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4.3 Instrumentos de coleta de dados

4.3.2 Entrevista

Outro instrumento escolhido para a coleta de dados foi a entrevista. Rosa e Arnoldi (2014, p. 16-17) destacam que a entrevista é um instrumento imprescindível quando se busca contextualizar o comportamento dos sujeitos, relacionando-o com os sentimentos, crenças e

valores. É, sobretudo, uma conversa dirigida para um objetivo pré-definido. Desta maneira, acreditamos que a entrevista é um instrumento pertinente para os objetivos desta pesquisa.

De acordo com Lüdke e André (2014, p. 39), a entrevista é frequentemente usada nas pesquisas das ciências sociais e, devido a seu caráter interativo, apresenta vantagens se comparada a outros instrumentos. Para as autoras, diferentemente do que ocorre com outros instrumentos de coleta de dados, a entrevista não estabelece uma hierarquia entre o pesquisador e o pesquisado, pelo contrário, propicia uma “atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde” , permitindo que o entrevistado se pronuncie sobre o tema proposto com base nas informações que detém.

Ainda segundo as autoras, a principal vantagem da entrevista em relação aos demais instrumentos é que ela permite o acesso mais fácil e direto à informação desejada, uma vez que permite fazer esclarecimentos e correções. Assim, através da entrevista é possível aprofundar temas levantados por outras técnicas. Em outras palavras,

podemos certificar que a opção pela técnica de coleta de dados através da entrevista deve ser feita quando o pesquisador/entrevistador precisar valer-se de respostas mais profundas para que os resultados da sua pesquisa sejam realmente atingidos e de forma fidedigna. E só os sujeitos selecionados e conhecedores do tema em questão serão capazes de emitir opiniões concretas a respeito do assunto. (ROSA; ARNOLDI, 2014, p. 16)

Segundo Cunha (2007), a entrevista pode ser classificada em estruturada, semiestruturada e informal.

Entende-se por pesquisa estruturada ou padronizada quando as perguntas são pré- estabelecidas. Para esse tipo de entrevista é necessário que o pesquisador elabore um roteiro que avalie igualmente os sujeitos participantes. Desta maneira, as questões seguem uma sequência padronizada e uma linguagem sistematizada, ou seja, as perguntas são repetidas com as mesmas palavras seguindo uma mesma ordem. Rosa e Arnoldi (2014, p. 30) afirmam que os dados obtidos nesse tipo de entrevista são frequentemente submetidos a uma análise quantitativa.

Consideram-se entrevistas informais, ou assistemáticas, aquelas que não têm uma estruturação, nem uma relação de perguntas abertas para serem feitas a todos participantes (ROSA; ARNOLDI, 2014). “Muitas vezes ocorrem casualmente, sem marcação prévia de hora ou lugar” (CUNHA, 2007, p. 73) e se desenvolvem através de relatos orais que coletam informações em que o interlocutor desenvolve suas ideias quase sem interferência do entrevistador. (ROSA; ARNOLDI, 2014).

Já as entrevistas semiestruturadas são aquelas que partem de um roteiro inicial, porém passível de alterações, dependendo do que ocorre na interação. Rosa e Arnoldi (2014, p. 30) ao discorrerem sobre as entrevistas semiestruturadas afirmam que

as questões, nesse caso, deverão ser formuladas de forma a permitir que o sujeito discorra e verbalize seus pensamentos, tendências e reflexões sobre os temas apresentados. O questionamento é mais profundo e, também, mais subjetivo, levando ambos a um relacionamento recíproco, muitas vezes, de confiabilidade. Frequentemente, elas dizem respeito a uma avaliação de crenças, sentimentos, valores, atitudes, razões e motivos acompanhados de fatos e comportamentos. Exigem que se componha um roteiro de tópicos selecionados. As questões seguem uma formulação flexível, e a sequência e as minúcias ficam por conta do discurso dos sujeitos e da dinâmica que acontece naturalmente.

Para Lüdke e André (2014), as entrevistas menos estruturadas parecem ser mais adequadas para as pesquisas em educação, pois quando se deseja conhecer a visão ou a opinião de um sujeito é melhor utilizar instrumentos maior flexibilidade. A entrevista semiestruturada foi escolhida para esta pesquisa por parecer atender satisfatoriamente os objetivos aqui propostos.

4.3.2.1 Procedimentos de aplicação da entrevista

Para a aplicação da entrevista foi elaborado um roteiro com 10 questões (APÊNDICE C). Quando houve necessidade de esclarecimento as perguntas foram passíveis de modificação e novos questionamentos foram realizados.

As entrevistas ocorreram entre dezembro de 2018 e março de 2019. Como sucederam imediatamente após a aplicação do questionário, não houve a necessidade de retomar o objetivo da pesquisa. Ainda assim, os participantes foram informados que a partir daquele momento seriam gravados.

Para registrar os dados foram utilizadas a gravação direta e anotações de campo da pesquisadora. Segundo Lüdke e André (2014), a gravação direta permite o registro de todas as expressões orais, deixando o entrevistador livre para prestar a atenção no entrevistado, contudo ela deixa de lado as expressões faciais, mudanças de postura e gestos. Desta maneira, também foi empregado o diário de campo, a fim de complementar as informações registradas pelo áudio. Durante a realização da entrevista só foi utilizada a gravação direta, pois assim a atenção do entrevistado e da pesquisadora não seria desviada. Após a entrevista, procuramos anotar no diário de campo informações que julgamos importantes e que não poderiam ser captadas pela gravação.

O quadro a seguir, sintetiza as informações sobre a realização das entrevistas:

Quadro 4 - Dados das entrevistas

Participante Data Local Cidade Duração29

P1 14/12/2018 Shopping Iguatemi Campinas 13’18’’

P2 18/01/2019 Casa do participante São Paulo 19’56’’

P3 18/01/2019 Sesc Pinheiros São Paulo 14’59’’

P4 18/01/2019 Shopping Center 3 São Paulo 38’25’’

P5 19/01/2019 Casa de um familiar do

participante Santa Bárbara D’ Oeste 20’54’’

P6 27/02/2019 Escola Santa Bárbara D’ Oeste 35’15”

P7 06/03/2019 Bob´s Glicério Campinas 15’11’’

P8 13/03/2019 Padaria La Bambina Americana 16’47

P9 13/03/2019 Escola Campinas 13’42’’

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Como é possível observar, a maior parte das entrevistas teve duração entre treze e vinte minutos, com exceção das entrevistas de P4 e P6, cuja gravação ultrapassou trinta minutos. Tal diferença decorre do entusiasmo dos participantes ao falar sobre o tema. No entanto, cabe ressaltar que em todas as entrevistas as perguntas do roteiro (APÊNDICE C) foram respondidas e outras foram elaboradas quando necessário, não havendo assim perda qualitativa do conteúdo dos dados obtidos.

Após finalizadas as entrevistas, foram feitas suas transcrições. Para transcrevê-las utilizamos as normas descritas por Dino Pretti (1999) referentes ao Projeto NURC (ANEXO A). Entretanto, dado que nosso foco não era análise da oralidade, nas transcrições optamos por não sinalizar a simultaneidade de vozes nem os marcadores conversacionais do ouvinte que apenas expressavam concordância, tais como aham, certo, etc.