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5.2 A operacionalização da prática avaliativa

5.2.1 Perspectivas sobre a forma

5.2.1.2 Escolha dos textos para avaliar ELE

Através do questionário foi perguntado qual a motivação dos participantes para escolher um texto para a avaliar leitura. Cinco participantes afirmaram partir da temática trazida pelo texto. Os demais participantes declararam considerar primeiramente o vocabulário, tipo de texto, gênero textual ou a autenticidade.

O ensino de LE a partir de eixos temáticos é sugerido nos documentos oficiais (PCNs, OCEM) como forma de promover um ensino contextualizado. Concordamos que o ensino de LE dentro de um contexto pode tornar a aprendizagem mais significativa, pois não restringe a língua a um código. Assim, nos parece coerente partir da temática estudada para a elaboração da avaliação da aprendizagem, mantendo uma coerência com o trabalho realizado em sala de aula. Chama-nos a atenção, entretanto, que a justificativa dada pela priorização da temática também remete à familiaridade com o vocabulário ou com a gramática trazida pelo texto, como pode ser observado no questionário respondido respectivamente por P2 e P3:

Figura 1- Escolha do texto P2

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Fonte: Dados da pesquisa (2019).

34 Procuro textos com a temática da sequência didática estudada para que os alunos tenham familiaridade com o assunto e com o vocabulário.

Figura 2- Escolha do texto P3

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Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Como é possível notar, a escolha de um texto para avaliar leitura a partir da temática também está atrelada a conteúdos estáveis do idioma, podendo sinalizar que a visão de língua como código ainda está muito presente entre os participantes. Não queremos minimizar sobremaneira a importância do conhecimento de conteúdos lexicais ou gramaticais para ler em LE, contudo entendemos que o trabalho a partir do tema pode alcançar outras dimensões, que extrapolam os conteúdos linguísticos.

Um participante (P4) apresenta uma visão mais ampla sobre o que entende por tema, como podemos verificar a seguir:

P4: então o que é você avaliar um aluno… num curso baseado em gramática e vocabulário… né? éh:: não é você avaliar leitura… pelo menos pra mim não é… então muitas vezes éh:: quando você conseguia fazer alguma coisa era através dos temas… os temas acabavam sendo uma espécie de subterfúgio pra você fazer o aluno… aprender um pouquinho melhor o idioma e você poder avaliá-lo não só tocante à leitura mas também a outras éh:: competências né? então/

Pesquisadora: quando você fala de temas está se referindo ao quê?

P4: podem ser os temas da das/ das unidades ou os temas que eles estão vendo em outras matérias… do currículo né?… então a gente acaba tendo que pensar na língua espanhola inserida... no currículo escolar né?… então se você está trabalhando de forma interdisciplinar qual é o conteúdo… às vezes nós trabalhávamos até conteúdos de hisTÓria como: motivo para produção na língua espanhola então depende… depende muito do que você está fazendo num determinado momento né?

O discurso de P4 nos remete ao PCN-EM, documento em que se explicita que a organização do trabalho docente a partir de eixos temáticos facilita a interdisciplinaridade, concebida como uma relação entre os diferentes campos dos conhecimentos. Entendendo que o papel da LE no ensino regular deve promover a aproximação com diferentes formas de construir sentidos (JORDÃO, 2006), concordamos com o participante que o trabalho a partir da temática é uma maneira fecunda de não se limitar aos conteúdos linguísticos. A interdisciplinaridade, por sua vez, permite a maior articulação entre as disciplinas escolares, minimizando a fragmentação do conhecimento.

Os participantes que responderam considerar primeiramente o vocabulário, tipo de texto, gênero textual também justificam suas respostas pela coerência com o trabalho realizado em sala de aula. Uma participante (P9), entretanto, afirmou priorizar a autenticidade dada a credibilidade trazida pelo texto:

Figura 3 - Escolha do texto P9

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Fonte: dados da pesquisa (2019).

O uso de textos autênticos no ensino de LE ganhou maior destaque a partir do ensino comunicativo, que o interpretava como o “insumo mais eficiente para preparar o aprendiz para lidar com situações reais de comunicação (MATTOS, 2010, p. 144)37. A participante em questão

tem ampla experiência em cursos livres de idiomas, nos quais geralmente prevalece essa metodologia de ensino. Poderíamos inferir assim, que a preferência por textos autênticos decorre de sua experiência docente, contudo, sua reposta aponta para a credibilidade do curso. Entendemos que ao falar em credibilidade, P9 demonstra que o uso de textos autênticos traz maior aceitação de sua avaliação e de suas aulas. Acreditamos que a boa ou má receptividade do exame pela comunidade escolar (alunos, pais, coordenadores) é de suma importância, pois influencia na motivação dos estudantes para estudar e na aceitação dos resultados. Desta maneira, entendemos que a validade de face38 também influencia a forma da

avaliação, como ocorre no contexto de P9. Embora não tenha sido sua primeira prioridade, a autenticidade também é mencionada por outros três participantes (P1, P2 e P4) o que reforça que esse aspecto é considerado dentro do corpus.

36 Porque acredito que dá mais credibilidade ao texto e ao curso.

37 Não se pode inferir, entretanto, que o uso de material autêntico é exclusividade do método comunicativo. Mattos (2010) demonstra que para o letramento crítico a autenticidade é condição sine qua non, uma vez que adequações desfigurariam a ideologia presente no texto.

38 Tradicionalmente na literatura de avaliação em contexto de línguas, o termo validade de face refere-se ao tipo de validade aparente, atribuída por um leigo. Relaciona-se diretamente com a aceitação do exame. Para ampliação do tema ver ARAÚJO, K.S. A perspectiva do examinador sobre a autenticidade de avaliação em leitura em língua estrangeira. Dissertação de mestrado. Programa de pós-graduação em Linguística Aplicada, IEL, Unicamp. 2007.