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Conclusão da conferência procedimental

No documento O Novo Cdigo do Procedimento Administrativo (páginas 144-147)

BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA

II. O regime jurídico da conferência procedimental

II.6. Conclusão da conferência procedimental

14. O artigo 81.º do novo CPA regula a conclusão da conferência procedimental. Importa,

antes de mais, alertar para a circunstância de, nos termos do n.º 1 desse preceito legal, o prazo legalmente previsto para a realização da conferência procedimental ser de 60 dias (úteis), prorrogável por mais 30 dias (também úteis). Acresce que, por força da mesma disposição legal, no seu decurso, suspendem-se os prazos para a conclusão dos procedimentos nos quais deveriam ser praticados os vários actos envolvidos.

Impõem-se, a este propósito, três notas.

Primo, o prazo em apreço revela-se, porventura, muito longo, sobretudo se se tiver em

atenção que o prazo regra para a decisão do procedimento, previsto no artigo 128.º, n.º 1, do novo CPA, é de 90 dias.

Secundo, na medida em que, no decurso do aludido prazo, se suspendem “os prazos para a conclusão dos procedimentos nos quais deveriam ser praticados os vários actos envolvidos”,

podemos concluir, com segurança, que a eficiência, a economicidade e a celeridade da

55 Diferentemente, a realização de audiência dos interessados não suspende o prazo para a conclusão da

conferência procedimental, dada a falta de disposição legal que preceitue nesse sentido. Sufragando tal

entendimento, vide ALEXANDRE SOUSA PINHEIRO, TIAGO SERRÃO, MARCO CALDEIRA e JOSÉ DUARTE COIMBRA, Questões

Fundamentais para a Aplicação do CPA, Almedina, Coimbra, 2016, página 162.

actividade administrativa que o novo CPA pretende alcançar com a figura em apreço só consubstanciarão uma realidade nos casos em que a conferência procedimental chegue a bom

porto. Nas demais situações, a sua mobilização será, bem ao invés, uma causa de

retardamento da acção administrativa56.

Tertio, importa referir que o termo a quo do prazo para a realização da conferência

procedimental coincide com o dia em que ocorrer a primeira sessão da conferência. Não pode, a nosso ver, ser de outro modo. Na verdade, é nesse momento temporal que a conferência procedimental (propriamente dita) tem início. Até esse instante, são desenvolvidos trâmites administrativos preparatórios, mas não mais do que isso, atenta a falta de análise e discussão decisória que caracteriza o período anterior à primeira sessão da conferência procedimental.

No artigo 81.º, n.º 2, do novo CPA, o legislador estabeleceu, ainda, de que modo finda a conferência procedimental: (i) com a prática do acto ou dos actos que visa preparar; (ii) com a celebração de um contrato entre os órgãos participantes e o interessado, em substituição do acto ou dos actos cuja preparação se visava, desde que “não exista incompatibilidade entre a

forma contratual e a matéria a conformar” (cfr. o artigo 77.º, n.º 4, do novo CPA5758) e, ainda,

(iii) com o termo do prazo, “sem que o acto ou actos que visa preparar tenham sido

praticados”. Especificamente quanto a este derradeiro modo de finalização, o legislador

determinou que, em casos excepcionais, devidamente fundamentados, a conferência procedimental pode ser objecto de repetição, desde que acordem, nesse exacto sentido, todos os órgãos participantes (cfr. o artigo 81.º, n.º 7, do novo CPA, que salvaguarda o disposto na segunda parte do n.º 5 do mesmo preceito legal, que mencionaremos adiante).

No mais, o órgão que presidiu à conferência procedimental deve, no termo da mesma, assegurar a preparação de uma acta, na qual deve ficar expresso todo o iter administrativamente promovido, com expresso registo, “quando for o caso”, do(s) acto(s) decisório(s) praticado(s), bem como dos “restantes actos nela autonomamente praticados por

56 Partilhamos, assim, inteiramente, as preocupações expressas, no contexto do anteprojecto do novo CPA, por

ANDRÉ SALGADO DE MATOS, “Comentários ao projecto...”, p. 141, por JULIANA FERRAZ COUTINHO, “O que há de novo...”, p.

258 e, por fim, por MARIANA FARIA MAURÍCIO, “Algumas notas sobre...”, p. 1060. Também se revelam avisadas as

palavras de MÁRIO AROSO DE ALMEIDA que refere, com total propriedade, que a figura da conferência procedimental

revelar-se-á tanto mais proveitosa quanto maior for o intento dos órgãos participantes de lhe conferir utilidade, desde logo, do órgão promotor da conferência (cfr. Teoria Geral do..., p. 105).

57 Tal preceito encontra-se sistematicamente deslocado. Na nossa perspectiva, deveria constar do artigo 81.º, n.º 2,

do novo CPA, em concreto, no local da actual alínea b), devendo, esta última, na sua actual redacção, transitar para aquela que seria a nova alínea c).

58 MARIANA FARIA MAURÍCIO afirma que “[a] forma contratual será porventura mais utilizada quando os particulares

forem chamados à conferência com um intuito colaborativo” (cfr. “Algumas notas sobre...”, p. 1050).

cada órgão participante” (cfr. o artigo 81.º, n.º 3, do novo CPA59). Embora, em termos gerais,

tal exigência decorra do artigo 151.º, n.º 1, alínea d), do novo CPA, estabelece-se, ainda, no artigo 81.º, n.º 3, da mesma codificação, que a fundamentação do(s) acto(s) decisório(s) praticado(s) no contexto da conferência procedimental deve constar da referida acta.

Nos casos em que a conferência procedimental não culmine com a prática do acto(s) que se almeja(m), no fundo, nas situações em que inexiste acordo entre os órgãos participantes da conferência (deliberativa60), deve ser emitida uma declaração, que deverá integrar a referida

acta, na qual se individualizam os motivos da discórdia. Sendo possível, devem ainda ficar expressas, nessa mesma acta, as modificações necessárias “à viabilização do projecto,

actividade, regulação de um bem ou situação que constitua o objecto da conferência”, assim o

impondo o artigo 81.º, n.º 4, do novo CPA, cuja solução normativa já vinha sendo reclamada pela doutrina portuguesa61. Acresce que, conforme resulta do que se deixou dito supra, com o

insucesso da conferência procedimental, o(s) procedimento(s) conexo(s) retoma(m) o(s) seu(s) termo(s), bem como o(s) correspondente(s) prazo(s)62.

Por seu turno, o primeiro segmento do artigo 81.º, n.º 5, do novo CPA – ao determinar que, no contexto da conferência deliberativa, a pronúncia desfavorável de um dos órgãos participantes conduz ao indeferimento das pretensões em apreço na mesma63 – não é propriamente

surpreendente, atenta a estrutura jurídica da conferência deliberativa, oportunamente analisada. Todavia, o segundo segmento desse mesmo preceito já merece uma alusão particular, na medida em que, por via do mesmo, tal pronúncia desfavorável pode ser superada. É o que sucede se houver acordo, entre os órgãos participantes, na promoção das “alterações necessárias ao respectivo deferimento” e “na possibilidade da repetição da

conferência, caso essas alterações sejam concretizadas pelo interessado”64. É visível o bom

intento do legislador: não desperdiçar os resultados positivos (parcialmente) alcançados no decurso da primitiva conferência deliberativa e criar condições para que o quadro de indeferimento seja administrativamente superado.

59 Sobre a matéria em apreço, vide, no anteprojecto do novo CPA, ANTÓNIO FRANCISCO DE SOUSA, “Abertura e

transparência...”, p. 70.

60 Cfr. M

ÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Teoria Geral do..., pp. 103 e 104.

61 Cfr. MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Teoria Geral do..., p. 102, nota 140.

62 Cfr. M

ÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Teoria Geral do..., p. 103.

63 Criticando a mobilização, neste contexto, do termo indeferimento, vide SÉRVULO CORREIA, anotação ao artigo 81.º

do novo CPA, in AA.VV., Comentários à revisão…, p. 188 e ss.

64 Quanto à repetição da conferência, vale, também, o artigo 81.º, n.º 8 do novo CPA, onde se estabelece uma regra

de aproveitamento dos actos praticados no decurso da primitiva Conferência. Todavia, por razões facilmente compreensíveis, tal regra só vale para os actos “cuja actualidade se mantenha”. O novo CPA é, no entanto, totalmente omisso quanto ao prazo de realização da conferência a repetir.

Na mesma linha, deve ser referido, por fim, o artigo 81.º, n.º 6, do novo CPA, que habilita – em rigor, na terminologia aí adoptada, que não impossibilita – os órgãos participantes da conferência65 que não se opuseram à pretensão em apreço de praticarem, de modo individual,

o acto administrativo que lhes cabe. Têm, todavia, um prazo para o efeito: 8 dias a contar do termo da conferência (deliberativa). Findo esse prazo, e sem prejuízo do que se asseverou, ocorre uma estabilização do sucedido na conferência procedimental.

No documento O Novo Cdigo do Procedimento Administrativo (páginas 144-147)

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