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5.1 O lócus dos participantes enquanto avaliadores

5.1.3 Concepções sobre avaliar

Sabemos que avaliar é inerente à docência, contudo acreditamos a percepção que temos dessa atividade influencia no modo que a conduzimos e na relevância que lhe damos no nosso contexto de atuação. Assim sendo, tratamos de depreender através do discurso dos participantes a visão que possuem sobre o ato de avaliar. Observamos que essa atividade é interpretada de diferentes maneiras, ora como uma imposição institucional, ora como uma necessidade pedagógica. Analisemos o discurso de P3 e P8:

Pesquisadora: então você começou a avaliar língua quando você começou a dar aula de línguas?

P3: isso… até por uma necessidade ou uma imposição da própria instituição à qual você trabalha…

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Pesquisadora: eu queria que você comentasse sua trajetória como avaliadora... quando você começou a elaborar suas avaliações?

P8: há dois anos atrás ... quando eu entrei na particular... eu tive contato com o ensino fundamental e o médio... e ai a escola exigia algum tipo de avaliação... não necessariamente... somente a escrita... e ai foi ai que eu comecei.

Como é possível observar, P3 e P8 interpretam o ato de avaliar como uma obrigação. Seu discurso deixa transparecer através de “imposição da própria instituição” e “a escola exigia algum tipo de avaliação” uma concepção de avaliação como elemento desintegrado do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que é uma imposição da instituição em lugar de uma necessidade pedagógica. As falas de P3 e P8 corroboram o exposto por Luckesi (2011) sobre a pedagogia do exame que vive a educação brasileira. Para o autor, se valoriza excessivamente o exame e se relega a segundo plano o verdadeiro propósito da avaliação: diagnosticar para orientar a tomada de decisões. Ao entender a avaliação como uma obrigação, escola, professores e alunos podem subverter o processo avaliativo e, consequentemente, comprometer sua finalidade.

P2, P5 e P6, no entanto, interpretam a avaliação como parte integrante do processo de ensino-aprendizagem, como forma de mensurar o conhecimento adquirido, como podemos verificar nos trechos a seguir:

P2: então eu faço os exercícios da PROva muito parecidos aos que a gente faz em aula... pra que seja de fato só uma maneira de medir... éh::: já que em aula eu não consigo olhar cada caderno.. ou cada:... falar com cada aluno... então é mais uma forma de saber se eles de FATO estão alcançando os objetivos que eu tracei ... ---

P5: bom na verdade eu acho assim que desde que você começa a ensinar éh:: você acaba avaliando de alguma maneira porque eu acho que ensinar e avaliar eles andam um pouco… um pouco:: juntos ali… porque não tem como… é uma maneira de você medir né o que você está ensinando

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P6: ... porque a avaliação... seria o momento apenas... de você REconduZIR o seu planejamento... mas... INfelizmente a escola... precisa de uma nota... se o aluno for entrar com recurso a única coisa que vale é o papel...

Se por um lado a avaliação é entendida como uma exigência do contexto escolar, por outro também é interpretada como elemento integrante do fazer pedagógico, uma vez que ensinar e avaliar “andam juntos”, nas palavras de P5.

Sabendo que a avaliação pode exercer inúmeros papeis (ÁLVAREZ MÉNDEZ, 2002), acreditamos que diagnosticar o estágio da aprendizagem é (ou deveria ser) o principal. Portanto, não pode ser concebida fora de um planejamento de ensino. Essa visão é compartilhada por P2, ao afirmar que o papel da avaliação é verificar se os objetivos de ensino estão sendo alcançados, ou seja, é um meio que escola e professor dispõem para verificar o logro dos objetivos traçados (SCARAMUCCI, 1997).

O discurso de P6 também aponta a concepção de avaliação como ferramenta que deve fornecer informações para reconduzir o planejamento escolar. Entendemos que se o planejamento é o documento onde estão explicitados os objetivos a serem atingidos, a avaliação é o momento de coletar evidências sobre o (in)sucesso das metas pré-estabelecidas. Assim sendo, se a avaliação não é usada para reorientar o planejamento seu uso será distorcido e equivocado.

Pode-se observar que não é consensual entre os participantes a visão de avaliação como elemento integrante do processo de ensino-aprendizagem, concepção da qual compartilhamos. Contudo, também sabemos que nem sempre a visão do docente é a que prevalece nas atividades escolares. P6, por exemplo, afirma que entende qual seria o papel da avaliação, porém indica que o sistema educacional conduz à produção de notas. Retomando Vasconcellos (2003), as mudanças no campo avaliativo passam pela tensão entre as condições objetivas e a condições subjetivas, entendemos que essa tensão é explicitada por P6, uma vez que embora conceba a avaliação com um propósito formativo entende que sistema de ensino leva a práticas classificatórias.

A nosso ver, a concepção dada à avaliação, seja pelos professores, instituição ou sistema educacional é fundamental para que seu uso fomente (ou não) a aprendizagem. Entre os participantes, predomina a visa de avaliação como elemento pertencente ao processo de ensinar e aprender, entretanto todos forneceram para o corpus desta pesquisa avaliações somativas.

Embora fuja do escopo desta pesquisa, somente a partir da observação dos contextos de atuação poderíamos chegar a conclusões mais precisas sobre o papel (ou papéis) dado à avaliação nessas instituições de ensino e assim deduzir até que ponto prevalecem as visões do professor e/ou as da instituição.

Neste tópico buscamos entender o lugar que ocupam os participantes enquanto avaliadores, assim verificamos que sua competência para avaliar vem de suas experiências como professores ou ainda como alunos, uma vez que a maioria teve pouca ou nenhuma formação em avaliação. Verificamos também que as instituições de ensino impõem demandas que influenciam na prática avaliativa, reduzindo o poder de agência desses docentes. Por fim, averiguamos que o ato de avaliar é interpretado de maneira contraditória no corpus de análise, ora como uma imposição, ora como parte do processo avaliativo. Uma vez explicitado o posicionamento enquanto avaliadores dos participantes, passamos para análise e discussão da prática avaliativa.