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Um aspecto importante relacionado com a aquisição do léxico pelos alu nos, independentemente do número de palavras que lhes são apresenta-

das e dos métodos de ensino postos em prática, ê o que divide o voca-

bulário em dois grupos: vocabulário activo e vocabulário passivo. Por

vocabulário activo deve entender-se aquele que ocorre ao falante quan

do dele precisa para se exprimir oralmente ou por escrito. Vocabulá-

rio passivo é aquele com que o aprendente teve contacto, captou o seu

significado, é capaz de se lembrar desse significado ao ouvir ou 1er

a palavra empregada por outrem, mas ê incapaz de a utilizar esponta-

neamente quando surge a necessidade concreta de exprimir um conceito

de que tal palavra é veículo adequado. Por esta razão todo o esforço

desenvolvido pelo ensino vai no sentido de transformar cada vez mais

vocabulário passivo em activo. No entanto, à medida que este vai crés

cendo, mais se vai cavando o fosso entre os dois tipos de vocabulário, isto é, a percentagem de vocabulário activo em relação ao passivo vai -se reduzindo gradualmente ã medida que o aprendente vai enriquecendo

o seu léxico.11

0 que acaba de ser dito, mesmo com a relativa limitação do vocabulá- rio activo, seria um panorama encorajador se as palavras realmente do minadas pelos alunos, isto é, que eles são capazes de usar em novas situações, não estivessem sujeitas a uma variada gama de erros. A vas tidão do léxico e as tonalidades de sentido que muitas vezes diferen- ciam vocábulos, geralmente considerados como sinónimos, são factores que contribuem para o emprego indevido do vocabulário. E há ainda aa- crescentar a sempre activa interferência da língua materna dos alunos. Tudo isto faz com que a área de léxico apresente muitíssimas dificul- dades a quem ensina e a quem aprende uma língua estrangeira. Por isso não deve ser encarado como surpreendente o elevado numero de erros le xiçais que coligi.

Como procurei demonstrar anteriormente (pág. 57 ) , sob o ponto de vis ta da eficiência comunicativa, o erro lexical pode ter mais sérias im plicações do que o erro estrutural. A moderna abordagem comunicativa do ensino das línguas estrangeiras, ao chamar a atenção para a impor- tância do léxico e sua utilização apropriada, tem que contabilizar es te aspecto como um dos contributos positivos que veio trazer. Da aná- lise dos erros lexicais que se vai seguir será possível confirmar-se o que acaba de ser apontado.

A grande variedade de erros detectados tornou difícil encontrar-se um critério que permitisse a sua distribuição por grupos de uma maneira sistemática. Todavia, razões de ordem metodológica impunham que, para facilitação da análise, se fizesse uma tentativa de agrupamento dos muitos erros lexicais em categorias mais ou menos homogéneas. 0 resul tado não me satisfaz plenamente, e reconheço que se torna discutível, por exemplo, o recurso a dois critérios diferentes para organização de alguns dos grupos de erros: o apoio em critérios descritivos e em cri

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térios etiológicos. Ao proceder a esta tarefa, reconheci a completa razão que tinha Duskovã quando escreveu: "Os erros de léxico apresen- tam material muito menos homogéneo do que os erros de gramática" (p. 24).

3.2.4.1. Falsos_cognatos

"... logo que se faça uma selecção ao acaso de uma amostra de pala vras de uma língua estrangeira, descobre-se imediatamente que algu mas delas serão fáceis porque se assemelham as palavras da língua materna, enquanto outras apresentarão várias espécies de dificulda des por diferirem da língua materna em vários aspectos" (Lado, p. 6).

Esta afirmação que, logo após o seu surgimento, passou a constituir a base da chamada 'hipótese da análise contrastava', terá que ser encarada com muita prudência quando estão em causa palavras como as que nos vão ocupar nesta secção. Não há dúvidas de que vocábulos como manual, palace, evident, etc., por apresentarem, tanto na lín gua materna como na língua estrangeira, formas orais egráficas qua se coincidentes, se tornam de apreensão fácil para os estudantes portugueses de inglês uma vez que o significado das palavras refe ridas coincide também com o significado das portuguesas correspon- dentes. Palavras desta natureza são aquelas que os aprendentes não sõ compreendem com facilidade, quando ouvidas ou lidas, mas também aplicam com facilidade, embora as pequenas diferenças de pronuncia possam causar alguns problemas.

Mas há um considerável grupo de outros termos cuja semelhança com a LI, em vez de facilitar a aprendizagem, a complica muitas vezes. Esta afirmação não pretende, de modo nenhum, negar pertinênciaâa- firmação de Lado, no respeitante ao grau de facilidade e dificulda de. De facto, os alunos aprendem tão facilmente as palavras acima dadas como exemplo como aquelas outras que, tendo embora uma forma

física semelhante âs portuguesas, têm, porém, um significado dife- rente. Logo no momento da aprendizagem dessas palavras, há* o peri- go de os aprendentes não se aperceberem do verdadeiro significado, levados pelas semelhanças com a língua materna. Mesmo que isso não se verifique, na fase da utilização há sempre o risco de o signifi cado na língua materna se sobrepor ao da língua estrangeira, dando assim origem aos erros. Por isso a aquisição fácil de tais palavras pode ser enganadora e pode, também facilmente, dar origem a erros. Grande parte das palavras que constituem o grupo dos falsos cognatos, sobre que nos debruçamos, são bem conhecidas dos professores portu gueses que ensinam inglês nas nossas escolas, dado serem muito fre quentes os erros por elas causados. Mas o problema não afecta ape- nas os estudantes portugueses. A propósito de um estudo sobre os problemas de vocabulário que os estudantes argentinos de inglês re velavam, Macaulay salienta que "o aprendente duma língua estrangei ra tem, frequentemente, dificuldades com palavras com aspecto fami liar mas que actuam de modo diverso ao das palavras similares da sua própria língua" (p. 131). Numa nota de rodapé, o mesmo autor acrescenta que as palavras inglesas de origem latina são facilmen- te reconhecíveis na sua forma escrita, mas de reconhecimento difí- cil na sua forma oral. Tal conclusão não poderá ser posta em dúvi- da, mas aplicar-se-ã, naturalmente, aos casos em que há acentuado desvio na pronúncia de uma língua para a outra. Muitas palavras, po rém, assemelham-se, sob o ponto de vista fonológico nas duas lín- guas e, devido a isso, a afirmação de Macauly fica sujeita a algu- mas restrições.

No nosso corpus foram as palavras de origem latina as que fornece- ram mais elementos para a lista de erros com 'false friends'. Ac-

tual encontra-se entre elas:

(1) - a) * John Carre deals with an actual problem of our society [8a] b) * That first man was not even similiar to the actual man

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Em ambas as frases a palavra foi usada com o significado corrente