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CAPÍTULO 4. COORDENAÇÃO DE PROJETO

4.1 CARÁTER MULTIDISCIPLINAR DA COORDENAÇÃO

4.1.1 Coordenação implícita e explicita

Uma preocupação com coordenação do processo a partir do ante-projeto, projeto básico, projeto aprovado, além de atribuições de coordenação, nos leva a destacar o que tem sido chamado de coordenação implícita e explícita. A coordenação pode ser identificada numa

escala entre implícita e explícita. Diversos pesquisadores (HALIN, DAMIEN e BIGNON, 2004; HANSER et al, 2001; GODART et al, 2001; ESPINOSA, LERCH e KRAUT, 2002) mencionam este diferencial qualitativo da coordenação, principalmente em trabalhos associados ao estudo de equipes virtuais e ferramentas de auxílio ao trabalho cooperativo, pelo esforço dedicado a identificação e caracterização das formas de interação, já que estas ferramentas objetivam mediar a estrutura e atividades de uma equipe de projeto. Nesse sentido, pesquisas que buscam modelos de trabalho cooperativo têm feito muitas contribuições à questão da coordenação, principalmente quando estudam processos de comunicação suportados por sistemas como internet, em processo de co-projeto e co- engenharia.

As coordenações implícita e explícita são consideradas duas abordagens da questão. A abordagem explícita encontra-se associada à modelagem de processos explícitos e supervisão. A abordagem implícita associa-se a auto-coordenação enquanto a capacidade de organização, de alinhamento de ações entre indivíduos, fundamentada em algum tipo de qualidade ou estado de grupo. Importantes pesquisas e discussões são desenvolvidas por HEATH e STAUDENMAYER (2000) sobre a capacidade de auto-coordenação entre agentes de um processo, a partir do qual elaboram o conceito e os fundamentos do que chamam “coordenação negligente”. Este aspecto é muito importante principalmente em estágios iniciais do processo de projeto, quando o aspecto implícito da coordenação predomina (HALIN, DAMIEN e BIGNON, 2004). O quadro 4.1 caracteriza, comparativamente, as abordagens implícita/explícita de coordenação segundo GODART et al (2001).

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Quadro 4.1 – Quadro comparativo entre coordenação implícita e explícita

Fonte: GODART et al (2001)

A conclusão elaborada a partir da comparação, é que uma coordenação eficiente contempla componentes das duas abordagens. Uma coordenação eficiente é uma composição engenhosa de coordenação explícita e implícita. Enquanto ações de notificação completam o gap entre fragmentos do processo, fatores de coordenação implícita podem ser um mecanismo para integrar os fragmentos. A coordenação implícita deve repousar sobre estado de processo.

A mudança de perfil de um caráter mais implícito para explícito acompanha o processo de desenvolvimento das fases de projeto, da concepção à implementação, com níveis de externalidades crescentes à medida que o projeto se desenvolve. O elevado grau de incerteza das atividades iniciais do desenvolvimento dos projetos é acompanhado por uma auto-coordenação da equipe, onde questões e profissionais com abordagem generalista predominam. Posteriormente, a redução do grau de incerteza é acompanhada por uma crescente coordenação de perfil explícito, onde questões e profissionais com abordagem

especialista predominam. Essa idéia pode ser representada, esquematicamente a seguir, em sua relação com o desenvolvimento do projeto, na figura 4.4.

LEGENDA

CUSTO DE PRODUÇÃO TRADICIONAL

CUSTO RESULTANTE DO INVESTIMENTO EM PROJETO

CAPACIDADE DE INFLUENCIAR O CUSTOTOTAL DO EMPREENDIEMNTO

C

U

S

T

O

PRÉ-CONSTRUÇÃO CONSTRUÇÃO FINALIZAÇÃO

DESENVOLVIMENTO

IMPLEMENTAÇÃO

TEMPO

PERFIL DE COORDENAÇÃO IMPLÍCITO (AUTO-COORDENAÇÃO) PERFIL DE COORDENAÇÃO EXPLÍCITO (DIREÇÃO) 0%

100%

CONCEPÇÃO

A B

Figura 4.4 – Influência do perfil da coordenação sobre o ciclo de vida do empreendimento

Fonte: Adaptado de GODART et al (2001)

A coordenação explícita torna-se determinante a partir da necessidade de organização na busca de informação e desenvolvimento de problemas formulados. A coordenação explícita é composta de pré-definição de interações entre agentes, tarefas planejadas, reuniões periódicas formalizadas e prazos de entrega. O grande impacto das decisões em etapas iniciais do empreendimento indicam o grau de impacto da coordenação implícita sobre o custo, a qualidade e o prazo do empreendimento. Porém, segundo GODART et al (2001), a coordenação em etapas precoces do empreendimento ainda é um objeto de estudo, sendo a coordenação explícita, objeto de maiores discussões. A coordenação implícita (ou auto- coordenação) é caracterizada por uma aparente não planejada interação entre agentes, discussões e trocas de informação, reuniões informais. HALIN et al. (2004) mostram que a coordenação nas etapas iniciais do projeto se manifesta principalmente de maneira implícita, devido a dificuldade de planejar o processo de concepção com precisão. Algumas atividades são de natureza explícita tais como a definição de fases e as reuniões periódicas, mas a maior parte das ações de coordenação não é planejada.

A partir dessa abordagem a atividade de coordenação implícita vai se “atenuando” à medida que as definições de projeto vão sendo desenvolvidas, ou seja, as etapas da atividade projetual vão sendo progressivamente vencidas até chegar a etapa de implementação (obra). Dessa perspectiva, a atividade de coordenação está vinculada a duas definições. Por um lado, a noção de projeto enquanto design, ou seja, a fase prévia e abstrata de definição do produto, que gera resultados traduzidos em documentos. Por outro lado, a noção da própria coordenação enquanto atividade de integração e compatibilização de resultados. Se considerarmos o projeto enquanto um empreendimento e a coordenação enquanto o mecanismo de gerenciamento de dependências pode ser observado que a coordenação é desenvolvida durante todo o empreendimento, com alteração de perfil predominante de implícito para explícito. O mecanismo de coordenação se encontra, inclusive, envolvido em atividades de desmonte ao final do empreendimento. Nesse momento, a coordenação implícita pode ser realizada pelo uso de requisitos. Um requisito é definido como um intercâmbio que expressa uma necessidade específica (validação de documento, organização de reuniões). Estes intercâmbios podem ser associados a documentos. Um requisito pode ser tipicamente implícito, porém, este requisito pode dar início a procedimentos explícitos (externalidades). Por exemplo, um requisito de validação consulta um receptor para dar uma opinião num curto intervalo de tempo. A revisão de tarefa é transferida para o receptor com um prazo de entrega claramente definido. Os pesquisadores definem a demanda de coordenação como um exemplo de cooperação em contexto de projeto (flexível e centrada no agente).