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3. RESULTADOS: PROFESSORES E A EDUCAÇÃO INFANTIL

3.1 SIGNIFICAÇÕES

3.1.4 Concepções de professores acerca de sua função

Uma análise das respostas indicou que os entrevistados têm uma idéia bem consolidada sobre suas funções enquanto profissionais da educação infantil. Entre outras coisas, os docentes explanaram que o professor deste segmento desempenha inúmeros papéis em sala da aula. Além disso, foi enfatizado que o nível de conhecimento para atuar nesta área deve ser ainda maior do que o das demais etapas da educação, já que é nesta fase que o desenvolvimento físico, emocional, social e cognitivo da criança deve ser trabalhado.

... eu acho que quanto menor a criança, mais conhecimento você tem que ter, né? (...) é com a criança menor que você tem que ter todo um conhecimento por trás você tem que ter embasamento pra trabalhar com ela. Não é só pegar uma atividadezinha alí e mandar colorir e pronto né? Então, você tem que saber, tem que conhecer a parte emocional da criança, o desenvolvimento dela né, de todas as formas, todos os aspectos, intelectual, emocional, afetivo. (Regina, EPU)

Para os participantes, servir como exemplo de conduta é uma das principais funções do professor de educação infantil. Neste sentido, ademais do conhecimento que deve embasar a prática desses profissionais, suas ações diárias são consideradas como relevantes, pois a criança nesta fase observa e se pauta muito pelo modelo adulto, neste caso o professor.

... você é um espelho pra eles. O professor de educação infantil é o espelho da sala, né? (Luíza, EPA)

E não tem coisa melhor, o modelo ser a professora... (...) eles sempre tão copiando né, eles tão sempre copiando como a gente se comporta... (Carina, EPA)

... mais do que conhecimento eu procuro essa coisa do exemplo né? De me tornar uma pessoa boa... (...) então, eu acho que muito mais do que isso é esse exemplo. Essa formação de ser uma pessoa boa que respeite as outras, que respeite o mundo, que pense em seu próximo. (Bernardo, EPA)

De um modo geral, as falas dos entrevistados sugerem que eles têm consciência da importância de mostrarem bons exemplos para as crianças e, sobretudo do significado que tem seu papel de educador neste início da vida escolar.

... é muito importante o meu papel ali dentro da sala é fundamental. Não é querendo me gabar, mas é fundamental ali. (...) eu sei que é um trabalho sério, ta? O que eu sou capaz de fazer na vida duma criança, o quê que eu to contribuindo na vida dessas crianças que eu to trabalhando hoje... (Carina, EPA)

... eu me cuido como professor pra minha formação e de mudar nos pequenos detalhes pras coisas que eu faço. Não só as coisas que eu falo são importantes também, mas pra mim o mais importante é as coisas que eu faço. Como eu trato os outros que estão a minha volta? Como eu trato as crianças? Como que eles me vêem, né? Como que eles me vêem tratando as outras pessoas... (Bernardo, EPA)

As falas relativas ao que os docentes pensam sobre suas funções também assinalam que é preciso um olhar ‘mais científico’ para esta profissão. Isto supõe uma maior profissionalização que, segundo os participantes pode ser alcançada se a educação infantil for considerada uma área de conhecimento. Os professores reivindicam uma perspectiva mais acadêmica para esta etapa da educação onde, os profissionais devem estar voltados constantemente para o estudo e pesquisa como em qualquer outro campo do conhecimento.

... acho que falta as pessoas ver o profissional da sala de aula como profissional. Profissional, como é que eu posso falar uma coisa, não é só científica, mas uma coisa que houve estudo ali. (...) pra mim acho que ser professor é uma coisa que você tem que estudar como médico que tem que tá se atualizando... (Laura, EPU)

Quanto ao desempenho profissional, o discurso dos entrevistados deixa transparecer confiança com relação ao cumprimento de suas funções, o que significa dizer que os professores acreditam serem bons no que fazem. Chamou-nos atenção o fato de que alguns docentes se consideram melhores profissionais do que mães, por exemplo. Para os participantes, é justamente no exercício de sua profissão que eles se reconhecem como competentes.

... a qualidade de trabalho que eu tenho com as crianças aqui hoje assim é muito pra mim é muito boa... (...) eu acho que eu sou melhor, eu sou, eu acho que eu sou boa mãe, mas eu acho que eu sou melhor professora do que mãe entendeu? (Lúcia, EPU) ... eu acho que eternamente eu serei uma educadora, né? Porque eu acho que é o que eu sei fazer bem. Cozinhar eu não sei cozinhar bem, como eu sou boa professora. Eu acho que eu sou boa professora... (Carolina, EPA)

... trabalhar na educação infantil é uma coisa que eu amo, que eu acho que faço bem, que eu levo, acho que eu levo jeito... (Bernardo, EPA)

Ainda, com referência ao desempenho profissional, alguns entrevistados lembram com pesar das primeiras experiências como professores de educação infantil. Por se julgarem melhores professores hoje do que quando começaram é que eles lastimam não terem realizado um trabalho de boa qualidade no início de suas atividades neste segmento.

... hoje assim eu me considero uma professora completa, entendeu? Eu não tenho receio, eu acredito no trabalho que eu realizo. Eu sei que é um trabalho sério o que eu sou capaz de fazer na vida duma criança, o quê que eu to contribuindo na vida dessas crianças que eu to trabalhando hoje e que eu deixei de contribuir quando eu comecei. (Carina, EPA)

... por isso que eu falo da minha mágoa assim da minha angústia quando eu comecei na educação infantil. (...) eu fui para a Santa Maria e eu pegava assim turmas com trinta e cinco quarenta crianças. Então, às vezes é impossível você fazer um trabalho bom né? Eu deixei muito a desejar... (Lúcia, EPU)

Outro fator interessante que emerge das falas é como os docentes percebem e avaliam a prática de seus colegas. Em geral, os entrevistados apontam que há professores cujo desempenho deixa a desejar, especialmente por não se encaixarem no que eles acreditam ser o perfil adequado para a educação infantil. Além disso, os participantes citam o não gostar de criança, a falta de conhecimento, de experiência e de comprometimento como alguns dos outros motivos que justificam o baixo desempenho. O que se observa nos discursos é que eles criticam e desaprovam este tipo de conduta.

... eu acho primeiro que tem muito professor ruim... (Laura, EPU)

... hoje tipo tem professores aqui que nunca tinham dado aula pra criança igual a Rosa nunca tinha dado, tá tendo uma dificuldade imensa. Não gosta assim de criança pequena, tá aqui porque tem que trabalhar né? Tá se esforçando mas tem dificuldade e isso eu acho que é um absurdo... (Ligia, EPU)

... têm professores que sinceramente pelos anos que eu tenho que não são poucos, são significativos, pelas escolas que eu já andei, eu acho que tem muita gente trabalhando só pela estabilidade por salários entendeu? E também o próprio sistema educacional assim, às vezes essa pessoa não tem o perfil... eu já vi professores que eles mesmos sabem disso falam na hora das escolhas de turmas, falam olha eu não consigo eu não sei trabalhar com criança menor eu não quero eu não vou dar conta e é obrigado porque senão ela fica sem trabalhar, entendeu? É um crime. (Lúcia, EPU) ... vejo muito profissional alí dentro que trabalha e tudo e não gosta do que faz e faz as coisas de qualquer jeito eu acho que não tem coisa pior. (Isabel, EPU)