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Capítulo 6: Por um maior cuidado com o estudo das teorias da argumentação jurídica no

6.6 Conclusões do autor

Em primeiro lugar, ressalte-se a universalidade do fenômeno jurídico, desde as primeiras comunidades humanas existentes. Nele, no direito, a marca do caráter decisório sempre se fez relevante. Tal quadro é mais evidente ainda no direito dogmático moderno, em que complexas relações inter-subjetivas são regradas.

Depois é de se ressaltar que, especialmente em nível acadêmico, necessário se faz tentar apreender o fenômeno jurídico na sua totalidade. Evitar-se, pois, enfoques reducionistas, que captam apenas parcialmente a realidade do direito. Duas observações são oportunas, em face do posicionamento proposto. A primeira delas diz respeito à complexidade mesma da experiência jurídica, criando, assim, sérias dificuldades para a sua real compreensão. Tal constatação, entretanto, não autoriza o estudioso teórico do direito, e

mesmo os seus operadores práticos, a reduzi-lo a modelos simplificados e de frágil sustentação. O outro registro importante busca desfazer um certo equívoco, muito comum no âmbito da procura pela devida compreensão do direito. Enfatizar-se a necessidade de se apreender o direito na sua inteireza não remete o investigador a posturas ontologizantes. Superar reducionismos, então, não quer significar a busca desenfreada por uma essência do direito, todavia, muito mais, quer indicar o afastamento de raciocínios simplistas que, mesmo dizendo respeito a alguma parte do fenômeno jurídico, não o representa de modo mais completo. Decerto não se está em busca da verdade jurídica, mas de verdades relativas ao direito, a partir de raciocínios ao menos razoáveis.

Um terceiro ponto conclusivo refere-se à escolha de uma nova postura para uma adequada compreensão do direito. Assim, as tradicionais visões do fenômeno jurídico como norma, como fato e como valor não são desprezadas, mas passam a assumir um outro sentido, submetido à marca do contexto hermenêutico-argumentativo. Especialmente para o direito moderno, que possui nas normas o seu aparato dogmático, marcado pela imperiosa presença do processo decisório, é razoável sustentar que direito é, preponderantemente, argumentação. De fato, não se está a enfatizar aspectos relativos à teoria do discurso como a chave para se identificar “a” verdade jurídica. Trata-se, reafirme-se, de uma razoável adequação de uma postura epistemológica em face das peculiaridades historicamente determinadas do objeto de estudo.

A partir da assunção da perspectiva epistemológica acima referida, conclui-se que uma teoria geral da argumentação jurídica, independentemente de seus pontos de fragilidade, pode e deve ser buscada. Uma teoria que não se apresente tão somente como decorrência da filosofia da linguagem, mas que estabeleça como cerne da questão o próprio direito, ou seja, que a uma teoria jurídica, elemento primordial do estudo, se possa agregar aparatos lingüísticos e semióticos. Que se possa, também, a partir de uma visão retórica do direito,

introduzir no contexto de análise aspectos de uma racionalidade prática geral, enfatizando a discussão de temas relativos à moral, especialmente no tocante à idéia de justiça.

Do exposto até aqui se apresenta outra nota conclusiva: a Teoria Integradora de Neil MacCormick pode ser identificada como capaz de responder aos anseios dos que procuram uma devida compreensão hermenêutico-argumentativa acerca do direito. Ela se manifesta como uma teoria que tem como ponto de partida o próprio fenômeno jurídico, acrescentando outros elementos extra-jurídicos ao seu modelo. Não obstante apresentar certos nós críticos, ela é capaz de assumir um caráter descritivo para a adequada compreensão de decisões judiciais, e assumir, também, um caráter prescritivo para o mesmo fim. Em síntese, é possível dizer que a observância dos pontos centrais da teoria de Neil MacCormick permite o encaminhamento para decisões judiciais mais razoáveis, sem pretensão alguma de ser “a única decisão correta”.

Em face do forte acento do common law na construção teórica de MacCormick, um ponto crítico de peso seria a suposta inadequação da teoria para os modelos jurídicos codificados. Pode-se concluir, entretanto, que em buscando se apresentar como uma teoria geral da argumentação jurídica, a concepção maccormickiana aplica-se, com insignificantes ajustes, aos modelos codificados de direito, como se demonstrou com a desconstrução de uma decisão judicial brasileira, feita no capítulo anterior.

Por fim, e este é um tema transverso ao eixo central da pesquisa empreendida, há de se atentar para uma melhor formação do profissional de direito. É preciso pô-lo em contato com diferentes visões do universo jurídico, mormente as posturas hermenêutico-argumentativas. Com isso não se quer afirmar que aperfeiçoamentos na formação do operador jurídico tenham o dom de solucionar muitas das crises inerentes, direta ou indiretamente, ao próprio direito. É plausível afirmar, entretanto, que uma melhor compreensão do fenômeno jurídico, mais razoável, mais alargada, ajudará o profissional a assumir posturas em melhor consonância

com tantas demandas relativas ao direito, como as de justiça social, segurança das relações, fortalecimento de princípios e, por via de conseqüência, de valores, atenuação de tensões nas sociedades, etc. E tudo isso ganha corpo quando o ambiente em que se manifesta o fenômeno jurídico apresenta-se pleno de distorções de outras naturezas, como todas aquelas, sobejamente conhecidas, que fazem parte do dia-a-dia dos países cultural e economicamente periféricos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS