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3 COMPAIXÃO E PROTEÇÃO: a argumentação sensibilizadora do vídeo

3.7 CONFIANÇA, BONDADE, COMPAIXÃO E PROTEÇÃO: a incitação do pathos

Despertar as paixões nos ouvintes: um dos fortes artifícios da retórica. Reboul (2004, p. 48) diz que “o patos é o conjunto de emoções, paixões e sentimentos que o orador deve suscitar no auditório com seu discurso”. Alegria, ódio, amizade, cólera, piedade, salvação, proteção, ternura são elementos que condicionam o auditório no instante em que acontece o ato discursivo entre orador e auditório. Isso permite a adaptação do discurso do orador ao auditório presente no acordo.

Meyer (2007, p. 36) explica essa questão dizendo que a “emoção, como a paixão, transforma a pergunta que é feita em resposta e, consequentemente, a colore de múltiplas tonalidades: estamos falando de temor, de esperança, de ódio, de amor, de desespero e de desejo, e de muitas outras paixões ainda”. As paixões alteram os julgamentos do auditório e são acompanhados de tristeza, prazer, cólera, piedade, temor, entre outras paixões. O discurso populista de Lula, proferido às vésperas do Natal de 2010, desperta sentimentos construídos por ele próprio. O sofrimento, a dor, o medo e a esperança são as bandeiras que tremulam durante sua vida. No seu discurso de despedida, esses fatos aparecem marcados no ethos do presidente que, dirigindo-se ao auditório, estimula as paixões.

O Brasil destaca-se pelos mitos criados após as suas respectivas mortes, conforme já relatamos em discussões anteriores deste trabalho. Após a morte, surgem as benevolências dos juízos, abstrai-se todo malefício provocado pelo morto. No meio político, a busca por heróis que se identifiquem com o auditório é sempre constante. Esses oradores, encarnados com seu discurso e ganhando a pitada crucial do discurso publicitário, produzem um efeito significativo na vida e na forma como o auditório pode interpretar tais argumentações.

Lula se sobressai nesse sentido, é um herói vivo e atuante, uma imagem criada a partir da conceituação das figuras messiânicas e que, em seus discursos, remete às emoções para persuadir seu auditório. O discurso Despedida à Nação aponta diversas vezes para o lado emocional. Para isso, os seus discursos incitam o pathos ou reforçam o ethos para conseguir a adesão do auditório. A história brasileira reconhece lideranças políticas que estabeleceram uma comunicação direta com os anseios das massas populares, projetando-se como “salvadores da pátria”.

Logo no início da república no Brasil, em um povoado do sertão do nordeste, apareceu um homem franzino, barbas longas, corpo frágil e uma boa garganta. Dono de uma retórica movida pelas paixões religiosas, um quase “Messias”, um quase profeta, um projeto salvador, um beato chamado Antônio Conselheiro. Para muitos estudiosos, um fanático que

fazia duras críticas à República acusando-a de representar o anticristo. Além disso, seu discurso carregado de significado religioso despertava as paixões dos seus seguidores: a luta e a defesa da terra; a esperança e o temor a Deus. O sertanejo, por sua vez, que pouco ou nada sonhava devido às amarras coronelistas da época, sentia, por meio do discurso de “Conselheiro”, a presença de Deus ao seu lado, amparando-o na luta por moradia, alimento e paz.

A eficiência do discurso levou para o Arraial de Bom Jesus do Belo Monte35 milhares de pessoas dispostas a tudo para proteger “Canudos” e o bom “Conselheiro”. Líder para todas as horas, não hesitou em colocar seu povo frente a um massacre produzido pelas forças militares governistas entre os anos de 1895 e 1896. A paixão despertada por Conselheiro fora tão forte que, ao final dos combates, quatro pessoas resistiram bravamente, tentando impedir o massacre da vila temente a Deus.

Canudos nunca se rendeu, resistiu até a morte, pois, como diria Euclides da Cunha, em sua obra Os Sertões, o “sertanejo é antes de tudo um forte”. O fato de resistir a todas as intempéries da vida faz do sertanejo um vencedor. O histórico de colonização, exploração, escravidão e abandono produziram um homem forte capaz de resistir a todas as mazelas sociais e vencer com heroísmo. O arraial de Canudos é um dos exemplos marcantes desta luta, porém, a história de lutas do povo nordestino é anterior. Um passado marcado pela chegada dos trabalhadores escravos que, depositados nas lavouras canavieiras e outras atividades, tornaram-se “as mãos e os pés dos senhores”. Quando veio a decadência da zona canavieira no século XVII e XVIII, a região praticamente ficou entregue à própria sorte. Um misto de sombra e escuridão apontava para os anos que viriam. Após a Guerra de Canudos, a história não foi diferente, o quadro de abandono persistiu, assim como a força do sertanejo. A saga do homem que deixa a sua terra e busca sobrevivência nos vários cantos do país é um exemplo.

Antônio Conselheiro, com certeza, não é o primeiro nem o último a utilizar-se da “retórica das paixões”. Outro exemplo clássico está na região do Contestado36, onde viveu o monge José Maria. Este liderou um grupo de sertanejos pobres que, também alijados dos

35

Nome dado ao povoado formado por Antônio Conselheiro e seus seguidores no Sertão nordestino.

36 O nome Contestado deve-se ao fato do movimento ter acontecido numa área disputada entre os estados do

Paraná e de Santa Catarina. Essa disputa gerou inúmeros episódios de agressões mútuas, pois o Paraná acabou avançando e administrando vilas numa região já reinvidicada por Santa Catarina (CALONGA, 2006, p. 54).

direitos e abandonados à própria sorte pelo governo federal, encontrou nas palavras do monge algo que os impulsionava à luta pela terra e pela glória no Reino dos céus.

Os Monges apresentavam uma esperança de vida nova para o povo. Encarnavam o protesto e os anseios dos caboclos, formando uma contracultura, pois não representavam as instituições brasileiras. A procura dos Monges por essas pessoas seria uma forma de revolta, um protesto contra aqueles que sempre os exploraram. A luta do povo e a crença neles significavam a construção de uma nova sociedade, baseada na justiça social, sem exploradores e sem explorados (CALONGA, 2006, p. 53).

A tese da salvação ampara o homem pobre na luta até a morte, por meio do qual encontraria a verdadeira redenção. Por que não falar também do capitão Luiz Carlos Prestes37, que se intitulou o “Cavaleiro da Esperança”? A Coluna José Miguel-Prestes percorreu o Brasil de sul a norte durante os anos de 1924-1927 com o discurso contrário aos políticos da “República do Café com Leite”38. O capitão Prestes julgava-se, juntamente com seus tenentes seguidores, os únicos capazes de administrar o país com moralidade e esperança. “Tudo pelo povo, mas sem o povo”.

Com Getúlio Vargas a incitação do pathos apresenta-se definitivamente. A imagem construída pelo também ex-presidente, durante seu período de governo, demonstra a preocupação com um discurso afinado com as massas operárias urbanas. Em 1954, frente a pressões políticas, suicidou-se e despediu-se do povo em uma carta-testamento. Essa carta, publicada em 25 de agosto de 1954 pelo Jornal do Brasil, expõe a preocupação do “Pai dos Pobres” (como Vargas era denominado pelo seu Departamento de Propaganda) com a continuidade da vida das massas. Nela, Getúlio Vargas justifica seu suicídio como forma de libertar o povo brasileiro da escravidão.

37 Luiz Carlos Prestes, cognominado Cavaleiro da Esperança, nasceu em 1898, em Porto Alegre (RS). Em 1916,

ingressou no Exército e tornou-se aluno da Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro, formando-se bacharel em ciências físicas e matemáticas em 1920, ano em que foi promovido ao posto de segundo-tenente e, em 1922, a capitão. Em 1924, licenciou-se do Exército, passando a trabalhar como engenheiro na instalação de energia elétrica em cidades gaúchas. Nesse ano, esteve envolvido nos preparativos do levante contra o governo de Artur Bernardes. Liderou a coluna que reuniu revoltosos no Rio Grande do Sul contra as tropas legalistas, formando o núcleo do que se denominaria, mais tarde, Coluna Prestes, e que atravessaria o país entre os anos de 1924 e 1926, dissolvendo-se na Bolívia. Em 1927, Luiz Carlos Prestes recusou o convite para ingressar no Partido Comunista Brasileiro (PCB), época em que tomou contato com o movimento comunista. Em 1929, transferiu-se da Bolívia para a Argentina, quando começou a se dedicar ao estudo do marxismo (Arquivo Nacional-Brasil).

38 A "Política do café com leite" consistia numa aliança entre os dois Estados mais poderosos da federação: São

Paulo (centro da economia cafeeira) e Minas Gerais (maior contingente eleitoral do país). O período estendeu-se de 1894 a 1930.

O perfil paternalista e sentimental, encarnado de forma explícita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao final do seu mandato, representa a imagem edificada de um protetor dos trabalhadores. Assim temos um líder sensível, alguém que “vive no coração do povo”. A história da vida pessoal de Lula e sua militância política construiu um líder capaz de tocar as emoções e se colocar nos “braços do povo”.

O apelo às paixões, segundo Aristóteles, aparece acompanhado de dor ou prazer, provocando transformação no espírito do ouvinte; uma lição indispensável à persuasão e que é fruto da sensibilidade dos eloquentes personagens para os valores do outro. Em

Despedida à Nação, o companheirismo e a parceria de Lula com seu “povo” evidenciam um

líder que funda sua tese de “salvação”, quase religiosamente. Confiança, bondade, compaixão, proteção e até mesmo religiosidade são elementos explorados visando ao convencimento por meio de um discurso político de forte apelo emocional e populista, contribuindo para a incitação do pathos no auditório.

Demonstramos, na organização abaixo, como os elementos expostos acima aparecem no discurso de Lula:

– Trechos que despertam confiança

Minhas amigas e meus amigos, hoje, cada brasileiro – e brasileira – acredita

mais no seu país e em si mesmo.

E quando uma pessoa do povo consegue vencer as dificuldades

gigantescas que a vida lhe impõe, nada mais consegue aniquilar o seu sonho, nem sua capacidade de superar desafios.

• E quando um país como o Brasil, cuja maior força está na alma e na energia

popular, passa a acreditar em si mesmo, nada, absolutamente nada, detém sua marcha inexorável

para a vitória.

• Também estamos fazendo os maiores investimentos mundiais no setor de

petróleo, principalmente a partir da descoberta do pré-sal, que é o nosso passaporte para o futuro. Ele vai gerar milhões de empregos e uma riqueza que será, obrigatoriamente, aplicada no combate à pobreza, na saúde, na educação, na cultura, na ciência e tecnologia e na defesa do meio ambiente.

• A minha maior felicidade é saber que vamos ampliar todas estas conquistas.

Construímos, juntos, um projeto de nação baseado no desenvolvimento com inclusão social, na democracia com liberdade plena e na inserção soberana do Brasil no mundo. Fortalecemos a economia sem enfraquecer o social; ampliamos a participação popular sem

ferir as instituições; diminuímos a desigualdade sem gerar conflito de classes; e imprimimos uma nova dinâmica política, econômica e social ao país, sem comprometer uma sequer das liberdades democráticas.

Promovemos a maior ascensão social de todos os tempos, retirando 28

milhões de pessoas da linha da pobreza e fazendo com que 36 milhões entrassem na classe média.

- Trechos que despertam compaixão

• Ao receber ajuda e apoio, o nosso povo deu uma resposta dinâmica e

produtiva, trabalhando com entusiasmo e consumindo com responsabilidade, ajudando a formar

uma das economias mais sólidas e um dos mercados internos mais vigorosos do mundo.

E o amor de vocês foi a minha grande energia e meu principal alimento.

Agradeço a vocês por terem me ensinado muitas lições. E por terem me fortalecido nas horas

difíceis e ampliado minha alegria nas horas alegres.

Dentro de poucos dias, deixo a Presidência da República. Foram oito anos de

luta, desafios e muitas conquistas. Mas, acima de tudo, de amor e de esperança no Brasil e no povo

brasileiro.

- Trechos que despertam proteção

• Onde houver um brasileiro sofrendo, quero estar espiritualmente ao seu lado.

Onde houver uma mãe e um pai com desesperança, quero que minha lembrança lhes traga um pouco de conforto. Onde houver um jovem que queira sonhar grande, peço-lhe que olhe a minha história e veja que na vida nada é impossível.

Vivi no coração do povo e nele quero continuar vivendo até o último dos

meus dias. Mais do que nunca, sou um homem de uma só causa e esta causa se chama Brasil!

Como dito anteriormente, Lula é uma das lideranças mais proeminentes do século XXI. Ao exercer os mandatos presidenciais, usufruiu do marketing administrativo para solidificar ainda mais sua posição dianteira frente aos demais políticos brasileiros. Ao “celebrar” a ideia do salvador da Pátria no discurso de despedida, ele instiga as emoções do auditório. Lula soube incorporar a imagem positiva frente às emoções e aos sentimentos do

povo brasileiro, principalmente nas camadas menos favorecidas. Conseguiu, através das paixões despertadas, fazer com que o povo confiasse quase cegamente em seu discurso. A impressão é de que nada lhe tiraria a aura de salvador do povo. Souza (2012), analisando trechos das obras de Charaudeau39, expressa:

Quando o alvo do discurso político-midiático são as camadas da sociedade menos favorecidas economicamente e intelectualmente, é nítida a presença do pathos, o que torna o discurso repleto de afeto e paixão, trazendo temas relacionados ao sentimento do indivíduo e, assim, o persuade para que ele adira a seu ponto de vista. Pode-se dizer que esse tipo de discurso é voltado à massa e a seus anseios. Há a utilização de temas voltados à religião, à família, ao cotidiano dessa massa, porém com uma linguagem de fácil entendimento para ela, sem tecnicismos e preciosismos; nas campanhas eleitorais há a presença de depoimentos de pessoas “gente como a gente” a respeito do político em questão, atribuindo a ele uma imagem de alguém que não se esquece da população mais pobre (SOUZA, 2012, p. 176).

O sentimentalismo característico do discurso de Lula no vídeo Despedida à

Nação é a tônica de seu último pronunciamento enquanto governante para o povo brasileiro.

As emoções despertadas pelo discurso do presidente Lula em dezembro de 2010 produzem efeitos de prazer no auditório. Quando o orador destaca que, “quando uma pessoa do povo

consegue vencer as dificuldades gigantescas que a vida lhe impõe, nada mais consegue aniquilar o seu sonho”, isso é como dizer: acredite sempre, veja o exemplo do presidente, um

torneiro mecânico que virou presidente.

A confiança despertada por esse trecho do discurso confirma-se no trecho seguinte: “quando um país como o Brasil, cuja maior força está na alma e na energia

popular, passa a acreditar em si mesmo, nada, absolutamente nada, detém sua marcha inexorável para a vitória”. A paixão pela confiança está diretamente relacionada com a

vitória, o sucesso, a realização. O fato de Lula se colocar como vindo das “profundezas da

alma popular” suscita sentimentos de que a vitória acontecerá. Assim como Lula, o povo

pobre deve lutar, ter coragem e vontade de trabalhar para superar as dificuldades. Ter um líder protetor que exala confiança é tudo que o auditório de Lula deseja. Nesse caso, a confiança sugere que mesmo em posição desprestigiada, ou mesmo à beira do caos, o povo pobre escapará das intempéries da vida acreditando sempre. Aristóteles (2005, p. 176) entende que aquilo que está próximo da nossa dor e do medo pode nos tornar salvação.

39 Professor da Universidade de Paris XIII, diretor-fundador do Centro de Análise do Discurso (CAD), Patrick

O povo é levado a crer que nos anos vindouros o crescimento econômico e a melhoria na qualidade de vida serão ainda mais promissores. Segundo o orador, as sementes foram lançadas e, já em seu mandato, a colheita teria sido farta. Para os próximos anos, as conquistas serão ainda maiores, como destaca no trecho “a minha maior felicidade é saber

que vamos ampliar todas estas conquistas”. Lula diz que os investimentos realizados nos

mais diferentes setores irão garantir a prosperidade do país. O povo brasileiro pode esperar que este será, como destaca o próprio Lula, “o nosso passaporte para o futuro”. A incitação da confiança materializa-se no discurso com a promessa descrita no trecho onde menciona que todo o investimento realizado “vai gerar milhões de empregos e uma riqueza que será,

obrigatoriamente, aplicada no combate à pobreza, na saúde, na educação, na cultura, na ciência e tecnologia e na defesa do meio ambiente”.

De acordo com os trechos que apresentamos acima, outro sentimento despertado pelo discurso é a bondade. Lula age como se estivesse atendido a todas as pretensões do povo brasileiro. Mostrando-se como um prestador de serviços, aquele que encontrou a necessidade alheia. Apresentando-se como alguém desinteressado na própria sorte, mas preocupado com a sorte dos que o rodeiam. O orador provoca no auditório a paixão pela bondade associada ao paternalismo, artificio geralmente utilizado pelas figuras populistas. Como observamos no trecho 10 que aponta que tudo foi feito para “um projeto de

nação baseado no desenvolvimento com inclusão social, na democracia com liberdade plena e na inserção soberana do Brasil no mundo”. Fortalecer a economia baseado nos programas

sociais. É como se Lula tivesse apenas a obrigação de cumprir com os trâmites que solidificam a economia, mas iria prestar um grande favor a todos: promover a inclusão social. A população sente-se amparada e grata ao presidente que não esqueceu suas origens e caminhou junto ao seu povo.

Ao incitar a paixão pela bondade, Lula vale-se do discurso populista, onde expõe seus projetos e realizações como se nenhum outro pudesse fazê-lo. Age como se tirasse do bolso todos os quinhões necessários para o progresso e o desenvolvimento das pessoas, como aparece no trecho “promovemos a maior ascensão social de todos os tempos, retirando

28 milhões de pessoas da linha da pobreza e fazendo com que 36 milhões entrassem na classe média”. Esse tipo de ação não proporciona direitos, apenas pequenos benefícios que

despertam nas massas populares a emoção de que a vitória foi alcançada. Os políticos brasileiros, principalmente Lula, sabem que despertar as paixões nas massas é mais

importante do que apresentar um projeto de governo. Para tanto, utiliza o seu arsenal de dramaturgia e textualidade para conquistar o imaginário social.

Em outro trecho do discurso, temos também a emoção despertada da compaixão. Considerando-se superior aos demais políticos da história do Brasil, Lula diz considerar a desventura do povo brasileiro eexcita a piedade. Quando indica que, “ao receber

ajuda e apoio, o nosso povo deu uma resposta dinâmica”, o orador desperta o sentimento

daqueles que estavam abandonados e que necessitavam de alguém para ampará-los nos obstáculos da vida. Aparece, aqui, a piedade do presidente que soube entender as mazelas de seu povo e o “ajudou”. O termo ajudar descaracteriza uma ação governamental baseada no direito constitucional, pois o homem deve sentir-se cidadão e não alguém que recebe “apoio” e “ajuda”. O orador exalta sua liderança dizendo ser um homem que desprezou seus desejos e sonhos por um sonho maior: o povo brasileiro. A população é estimulada a acreditar em um homem que despreza a própria vida em favor de uma vida para todos os brasileiros.

O orador não só sustenta que estará ao lado de todos os brasileiros, como também se apresenta como um amparo para os momentos de dor e desesperança. Assim, o orador incita a paixão pela proteção, o que encontramos em um dos momentos mais marcantes do discurso, onde Lula diz: “Minha felicidade estará sempre ligada à felicidade do

meu povo. Onde houver um brasileiro sofrendo, quero estar espiritualmente ao seu lado. Onde houver uma mãe e um pai com desesperança, quero que minha lembrança lhes traga um pouco de conforto. Onde houver um jovem que queira sonhar grande, peço-lhe que olhe a minha história e veja que na vida nada é impossível”.

A felicidade de Lula está condicionada à felicidade de todos os brasileiros, portanto, sua força espiritual é oferecida como horizonte de alegrias. Lula oferece sua história como inspiração de conforto para pais e mães sem esperança, além de alento para jovens que desejam sonhar grande, pois é preciso acreditar, e o exemplo maior é ele próprio: o migrante nordestino que virou presidente.

Lula destaca que nos períodos como mandatário da república semeou sonho e