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Sexualidade Enquanto Reflexo da Estabilidade de Valores

Capítulo III – Análise de Resultados do Plano de Investigação de Valores

4. Sexualidade Enquanto Reflexo da Estabilidade de Valores

Os indicadores relativos à conjugalidade e sexualidade são, tipicamente, muito relevantes do ponto de vista ético, na medida que as flutuações das perceções a este respeito são um reflexo de mudanças de mentalidades, por vezes associadas a gerações diferentes.

No entanto, verificamos mais uma vez na comparação uma linearidade entre as observações dos dois anos em análise, o que atesta a validade metodológica dessa mesma comparação. Verifica-se, igualmente nos dois períodos, uma forte reprovação de comportamentos ditos “liberais” que se referem, por um lado, a relações sexuais com vários parceiros e a relações sexuais extraconjugais.

Figura 27 - Indicadores sobre relações sexuais, por ano

Em ambos os casos verifica-se que o posicionamento religioso dos indivíduos tem forte influência da posição ética que estes tomam face ao tema. Talvez mais evidente do que a influência da religião – porque os que se consideram “indiferentes” à religião reprovam estes comportamentos tanto quanto os crentes religiosos e dos crentes sem religião, situando-se entre eles com percentagens próximas – é a influência da ausência de crença.

Ainda assim, a fidelidade na relação conjugal parece ser um aspeto muito valorizado, quando mais de metade dos ateus (58%) e dois terços dos agnósticos (66%) reprovam o desvio desse comportamento. Já o facto dos indivíduos crentes serem praticantes ou não praticantes, não altera em nada as posições éticas dos indivíduos face à fidelidade conjugal.

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Figura 28 - Indicador sobre relações sexuais extraconjugais, por crença, 2009

Tal não é tanto o caso da avaliação sobre “ter relações sexuais com vários parceiros”, independentemente da relação conjugal, quando se verifica que há uma relação significativa que induz mais 15% dos crentes praticantes do que os não praticantes a considerarem este comportamento incorreto, assim como mais do triplo dos últimos que o consideram inclusive correto, face aos primeiros.

Por outro lado, fica demonstrado que – não a ausência de crença, mas – o distanciamento cognitivo da crença (que os indiferentes não têm como os agnósticos ou ateus) retira muita importância a este comportamento sexual, sendo que apenas cerca de 30% dos ateus ou agnósticos consideram-no “mal”, quando os outros grupos representam o dobro ou mais dessa reprovação.

Figura 29 - Indicador “Ter relações sexuais com vários parceiros”, por crença, 2009

Já os níveis de rendimento dos indivíduos apresentam uma significativa influência nas respostas, mais à questão sobre múltiplos parceiros sexuais, mas ainda relevante sobre as relações extraconjugais.

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Figura 30 - Indicadores sobre relações sexuais, por rendimento do agregado, 2009

Há que ter em consideração que a posição de “nem bem nem mal”, nestes casos de avaliações morais, tenderá mais à aprovação que à reprovação. Esse facto é também relevante quando se verifica alguma influência do grau de instrução dos indivíduos, em que tende a crescer até aos níveis de ensino superior. Os que acham taxativamente “mal” ter relações extra conjugais variam entre os 88% com as qualificações mais baixas, e os 70% entre os indivíduos com frequência universitária ou bacharelato, sendo menos dos que aqueles com ensino superior concluído.

Já quanto a ter vários parceiros sexuais, os que acham “mal” diminuem proporcionalmente ao aumento do nível de instrução, revelando-se neste caso uma relação estatisticamente muito significativa.

95 Não sendo o estado civil uma variável independente estatisticamente significativa neste caso das relações extraconjugais é, no entanto, interessante referir que são os indivíduos casados apenas pelo civil os mais permeáveis a uma posição favorável a relações extraconjugais. Já os indivíduos em união de facto apresentam posições próximas dos casados pela igreja (85% acham “mal”). Para os mesmos indivíduos, em união de facto, ter múltiplos parceiros sexuais já é um assunto diferente, e são eles os mais permissivos nesta avaliação (apenas 50% acham “mal”). Mesmo entre os casados pela igreja verifica-se um decréscimo entre os que reprovam, ficando ainda próximo dos 78%, mas sendo ultrapassados pelos indivíduos separados e viúvos.

Pela primeira vez entre as respostas analisadas até este ponto, estas referentes à dimensão da sexualidade são as primeiras que apresentam diferenças estatísticas significativas entre homens e mulheres – sete vezes (0,8% - 5,7%) mais homens aprovam relações extraconjugais que as mulheres e o quadruplo (1,5% – 6,7%) dos homens acham “bem” ter vários parceiros sexuais; os que reprovam esses comportamentos sexuais são, respetivamente, 15% e 16% menos que as mulheres; e perto do dobro dos inquiridos do sexo masculino consideram “nem bem nem mal” ter relações extraconjugais e mais um terço deles quanto a ter múltiplos parceiros ao longo da vida. Neste sentido, e apesar de serem ambas as variáveis fortemente influenciadas pelo sexo dos inquiridos, na realidade as diferenças estatísticas são maiores perante a avaliação das relações extraconjugais.

Por outro lado, a idade dos respondentes não se apresenta suficientemente motriz como variável independente da avaliação das relações extraconjugais, mas não deixa de ser interessante mencionar que os indivíduos até aos 25 anos tendem a reprovar este comportamento, aumentando depois os que não acham “nem bem nem mal” entre os 25 e os 54 anos, voltando a recuperar a curva nos maiores de 55 anos de idade.

Esta tendência é contrariada na avaliação sobre os múltiplos parceiros sexuais, sendo neste caso a idade um fator de grande motricidade. De facto, sendo significativamente menos em termos absolutos, os indivíduos até aos 34 anos tendem a considerar progressivamente menos reprovador este comportamento,

96 ao passo que a partir dos 35 anos de idade a curva inverte-se significativamente para uma reprovação acentuada e progressiva ao longo das faixas etárias seguintes, sendo no caso da população mais idosa, ainda mais reprovável do que as relações extraconjugais.

Figura 32 - Indicadores sobre relações sexuais, por idade, 2009

Noutras questões éticas que foram também avaliadas, também relacionadas com este campo da sexualidade, nos comportamentos nudistas nas praias e no visionamento de filmes e livros pornográficos, verificamos mais uma vez uma manutenção da posição tendencialmente reprovadora, apesar de que aqui, e ao contrário da questão das relações extraconjugais ou com vários parceiros, a resposta é mais evasiva para o meio da escala, (nem bem, nem mal) apesar de que é claramente superior o volume dos que acham mal em relação aos que acham bem.

Figura 33 – Indicadores de sexualidade, por ano

E mais ainda que nos indicadores da dimensão da sexualidade acima analisados, estes apresentam-se fortemente influenciados por todas as

97 variáveis independentes referidas, como o sexo, idade, grau de instrução, crenças religiosas e, em menos intensidade, nível de rendimento do agregado familiar.

No entanto, no caso da variável independente Sexo, a sua relevância é apenas realçada em relação aos inquiridos que aprovam claramente estas duas práticas, sendo cerca do dobro os homens mais favoráveis que as mulheres. Já entre os que consideram “mal” ou “nem bem nem mal” não se verificam diferenças de género significativas.

Quanto ao estado civil, de referir que sobretudo os viúvos, seguido pelos casados pela igreja afirmam mais a sua reprovação face a estas práticas e em proporções semelhantes (cerca de 40% e 60%, respetivamente por cada um dos grupos de inquiridos).

Verifica-se ainda uma correlação negativa acentuada entre a reprovação desses comportamentos e o grau de instrução dos indivíduos, assim como a posição religiosa dos indivíduos realça em particular os posicionamentos nos extremos da escala, como se pode verificar no extremo da reprovação, no gráfico abaixo.

Figura 34 - Indicadores de sexualidade, por nível de instrução e crença, 2009