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Enquadramento da figura: em especial, as modalidades de conferência procedimental 2 Imediatamente após esclarecer quais são os fins da figura 9 , o novo CPA, no primeiro

No documento O Novo Cdigo do Procedimento Administrativo (páginas 128-131)

BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA

II. O regime jurídico da conferência procedimental

II.1. Enquadramento da figura: em especial, as modalidades de conferência procedimental 2 Imediatamente após esclarecer quais são os fins da figura 9 , o novo CPA, no primeiro

segmento do seu artigo 77.º, n.º 2, estabelece que “[a]s conferências procedimentais podem

8 Observe-se, contudo, que, em virtude do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 4/2015, a convocação da conferência a que

se refere o artigo 22.º do Regime Jurídico do Sistema de Indústria Responsável não deixa de ser facultativa para passar a ser obrigatória. É assim porque do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 4/2015 não resulta tal obrigatoriedade, mantendo-se, por isso, intocada a discricionariedade que a entidade coordenadora dispõe de convocar (ou não) a conferência, de acordo com um juízo de conveniência. A assinalada disposição do diploma que aprovou o novo CPA foi, aliás, cuidadosa a esse nível, como o comprova, designadamente, o artigo 4.º, n.º 2 (“nos termos, prazos e condições previstos no artigo 22.º desse regime”). Sobre este derradeiro preceito, sublinhando a novidade e a não

obrigatoriedade do trâmite em apreço, vide MARIA MANUEL LEITÃO MARQUES, FERNANDA PAULA OLIVEIRA, ANA CLÁUDIA

GUEDES e MARIA MAIA RAFEIRO, Sistema da Indústria Responsável, Almedina, Coimbra, 2014, p. 112 e ss.

9 Cfr. o artigo 77.º, n.º 1 do novo CPA. A nosso ver, a epígrafe do artigo 77.º do novo CPA revela-se parcialmente

errada, dado que, nesse preceito, não se oferece, propriamente, um conceito de conferência procedimental. Diferentemente, o que se constata é a enunciação dos fins e das modalidades de conferência procedimental

adoptados pelo legislador. Para uma definição de conferência procedimental, vide MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Teoria

Geral do Direito Administrativo, 3.ª edição, Almedina, Coimbra, 2015, p. 93, LUIZ S.CABRAL DE MONCADA, Código do

Procedimento Administrativo Anotado, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp. 298 e 299 e SÉRVULO CORREIA, anotação

ao artigo 77.º do novo CPA, in AA.VV., Comentários à revisão do Código do Procedimento Administrativo, Almedina, 2016, p. 176.

dizer respeito a um único procedimento ou a vários procedimentos conexos”10. Quer isto dizer

que, na nova lei geral administrativa, a conferência procedimental tanto pode ter lugar (i) por ocasião de um procedimento (ii) como de vários procedimentos administrativos que se encontrem interligados.

No primeiro caso, a conferência procedimental visa produzir um claro efeito de retraimento procedimental. Concretizando, por reporte às diversas competências administrativas, cujo exercício, no contexto do mesmo procedimento complexo, deveria ocorrer de modo espaçado em termos procedimentais (e até em termos temporais), o que se constata é uma autêntica operação de concentração procedimental11. Por seu turno, no segundo caso, o que se

pretende é “a realização de uma fase comum aos vários procedimentos envolvidos”12. Essa

“fase comum” aos múltiplos procedimentos conexos que se encontrem em causa também ocorrerá, por via da figura em exame, em termos procedimentalmente concentrados.

No mais, o legislador preceitua, no artigo 77.º, n.º 3, do novo CPA, que as conferências procedimentais – independentemente de dizerem respeito a um único procedimento complexo ou a vários procedimentos conexos – podem assumir uma de duas modalidades, a saber: a conferência deliberativa e a conferência de coordenação.

Expressamente enunciada no artigo 77.º, n.º 3, alínea a), do novo CPA, a conferência deliberativa – também apelidada, pela doutrina italiana, de conferência decisória13 – tem por

fito o “exercício conjunto das competências decisórias”, mediante a prática de um só acto, “de

conteúdo complexo”, pelos diversos órgãos participantes. Na conferência deliberativa, verifica-

se uma integração – no fundo, uma união – do exercício das competências decisórias dos diversos órgãos participantes, sendo expressão de um fenómeno de centralização procedimental de natureza decisória. A par do objectivo ora assinalado, de centralização

10 A este propósito releva, igualmente, o artigo 77.º, n.º 3, do novo CPA, no qual se faz menção às “conferências

procedimentais relativas a vários procedimentos conexos ou a um único procedimento complexo”. Relativamente às conferências procedimentais atinentes a um único procedimento, atente-se, ainda, no disposto no artigo 77.º, n.º 5, do CPA.

11 Neste preciso sentido, vide MARTA PORTOCARRERO, Modelos de Simplificação Administrativa…, p. 69. Nas palavras da

Autora, “o exercício sequencial das competências administrativas” é substituído “por uma espécie de actividade «circular» e contemporânea”.

12 Cfr. M

ARTA PORTOCARRERO, Modelos de Simplificação Administrativa …, p. 69.

13 Sobre a figura da conferência procedimental e as respectivas modalidades no ordenamento jurídico italiano, vide

MARIANA FARIA MAURÍCIO, “Algumas notas sobre a conferência procedimental no projecto de novo Código de

Procedimento Administrativo”, in Estudos em Memória do Conselheiro Artur Maurício, Coimbra Editora, Coimbra, 2014, p. 1044 e ss.

decisória, constata-se, também, um clarividente efeito de substituição14: a multiplicidade de

decisões administrativas, que seriam tomadas isoladamente pelos diversos intervenientes, dá lugar à prática de um único acto, a saber, um acto complexo15. A conferência deliberativa ou

decisória distingue-se da chamada conferência instrutória – que não encontra respaldo no Código16 – pela qual se procede a uma simples audição e apreciação, sem conteúdo decisório,

dos diversos interesses abrangidos17.

Conforme se assinalou, consagra-se ainda, no artigo 77.º, n.º 3, alínea b,) do novo CPA, a conferência de coordenação, no âmbito da qual as competências dos diversos órgãos participantes são exercidas, de modo próprio ou individualizado, ainda que o façam em simultâneo, ou melhor, ainda que o façam por ocasião da conferência procedimental. O resultado é simples: a prática de diversas decisões num mesmo instante temporal, com expressão documental unitária, havendo quem, na doutrina, se refira, na senda do entendimento de ROGÉRIO SOARES, à adopção de “uma espécie de decisão contextual”18. O ponto central a reter a propósito da conferência de coordenação é, assim, o seguinte: os diversos actos praticados no seu contexto mantêm a sua singularidade, no fundo, “a sua

identidade e autonomia”19, sendo juridicamente imputáveis, para todos os efeitos legais, “a

cada um dos órgãos que os emite, que por eles é totalmente responsável”20.

No mais, importa referir que, quer a conferência deliberativa, quer a conferência de coordenação, têm um fito claro, que foi assinalado em sede introdutória: promover a

14 Fazendo expressa menção a este efeito e concluindo que a conferência deliberativa produz consequências

procedimentais e ainda organizatórias e materiais, vide FERNANDA PAULA OLIVEIRA e JOSÉ EDUARDO FIGUEIREDO DIAS, 4.ª

edição, Almedina, Coimbra, 2015, p. 225.

15 É o que resulta, também, do artigo 77.º, n.º 2 da mesma codificação, no segmento em que o legislador estabelece

que as conferências procedimentais se dirigem “à tomada de uma única decisão”. Seja como for, o artigo 77.º, n.º 3, alínea a), do novo CPA não deixa dúvidas a este propósito ao determinar que a prática “de um único acto de conteúdo complexo” “substitui a prática, por cada um deles [dos órgãos participantes], de actos administrativos autónomos”. Na doutrina, JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE refere-se à “decisão conjunta”, como o resultado da

conferência deliberativa (cfr. Lições de Direito Administrativo, 4.ª edição, Imprensa da Universidade de Coimbra,

Coimbra, 2015, p. 186) e MÁRIO AROSO DE ALMEIDA a “um acto pluriestruturado” (cfr. Teoria Geral do..., p. 96, nota

129).

16 No mesmo sentido, por referência ao anteprojecto do novo CPA, vide MARTA PORTOCARRERO, “Procedimento

administrativo – aspectos estruturais”, in Cadernos de Justiça Administrativa, n.º 100, Julho / Agosto de 2013, p. 82.

Na mesma linha, no contexto do novo CPA, vide MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Teoria Geral do..., pp. 92 e 93.

17 Nas esclarecedoras palavras de MARTA PORTOCARRERO, a conferência instrutória “possibilita um exame contextual e

presencial dos vários interesses envolvidos num ou em vários procedimentos conexos, mas em que o resultado da conferência não assume qualquer efeito vinculativo para a/as autoridade/s decisora/s” (cfr. “Procedimento administrativo – aspectos…”, p. 82). A Autora defende, desde há muito, que, apesar da falta de previsão da conferência instrutória, a sua realização pode ter lugar à luz de um princípio de adequação procedimental (cfr. MARTA PORTOCARRERO, “Procedimento administrativo – aspectos...”, p. 82). Em idêntico sentido, já por reporte ao

novo CPA, vide MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Teoria Geral do..., p. 93.

18 Cfr. M

ARTA PORTOCARRERO, “Procedimento administrativo – aspectos...”, p. 83.

19 Cfr. MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Teoria Geral do..., p. 98. 20 Cfr. M

ÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Teoria Geral do..., p. 98.

celeridade, a eficácia e a economicidade da actividade administrativa (cfr. o segundo segmento do artigo 77.º, n.º 1, do CPA). Em face do enunciado objectivo, a conferência procedimental deve ser perspectivada como um instrumento de promoção da boa administração21. É assim,

repete-se, quer no que diz respeito à conferência deliberativa, quer relativamente à conferência de coordenação, na medida em que, uma e outra, visam, indubitavelmente, a prática de decisões administrativas22, num contexto de (maior) simplificação e rapidez

procedimental e de combate frontal ao “absolutismo organizativo”23.

No documento O Novo Cdigo do Procedimento Administrativo (páginas 128-131)

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