZENFELD (2001) citam os principais requisitos para a prática de ES, entre os quais: sistema de informação integrado; tecnologia que permita fluidez de informação, sistema de gerenciamento de projetos, “times” de projeto, grupos de tecnologia com uma rotina de reuniões, parcerias com fornecedores e clientes, ferramentas integradas (tipo CAD, entre outros), métodos de análise de produtos e processos, ferramentas de suporte á decisão. De uma forma geral, são procedimentos e ferramentas

52 Segundo o pesquisador, gerenciamento e engenharia assumem o processo de projeto enquanto modelo de

conversão.

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O design de produtos encontra suas raízes na busca de formas estéticas e de fundamento lógico vinculado à natureza tecnológica moderna, aproximando-se das máquinas e da indústria, o que nos anos 20 gera a chamada “estética da máquina”. A Bauhaus, escola de design fundada em 1919 na Alemanha, constitui marco na definição do design, enquanto união entre a arte e a técnica. Em seguida o movimento De Stijl — movimento artístico que enaltece a máquina e o controle racional do processo criativo constitui uma orientação estética de encontro aos interesses da BAUHAUS (sob a direção de Walter Gropius) em estreitar o seu relacionamento com a indústria, com a produção em massa e com o emprego das máquinas. Neste período, a escola começou a ocupar-se da produção de modelos de produtos para a indústria, consolidando a linguagem da Bauhaus. (FRAMPTON, 1997).

para lidar com informação estruturada. Um requisito importante e citado pelos pesquisadores é “ambiente orientado por projetos”. Este requisito é importante porque ele distingue o projeto empresarial, do projeto de produto, não sem uma diversidade de conflitos. No contexto deste trabalho uma possível distinção entre processos, fundamentado na idéia de diferenças de complexidade gerencial e técnica, parece uma posição que vale a pena discutir mais no contexto do processo de projeto de AEC.

Em relação aos eventuais efeitos esperados da aplicação de ES ao processo de projeto, BALLARD (2000a) destaca que afeta o método tradicional seqüencial de desenvolvimento, o que evidentemente associa-se ao foco de abordagem, ou seja, do design enquanto planejamento. Em metodologias de projeto, GEDENRYD (1998) distingue a abordagem de planejamento como um dos princípios das metodologias de processo. Neste caso, a ES estaria afetando a capacidade logística das atividades, mais que a lógica seqüencial das atividades.

FABRÍCIO (2002) propôs o projeto, resultante da aplicação de princípios de ES, enquanto “projeto simultâneo”. O objetivos principais da ES em HUOVILA et al (1994) são a redução do prazo de engenharia e dos custos, com aumento de valor agregado. Como a ES vincula- se a um processo sob o ponto de vista da conversão, o objetivo é reduzir atividades que não contribuem para a conversão. Uma maior interação, nas fases iniciais do processo, contribui para reduzir a incerteza e o número de interações realizadas para evitar a veiculação de erros (retrabalho). A aplicação de ES ao processo de projeto em AEC deixa em aberto processos criativos, ou seja, ações estruturantes nas quais a lógica interna não é linear (ex.: entendimento das necessidades e demandas de stakeholders54), não havendo uma noção precisa de até que ponto o retrabalho minimizado é não agregador de valor ou se estamos lidando com o conceito de retrabalho, nos termos de BALLARD (2000b).

BALLARD e KOSKELA (1998) destacam a constante reivindicação atual da indústria num critério de projeto específico, a “manufaturabilidade”. No ramo da construção civil recebeu o análogo de “construtibilidade”. Os pesquisadores fazem uma interessante observação ao concluir que construtibilidade tem sido mais um critério de produto (confundido e restrito ao nível de compatibilização entre informações), após os projetos serem desenvolvidos, do que um critério de processo. É evidente que conflitos informacionais reduzem a construtibilidade, por dificultarem a exeqüibilidade, mas sua compatibilidade não necessáriamente tem níveis adequados de construtibilidade. Podemos perceber que se estendermos o foco de design

para o ciclo de vida do empreendimento, construtibilidade pode ser estudado do ponto de vista da viabilidade do empreendimento, compatibilidade da informação e documentação técnica e exeqüibilidade do produto. A ES contribui para aumentar os níveis de construtibilidade. Na construção civil, o grande impacto deste método tem sido concentrado sobre a interface projeto-construção, com o objetivo de criar projetos de construção facilitada, ou seja, projetos de maior construtibilidade. A construtibilidade neste sentido, associa-se ao fator exeqüibilidade. Esta pode ser avaliada no nível da documentação elaborada e das soluções projetuais adotadas.