• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III – Análise de Resultados do Plano de Investigação de Valores

8. Confiança e Decisões Morais

Uma das áreas mais interessantes de comparação dos valores nos dez anos em análise são os fatores que os indivíduos consideram mais importantes e com maior influência quando têm de tomar uma decisão moral.

Em 1999 liderava a “consciência”, seguida dos “pais”, da “lei e do direito”, da “experiência”, “amigos” e, já com relevância mais baixa, um “livro sagrado”, os “responsáveis religiosos”, a “ciência” e a “comunicação social”.

121 Em 2009 mantém-se a “consciência” a liderar e os “pais” em segundo lugar, mas a “experiência” toma o lugar da “lei e do direito”, apesar de que este fator surge logo a seguir.

Um dos aspetos mais relevantes de observar é o significativo acréscimo da importância da “ciência” que estava no fundo da tabela em 1999 e que passa para um grupo já de destaque em 2009. De referir também a subida de uma posição da “experiência”, que poderá refletir a relação entre o conhecimento tácito proveniente da experiência e da importância dos contextos, e o conhecimento explícito e estruturado associado à lei e ao direito.

Aplicando análises mais aprofundadas, nomeadamente de componentes principais, verifica-se que um fator correlaciona “os pais, os amigos, o livro sagrado, os responsáveis religiosos e a comunicação social” e um fator que agrega a “consciência, a experiência, a lei/ direito e a ciência”. Ao segundo iremos chamar de Fator Conhecimento (Fator K) já que se relaciona com dimensões de conhecimento tácito (experiência/consciência) e explícito (ciência/lei), sendo aquela dimensão mais intangível do conhecimento a prevalecente. Ao primeiro chamaremos de Fator Social, já que aponta para um conjunto de grupos sociais como a família, amigos, igreja e media.

122

Rotated Component Matrixa

Component

1 2

comunicação social ,626 ,196 livro sagrado (bíblia/outro) ,832 ,025 responsáveis religiosos ,848 -,028 pais ,602 ,327 amigos ,529 ,364 experiência ,064 ,687 ciência ,272 ,503 a lei e o direito ,166 ,537 consciência -,003 ,672

Extraction Method: Principal Component Analysis. Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization. a. Rotation converged in 3 iterations.

Figura 60 – Matriz de componentes principais nas decisões morais, 2009

As variáveis que compõem o fator K apresentam uma fraca permeabilidade a condições de caracterização dos sujeitos, sendo que apenas a idade se apresenta como estatisticamente significativa em todas elas. Nem mesmo variáveis comumente associadas ao “conhecimento” como o grau de instrução dos indivíduos, apresentam qualquer influência significativa. A única exceção a reter, no entanto, é que a experiência é mais relevante para as mulheres que para os homens (com uma diferença de 10%).

123 Já no fator de natureza mais social, há uma muito maior diversidade e profundidade de influências que produzem variações estatisticamente significativas nesta nova variável composta. Ou seja, o sexo, idade, grau de instrução, rendimento, estado civil e posição perante a religião fazem alterar significativamente as posições dos indivíduos face à influência que estas dimensões têm nas suas decisões morais. Entre estas, destacamos o grau de instrução, no qual se observa uma tendência homogénea de decréscimo de importância face ao papel dos pais, amigos, responsáveis religiosos, livros sagrados e comunicação social.

Figura 62 - Importância do fator social, por nível de instrução, 2009

No sentido de aprofundar o entendimento sobre o papel das instituições sociais na transmissão, conservação e rutura face aos valores, verifica-se em 2009 que, entre as instituições em que a pessoa deposita mais confiança, a família – tal como nos objetivos essenciais de vida – mais uma vez prevalece como o “porto seguro”. Interessante também é o forte nível de confiança que se observa nas instituições escolares e a crescente importância que tem aqui a confiança nos peritos e investigadores – coincidente com a importância crescente da ciência quando se tem de tomar decisões morais, como visto acima. Mantém-se, comparativamente a outros estudos3, uma fraca confiança nas instituições políticas, sejam elas partidárias ou governativas.

124

Figura 63 – Hierarquia de instituições de confiança, 2009

Ao aplicarmos a este conjunto de categorias de variáveis uma análise de homogeneidade de variâncias (HOMALS), verificamos que os indivíduos que confiam muito nas instituições políticas, governativas e partidárias – sendo poucos – compõem um perfil muito distinto e com pouca correlação com os restantes. Num mesmo sentido de discriminação das variâncias, encontramos um perfil de indivíduos que não confia na Escola nem nos Peritos. E no mesmo sentido de desconfiança, encontramos um grupo que tende a associar-se, entre os que não confiam na Igreja, na Polícia e na ONU, assim como aqueles que não confiam nas instituições políticas e judiciais, como o Governo, Partidos, Municípios e Tribunais. Numa posição intermédia entre estes dois últimos grupos encontramos os indivíduos que não confiam nos Media.

Entre um grupo bastante homogéneo que apresenta elevados níveis de confiança nas instituições sociais não políticas (excluindo portanto Governo, Partidos e Município), é interessante verificar que a elevada confiança na Família medeia a proximidade entre dois grupos com posições muito antagónicas.

125 Quando cruzadas estas observações com as principais variáveis caracterizadoras da população, verifica-se que a confiança na Comunicação Social revela muitas variáveis independentes significativas e que, pelo contrário, a descrença nos Partidos é generalizada e não encontra variações. Numa perspetiva de género, observa-se que as mulheres tendem a confiar mais na Comunicação Social e nas Igrejas. E que, apesar de crentes, os que não estão associados a uma denominação religiosa específica desconfiam tanto da instituição Igreja como os ateus. Já os crentes com religião têm uma posição diametralmente oposta, como seria expectável.

Os peritos e investigadores tendem a ser ligeiramente mais valorizados quanto maior o nível de instrução, bastante mais quando equacionado pelos escalões mais elevados de rendimento e tendencialmente mais importantes quanto mais jovens os inquiridos.

Por fim, apontando mais uma vez no mesmo sentido de universalidade de algumas posições éticas, nenhuma variável caracterizadora da população se apresenta suficientemente motriz para a confiança na escola ou na família, sendo que no último caso é bastante demarcado.

Aferindo, de outra perspetiva, este indicador de confiança, as pessoas tendem a estar indecisas sobre se consideram que “a maioria das pessoas tentariam

Figura 64 - Análise de homogeneidade de variâncias das instituições de confiança, 2009

126 aproveitar-se de si se tivessem oportunidade” ou se pelo contrário “seriam justas”. Mas nesta indecisão são tendencialmente confiantes nas boas intenções do outro, nomeadamente pelo contributo das mulheres que apresentam uma expectativa mais positiva que os homens.

Figura 65 – Indicador de confiança social, 2009

9. Bem-Estar e Felicidade como Efeito da Vivência de