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Em conclusão, poderá dizer-se que a incidência dos erros intralin guais poderá ser atenuada ou agravada,respectivamente, pela interfe-

rência positiva ou facilitadora (devida ã semelhança) e pela interfe-

rência negativa ou dificultadora (devido ao contraste) da língua ma-

terna dos aprendentes.

1.4.3 Interferência da LI

1.4.3.1 Interferência directa

Ao abordar a problemática das línguas em contacto, particularmente a propósito de falantes bilingues, Weinreich escreveu: "Os casos de desvios das normas de qualquer das duas línguas que ocorrem na fala dos bilingues como consequência da sua familiaridade com mais do que uma língua, isto ê, como resultado do contacto de línguas, serão referidos como fenómenos de INTERFERÊNCIA" (p. 1 ) . 0 termo ganhou grande popularidade muito especialmente porque chamou o no- me àquilo que a generalidade daqueles que se preocupavam com a pro blemática da didáctica das línguas estrangeiras há muito vinham sen tido e que Lado, num resumo feliz, descreve com as palavras seguin tes: "As pessoas tendem a transferir as formas e os significados, bem como a distribuição dessas formas e desses significados, da sua língua materna e da sua cultura para a língua e a cultura estran- geiras, tanto no aspecto de produção, quando tentam falar a língua, como no da recepção, quando tentam captar e compreender a língua e a cultura, tal qual são praticadas pelos naturais"(1957:2).

A tendência de que fala Lado tem sido largamente testemunhada pe- los investigadores de todo o mundo que reconhecem, unanimemente, a existência desse fenómeno, embora seja variável o grau de importân cia que lhe atribuem relativamente â produção de erros. A. Lamy a- firma que "não há dúvida de que a influência da língua materna ê grande durante a aprendizagem de uma segunda língua " (p.:2). Zy- datiss pronuncia-se em igual sentido ao declarar que "A grande maio ria dos erros ... estudados são atribuíveis, com bastante seguran- ça, à transferência da língua materna" (p.338). Stendahl, a propó- sito de um estudo sobre os erros cometidos em inglês por estudan- tes suecos, escreve: "Não foi tentada nenhuma explicação sistemáti ca dos erros, mas parece que a interferência do sueco foi um factor

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língua materna, Polizter e Ramirez declaram: "Parece ... seguro a- f irmar-se que a intervenção do espanhol ... desempenha um papel con siderãvel" (p. 59). Estes dois autores acrescentam que a interfe- rência da LI é a mais importante fonte de formas erradas numa gran de variedade de erros, entre os quais referem, a insegurança nas formas de sujeito dos pronomes, o uso redundante dos mesmos, o uso do artigo definido em vez dos determinantes possessivos, confusão no emprego das preposições, etc... Estas áreas correspondem, em lar ga medida, aquelas que o meu corpus demonstra serem, junto dos es- tudantes portugueses, passíveis de interferência. A primeira vista tal correspondência poderia atribuir-se as semelhanças que existem entre as duas línguas ibéricas. Todavia, analises de erros levadas a cabo em ambientes linguísticos muito diversos, como o Irão, por exemplo, confirmam não sô o elevado número de erros atribuíveis à intrusão da língua materna, mas também que esses erros ocorrem em aspectos comuns aos dos aprendentes portugueses (cf. Yarmohammadi). A lista daqueles que vêem na interferência da língua materna dosa- prendentes uma forte causa dos erros ocorridos na L2 poderia ser a- crescentada com muitos outros nomes, incluindo o do próprio Corder, que, concordando embora com as teorias expostas, da a impressão de querer moderar a importância da interferência, dizendo que muitos dos erros dos aprendentes estão relacionados com os sistemas da líji gua materna, mas "de modo nenhum todos" (1967:26). Alguns anos mais tarde, o mesmo autor, ao abordar de novo o assunto, interpreta de uma maneira curiosa a estratégia do aprendente:

"Podemos dizer que a^sua hipótese de partida é a seguin- te : a língua dois é igual â língua um até que haja ra- zão para eu pensar de modo diferente; 'razão', aqui, ê cometer um erro e ser corrigido. Então ele adiantará outra hipótese e experimentã-la-ã. Até ser corrigido ele estará convencido de ter descoberto a regra correc- ta" (1974:130).

do seu autor sobre o carácter não inibitório da interferência. Na verdade, nas suas tentativas de utilização da língua que anda a a- prender, o estudante chega a um ponto em que a sua competência lin guística deixa de lhe fornecer os dados de que necessita para dar continuidade ã comunicação encetada. Tal pode dever-se a esqueci- mento do material adequado anteriormente aprendido, por não ter ain da contactado com tal material, ou mesmo por preguiça mental. Como primeira hipótese de saída, ele pode recorrer aos elementos que, em situação paralela, utilizaria da sua própria língua. Outra hipóte- se pode ser a de se render definitivamente â dificuldade, interrom pendo a comunicação.

Quando a solução por que opta ê o recurso, por empréstimo, a lín- gua materna, o resultado obtido poderá ser um erro que impeça de todo a comunicação desejada com o interlocutor - a pior das hipóte ses -, uma produção parcialmente errada (e ipso facto parcialmente correcta) que permite ao destinatário da mensagem interpretar sem grandes dificuldades o que tencionavam transmitir-lhe, ou, então, uma produção totalmente correcta resultante da absoluta coincidên- cia das formas da LI e das formas da L2. No entanto, mesmo quando a comunicação falha, o empréstimo contraído junto da língua mater- na teve um único objectivo: o de facilitar essa comunicação. Nos ca sos em que ela é parcial ou totalmente conseguida, o carácter fa- cilitador dessa estratégia passa de intenção a realidade.

Admito que não se verifique inibição por parte do aprendente quan- do o recurso ã língua materna possa não constituir facilitação, mas não me parece que Corder tenha razão ao dizer que a ausência de fa cilitação não equivale a interferência (cf. 1978:6). Atente-se na passagem que se segue:

"É perfeitamente lógico propor-se que a natureza da LI possa abrir caminho mais rapidamente através do pro- grama interiorizado [do aluno] quando contem semelhan